O jornal do Vaticano apresenta hoje uma análise ao fragmento de
papiro que alegadamente remontaria ao século IV, falando numa “mulher” de
Jesus, contestando a sua autenticidade e relevância para a apresentação da
figura história de Cristo.
“Um papiro à deriva” intitula a edição do diário, em italiano, num
texto assinado por Alberto Camplani, especialista no mundo copta e professor da
universidade ‘La Sapienza’, de Roma, que foi um dos organizadores do congresso
em que a descoberta foi anunciada pela professora Karen King da Universidade de
Harvard (Estados Unidos da América).
O fragmento em causa, que foi apresentado como sendo parte de um
evangelho apócrifo, inclui a frase em copta ‘E Jesus disse-lhes: «A minha
mulher…»’.
“Há razões consistentes para concluir que o papiro seja uma
desajeitada contrafação (como tantas outras provenientes do Oriente próxima)
que poderia estar destinada à venda, por parte de um privado”, refere o diretor
do jornal do Vaticano, Gian Maria Vian.
O jornalista destaca, a este respeito, que o anúncio da
descoberta, no último dia 18, “foi preparado sem deixar nada ao acaso”, mas que
esta “não tem nada a ver com a vivência histórica do cristianismo antigo e com
a figura de Jesus”.
“Tudo somado, é uma falsificação”, conclui Vian, também
especialista no estudo dos primeiros séculos das comunidades cristãs.
Alberto Camplani, por sua vez, critica a “deriva mediática” que se
gerou após a apresentação do fragmento, sublinhando que o objeto, “ao contrário
de tantos outros”, não foi descoberto em escavações, mas foi encontrado no
mercado de antiguidades, além de as suas características se distanciarem de
outros documentos conhecidos do séc. IV.
“É preciso adotar numerosíssimas precauções, que estabeleçam a sua
fiabilidade e não excluam o caráter de contrafação”, acrescenta.
O investigador questiona ainda as “interpretações literais” do
texto em causa, defendendo que as expressões devem ser “entendidas em sentido
totalmente simbólico”.
OC
Agência Ecclesia
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