Bento XVI encontrou-se hoje no Vaticano com milhares de membros do clero da Diocese de Roma e deixou um apelo à “verdadeira renovação” da Igreja, numa das últimas intervenções antes de concluir o pontificado.
“Mesmo que agora me vá retirar, estarei sempre próximo de vós em oração e estou seguro de que também vós estareis próximos de mim, ainda que permaneça escondido para o mundo”, afirmou o Papa, que esta segunda-feira apresentou a sua renúncia.
Numa intervenção feita de improviso, durante cerca de uma hora, Bento XVI apresentou algumas das suas memórias do Concílio Vaticano II, no qual participou como consultor do arcebispo de Colónia (Alemanha), cardeal Josef Frings, antes de ser nomeado perito teológico.
“A nossa missão, neste Ano da Fé, é trabalhar para que o verdadeiro concílio, com a sua força do Espírito Santo, se realize e a Igreja seja realmente renovada. Eu, com a minha oração estarei sempre convosco e juntos seguiremos em frente, com o Senhor”, declarou.
Segundo o atual Papa, houve um “concílio dos media, quase um concílio em si” que se sobrepôs ao que estava a acontecer, realmente, nos trabalhos dos participantes no maior encontro mundial de bispos da história da Igreja Católica.
“O concílio dos jornalistas não realizou, naturalmente, dentro da fé, mas nas categorias dos media de hoje, com uma hermenêutica diferente, política”, observou.
Bento XVI diz que os media se centraram na “luta política, de poder” entre diversas correntes no seio da Igreja e “tomaram parte” no apoio às fações que procuravam a “descentralização” e a “soberania popular”.
“O verdadeiro concílio teve dificuldades em concretizar-se, em realizar-se: o concílio virtual era mais forte”, precisou.
Essa visão do concílio “acessível a todos, dominante,” criou “muitas calamidades, problemas, misérias”, como “seminários fechados, conventos fechados, liturgia banalizada”.
“O concílio virtual era mais forte do que o concílio real”, lamentou Bento XVI, para quem 50 anos depois, vão desaparecendo as “banalizações” nas leituras do concílio, que classificou como “virulentas”.
O Papa alemão destacou que, nos ensinamentos conciliares, se percebeu que a Igreja “não é uma organização”, mas “um organismo, uma realidade vital” e que, a partir desta conceção, a palavra “comunhão” tornou-se “expressão da essência da Igreja”.
Bento XVI evocou a “expectativa inacreditável” com que as pessoas viveram este acontecimento, esperando uma nova “era na Igreja”, na qual esta fosse novamente “força do amanhã, do hoje”.
O Papa admitiu, a este respeito, que a relação entre a Igreja e a era moderna começou com algumas tensões e recordou os “erros” no processo (1616-1633) do físico italiano Galileu Galilei.
“Pensava-se em corrigir este começo errado” e promover uma nova relação entre a Igreja eo mundo, “para abrir o futuro da humanidade, o verdadeiro progresso”, acrescentou.
O encontro iniciou-se com um “obrigado” de Bento XVI, que deixou elogios ao clero de Roma, “realmente católico, universal”.
O Papa alemão, eleito em abril de 2005, vai concluir o seu pontificado a 28 de fevereiro, abrindo caminho à eleição de um sucessor.
OC
Agência Ecclesia
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