21/05/2013

O estilo de Audrey Hepburn, na moda até hoje


"Suas pernas eram compridas demais, a cintura muito fina, os pés muito grandes, assim como os olhos, o nariz e as narinas enormes. Quando sorria, revelava uma boca que engolia todo o rosto. Ele era até meio redondo, pobrezinha. Mas mostrava tanta segurança no movimento, que suas imperfeições ficavam para trás. Como uma coisinha tão jovem podia ter entendido postura tão completamente?” Como fez em muitos de seus textos, a escritora francesa Sidonie Gabrielle Colette traduziu imediatamente o que intrigara muita gente durante anos. Magra (1,70 metro e 50 quilos), morena, sem curvas, como foi possível à atriz Audrey Hepburn conseguir um lugar no panteão de divas, em meio a beldades loiras de corpos curvilíneos ao estilo de Marilyn Monroe, Doris Day ou Anita Ekberg? Por que Audrey fascinava e, ainda hoje, mais de 50 anos depois de atingir a fama, ainda é ícone de moda e estilo? O que faz da elegância de Audrey algo atemporal?

Boa parte da resposta aparece nas imagens do livro Audrey in Rome, recém-publicado nos Estados Unidos e na Europa. O livro, organizado pelo filho caçula da atriz, Luca Dotti, registra os anos em que Audrey morou e frequentou Roma. Audrey demonstrava segurança. Os muitos anos de balé e a educação rígida do colégio interno inglês que frequentou desde os 6 anos estavam por trás do “mágico movimento” de Audrey, como disse Colette. Seu guarda-roupa era elegante dentro e fora das telas. O estilista francês Hubert de Givenchy a vestiria por toda a vida. Mas não era só isso. Audrey emprestava a coreografia de seus movimentos às peças que vestia. O vestido preto foi alçado ao posto de traje de primeira grandeza graças à atriz.

A ALMA DA ELEGÂNCIA 1. Audrey em foto de 1960  2. Audrey descansa no set de Guerra e paz, 1955. Depois dela, as sapatilhas nunca mais saíram da moda 3. Jogando cartas com Gregory Peck nas gravações do filme A princesa e o plebeu, 1953 4. Mel Ferrer, seu p (Foto:  Reporters Associati (2), Dupla Paramount/The Kobal Collection/AFP, Elio Sorci/Camera Press/Photomasi e Photomasi )
Na consolidação da imagem de Audrey, a atitude foi tão determinante quanto sua postura. Ela era cuidadosa com a vida pessoal, sem deixar de ser espontânea e atenciosa com a mídia e os fãs. Parte de sua maturidade para lidar com a fama é atribuída aos apuros que passou durante a Segunda Guerra Mundial, entre a infância e a adolescência. Nos seis anos em que viveu na Holanda ocupada pelos nazistas, testemunhou o extermínio de parentes e passou muitos períodos de fome. Já adulta, disse: “Ao ler Anne Frank, me reconheci em seus medos e tristezas”. As marcas da guerra não ficaram só em sua memória. A desnutrição deixou a atriz com problemas de metabolismo. Sempre teve dificuldade em ganhar peso.

“Audrey tinha a rara qualidade de ter consciência de quanto sua vida era extraordinária. Isso lhe dava humildade, em vez de lhe subir à cabeça”, escreveu Melissa Hellstern, autora de duas biografias dela. O comportamento gentil não foi alterado nem nas fases em que suas crises pessoais estavam expostas. Sofreu quatro abortos. As infidelidades do segundo marido, o psiquiatra italiano Andrea Dotti, estampavam as colunas de fofoca. Audrey passou por altos e baixos sem corromper o temperamento. “Essa integridade é a verdadeira base de sua elegância à prova do tempo e do vai e vem da moda”, diz Valeska Nakad, da Faculdade Belas-Artes de São Paulo. No livro que o filho mais velho, Sean Ferrer, escreveu sobre Audrey, ele afirma: “As pessoas falam das roupas de mamãe, de seu porte. Sua elegância não vinha do que se podia ver. Vinha de sua alma”. A opinião de Sean está longe de ser isenta. Mas não precisava ser. A força do símbolo de Audrey mostra que ele estava certo.

CONTEMPORÂNEA Audrey desfila com casaco Rose Bertin, óculos Goldsmith, bolsa Gucci e sapatos Chanel. Seu estilo clássico  perdura até hoje (Foto: Camera Press/Photomasi  )

A MUSA DE GIVENCHY Audrey Hepburn com um vestido de organza no ateliê de Hubert de Givenchy, em Roma, 1958. O estilista vestiu a atriz dentro e fora das telas (Foto: AP)

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