30/10/2012

Equívocos Psicológicos

Côn. José Geraldo Vidigal*

Devido a confusão mental hoje reinante, multiplicam-se os livros de auto-ajuda. Estes oferecem inúmeros conselhos práticos que, de fato, podem auxiliar como adjutório psicológico no sentido de superação dos limites humanos.  Entretanto, os conceitos atinentes ao que pode levar à auto-destruição, nem sempre ficam claros. Estes bem pontuados ajudariam ainda mais na cura interior. Generalizou-se o termo depressão que é diferente da angústia. 
Com efeito, o distúrbio mental que se caracteriza pela prostração física e/ou moral se difere da aflição intensa e do estado de náusea perante a existência. A depressão pode incluir a angústia, mas nem toda angústia é depressão.  Uma pessoa pode entrar num quadro depressivo sem estar ainda imerso na adinamia e, portanto, fica mais fácil  para ela atalhar o mal pela raiz sem ser necessário apelar para os profissionais da psiquiatria que, em casos graves, são obrigados a receitarem medicamentos oportunos. O diagnóstico da angústia que surge perante um perigo real deve, antes de tudo, levar a pessoa a cair na realidade, afastando perspectivas sombrias fruto da imaginação mal controlada. Há indivíduos que se deixam levar ao retorno periódico de encadeamentos idênticos de acontecimentos geralmente infelizes e isto pode gerar a fobia diante do futuro. Neste caso, as causas estão no inconsciente que precisa ser desmascarado através de uma viagem interior e a fixação dos instantes luminosos do passado. 

Não se deve nunca ser artífice da própria infelicidade, alimentando a neurose de fracasso. Esta leva a uma blocagem parcial da própria energia. Isto pode levar à frustração e esta, que inicialmente não é patogênica, pode se converter em uma situação intolerável, desencadeando a frustração interna, devido a construção mental doentia de um obstáculo externo destituído de fundamento. Isto pode ocorrer também pela criação de desejos que levam a necessidades fictícias. Seja como for, é preciso sempre o estado de alerta, pois é sempre válido o axioma médico que aconselha a cortar os males pela raiz. Muita confusão se dá, outrossim, no que tange à melancolia. Há indivíduos cujo perfil caracterológico é o melancólico. São pessoas emotivas, não-ativas, e secundárias, não impulsivas. Possuem tendências positivas: bondade e honradez. 

São incapazes de serem cruéis ou ásperas com os outros, ainda que exteriormente sua reserva pareça apatia. São simples, humildes e fidedignos, perseverantes. Têm, porém, que tomar cuidado, pois tendem a cair na omissão, isto é, à indecisão ante um partido a tomar. São inclinados a subestimar suas próprias qualidades. Isto pode levar ao pessimismo, à amargura, à tristeza.. Sua tendência à solidão pode torná-los egoístas. Nada isto indica que são levados a distúrbios psicológicos, desde que procurem agir não pelos sentimentos, mas pela razão. Não se deixem levar pela tristeza. Refugiem-se na oração e na intimidade com Deus, fomentando confiança filial no Ser Supremo, que é Pai amoroso. 

Não se deixem perder em fantasias, ocupando-se num trabalho moderado, mas constante, colocando-se em contacto com a realidade que os cerca. Devem incrementar a boa convivência com os companheiros. Não se pode confundir, portanto, este quadro com a melancolia que é uma forma de depressão, sensação de incapacidade, de interesse pela vida. Cumpre, neste caso, evitar qualquer tipo de auto-acusação, não deixando que isto evolua para a ansiedade, tomando tal pessoa consciência da falta de causa evidente desta apreensão que deve logo ser vencida. Portanto, há, por vezes, uma generalização de termos que impedem o diagnóstico preciso de um determinado momento existencial. O importante, entretanto, é sempre a busca da imperturbabilidade que obsta a evolução de males interiores que tendem a se tornarem crônicos. 

Todas as pessoas, segundo Renné Le Senne, seja qual for seu perfil caracterológico, possuem qualidades. A má administração destas qualidades é que geram os defeitos, os quais se tornam causa de perturbações para si e para os outros. É isto que muitos orientadores ignoram e, daí, muitos outros equívocos psicológicos. 

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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