24/09/2012

Enquanto o iPhone chega à tecnologia 4G, mal conhecemos a 3G


A grande novidade no aguardado lançamento do novo iPhone 5, da Apple, no último dia 12, não foi sua finura, leveza nem a tela maior. Foi sua capacidade para operar na rede 4G, um sistema de internet mais rápido que a 3G popular hoje no mundo. O iPhone 5 aumenta a oferta de aparelhos que podem baixar arquivos quase instantaneamente ou conversar com voz e vídeo sem engasgos. Já há dezenas de modelos 4G no mundo. O primeiro a chegar ao Brasil, em outubro, será o Razr Maxx HD, da Motorola. Todos podem usar uma rede 4G que permite transmissão de dados até 100 vezes mais rápida que a 3G. Pelo menos em teoria.
ADIANTADOS Analistas testam  o iPhone 5, da Apple, no lançamento do aparelho nos EUA.  Ele é uma das dezenas de modelos que  usam a rede 4G, de internet mais rápida  (Foto: Justin Sullivan/Getty Images)
A internet celular mais rápida não é só um luxo. Toda a sociedade se beneficia, economicamente, com cada usuário que consegue navegar com facilidade e rapidez, em qualquer lugar. “As pessoas poderão comprar mais pela internet, consumir mais conteúdo, interagir mais”, diz o consultor Rafael Fanchini, da Ernst & Young Terco. Nos Estados Unidos e no Canadá, há cerca de 11 milhões de usuários de 4G. De olho nisso, o governo brasileiro intercedeu para trazer a tecnologia para cá. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) leiloou em junho licenças de operação da 4G e exigiu investimentos das operadoras para a cobertura nas cidades sedes da Copa das Confederações, no ano que vem. Será um primeiro passo para tentar garantir o serviço na Copa do Mundo de 2014. A Vivo fez o primeiro teste no país durante a Rio+20. Claro e Oi fazem experiências em Campos do Jordão, São Paulo, e em Brasília. Nada disso, porém, resolverá problemas fundamentais do mercado atual, que pioram a vida do usuário de celular no Brasil. 
Na prática, nem nossa tradicional rede 3G funciona. O sistema, que começou aqui em 2004, ainda tem desempenho muito aquém do que deveria. No Brasil, as operadoras oferecem planos 3G de 1 Mbps (megabytes por segundo), velocidade suficiente para baixar uma foto em um ou dois segundos. Avaliações independentes mostram, porém, que na prática a velocidade média alcançada é metade disso. Em comparação, nos EUA, a rede 3G é dez vezes mais rápida. Na Finlândia, 44 vezes; no Japão, 130 vezes. Os brasileiros sonharão com a 4G sem nem ter entrado na era da 3G.
A má qualidade tem algumas razões. E nem todas são culpa das operadoras.Em primeiro lugar, a carga de impostos torna a telefonia celular cara demais. O governo toma 38% da conta que você paga no fim do mês. As operadoras também enfrentam os impostos mais altos da América Latina para importar os equipamentos da rede. Na telefonia, o governo federal cobra tanto imposto quanto os da Suécia e da Noruega. Por isso, mesmo nas 11 maiores regiões metropolitanas do Brasil (as áreas mais ricas), menos de 16% das pessoas têm celulares com rede 3G. Entre os usuários da 3G, mais da metade usa planos pré-pagos, que têm menos serviços e são menos rentáveis para as operadoras.
Além disso, no Brasil, o governo vem exigindo investimentos das operadoras em função da Copa em 2014 e da Olimpíada em 2016, não em função da capacidade de elas pagarem seus investimentos. É provável que cumpram o mínimo exigido, garantindo alguma cobertura nas áreas das competições, mas não qualidade para o resto da população.

A necessidade de novas antenas também atrapalha. A 4G, no Brasil, funcionará numa frequência relativamente alta, o que aumenta a exigência de antenas de transmissão. Instalá-las, no Brasil, é mais difícil que em outros países, por causa dos entraves legais, com limites ambientais e urbanísticos. Cerca de 250 cidades têm regras próprias para as instalações. Em Porto Alegre, há pedidos parados há quatro anos. “Essa é a maior dificuldade hoje”, diz Eduardo Levy, do SindiTele, organização que reúne as operadoras. Em 2012, a Vivo implantará apenas 40% das antenas previstas, por causa das dificuldades legais. Com tantos obstáculos, será difícil difundir a telefonia na qualidade prometida. Se as operadoras oferecessem todo o potencial da atual rede 3G, já seria uma revolução tecnológica no país.
Com ou sem o novo iPhone 5.
Revista Época

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