21/05/2013

Televisão e muita violência


Banalização da violência na TV chegou ao extremo, com repertório de imagens e palavras impensáveis em tempos atrás

Criança exposta ao noticiário violento da TV: Que tipo de cidadão-telespectador estamos formando?
Por Ricardo Soares*
Violência na televisão. Muito se discute sobre o tema, acadêmicos secam a saliva tergiversando sobre o assunto, alguns comunicadores como Jô Soares acham que violência na TV não induz a violência real. O fato é que, se você se dá ao luxo de perder um dia de sua vida dando uma passada na atual  programação da TV aberta, fica chocado com o que vê. A banalização da violência chegou a graus extremos pelas manhãs, tardes e começo de noite televisivos com amplo repertório de imagens e palavras impensáveis em décadas passadas.
Assassinatos a sangue frio, linchamentos, tiros a queima roupa, helicópteros sobrevoando tragédias, casais trocando sopapos e agressões verbais, babás espancando bebês e toda sorte de bárbaries. Evidente que aqui não defendo censura de nenhuma forma. Mas sim responsabilidade, decência, ética dos homens e mulheres que montam e conduzem as grades de programação de nossas emissoras. Como podem achar que isso seja edificante? Como podem desprezar tanto a civilidade em nome da audiência? Sei que meu argumento é pueril no meio do vale tudo em que vivemos mas confesso que com quase 35 anos de atividade nos meios de comunicação (sendo quase 25 só de TV) fico envergonhado com o que tantos colegas de profissão advogam como "normal". Onde está nossa responsabilidade? Que tipo de cidadão-telespectador estamos formando com tanta banalização da idiotia? Eu me confesso profundamente envergonhado e acho dificil que esse tipo de comportamento padrão de nossa tv não deixe sequelas no futuro.
É muito cômodo atribuir responsabilidades apenas aos pais que deixam seus filhos à deriva diante da TV. Fácil tirar esse corpo fora enquanto eles são expostos a todo tipo de escrotidão, consumismo, banalização dos sentimentos e valorização das emoções baratas, do sensacionalismo, do sangue que jorra, da pregação das igrejas que trocam as benesses de Jesus por carros zero e por aí adentro. TV é responsabilidade de quem a faz e é muito curioso ver os arautos da liberdade televisiva jogarem lixo sobre nós todos os dias enquanto confundem a opinião pública na questão dos marcos regulatórios da comunicação. Eles não são censura como já explicaram uns poucos gatos pingados esclarecidos contra a patuléia que faz crer que o que se propõe é cercear os meios de comunicação. Mas esse é outro debate.
No Brasil, hoje, a TV aberta jorra sangue, para usar um clichê surrado. O sangue não estanca e faz crer que tanta hemorragia é algo tão banal quanto ver viciados em crack agonizando no passeio público ou frentistas sendo assassinados à luz das câmeras. O desrespeito à vida aliado à deseducação  e ao sexismo nos transforma pouco a pouco numa "República dos Assassinos", para lembrar aqui um remoto título de um filme de Miguel Farias.  Assassinos do bom senso sobretudo.  Em nome da ausência de critérios é muito triste ver a programação televisiva nivelada a um mero critério de em que horário seria melhor exibir "cenas fortes". Se antes ou depois das novela das nove, a nave-mãe da deseducação em forma de entretenimento.
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) . Escreve todos os dias também o Diario do Anonimato do Mundo em www.revistapessoa.com

Dom Total

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