Cardeal D.Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
Arcebispo de São Paulo
O 4º Congresso Eucarístico Nacional, realizado em São Paulo de 3 a 7 de setembro de 1942, já havia sido assumido ainda pelo primeiro arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva; mas foi organizado e celebrado pelo seu sucessor, Dom José Gaspar d’Affonseca e Silva. Na Europa a 2ª. grande guerra fazia estragos; o Brasil, com Getúlio Vargas no poder, vivia em regime de exceção e o clima também já era de insegurança. Mesmo assim, o Congresso foi um grande êxito e conseguiu mobilizar a cidade de São Paulo.
Nomeado Legado Pontifício para o Congresso pelo papa Pio 12, o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, 2º cardeal do Brasil, partiu de trem com sua comitiva, do Rio, no dia 2 de setembro, parando por 5 minutos em cada cidade do trajeto no Estado de São Paulo, para abençoar o povo. Em Aparecida foi acolhido calorosamente pelo povo e saudado pelas autoridades; pernoitou e celebrou a Missa na Basílica de Nossa Senhora, que ainda fazia parte da arquidiocese de São Paulo.
Chegou em São Paulo na tarde do dia 3, na “Estação do Norte” (Brás); a cidade parou para prestar homenagem ao seu filho ilustre que, além de Legado Pontifício no Congresso, tinha sido o primeiro paulista a receber a púrpura cardinalícia. A avenida Rangel Pestana, por onde passou o cortejo de honra, e a Praça da Sé, estavam apinhadas de gente! Sinos tocaram festivos à chegada do Legado Pontifício. Na escadaria da Sé, ainda em construção, foi lida a Carta de Pio 12, com a nomeação de Legado papal para o 4º Congresso Eucarístico Nacional. O Cardeal Leme recebeu as chaves da cidade, foi saudado pelas autoridades locais e pelo Interventor Federal, que fazia as vezes de Governador; ficou hospedado oficialmente no palacete Eduardo Prates, do Governo Paulista, nos Campos Elíseos.
Na noite de 3 de setembro, houve adoração eucarística “nas intenções do Congresso”, na igreja de S.Ifigênia, catedral provisória à época; o cônego Manfredo Leite foi o pregador oficial. A abertura do Congresso, no dia 4, foi presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Bento Aloisi Masella, no Vale do Anhangabaú, onde fora montado um palco enorme, com o altar-monumento, uma cruz muito alta e até um órgão de tubos, ao ar livre. A homilia foi proferida por Dom Mário de Miranda Vilasboas, bispo de Garanhuns, PE. Um coral de 300 vozes, regido pelo maestro e compositor Fúrio Franceschini, cantou a Missa Laudate Dominum, de Palestrina.
Durante o Congresso, a Missa era celebrada pela manhã, com grupos específicos, para as “comunhões gerais”. As tardes eram dedicadas a estudos, em grupos separados de moços e homens, de moças e senhoras, de militares e de operários. Os padres reuniram-se na basílica do Mosteiro de S.Bento. À noite, sempre às 20h00, havia a “sessão geral”, no Vale do Anhangabaú, presidida pelo Legado Pontifício. Na manhã do dia 5 houve a Missa para as crianças, presidida por Dom Antônio dos Santos Cabral, arcebispo de Belo Horizonte. No final da Missa, também o Cardeal Legado dirigiu uma saudação às crianças.À tarde, ele recebeu em audiência a Liga das Senhoras Católicas e as Associações religiosas e culturais. À noite, na sessão geral, a palavra foi de Dom Jaime de Barros Câmara, então, arcebispo de Belém do Pará, e que se tornaria o sucessor do cardeal Leme no Rio de Janeiro, pouco tempo depois. No final da sessão, houve uma grandiosa procissão luminosa com a imagem de N.Sra. Aparecida; eram, sobretudo, os homens que deviam participar da procissão, preparando-se para a “comunhão geral dos homens”. Enquanto isso, à tarde e à noite, em todas as igrejas, os padres atendiam à confissão das moças e das senhoras, em preparação à comunhão geral.
No dia 6 de setembro, domingo, o 4º Congresso Eucarístico Nacional, de São Paulo, teve sequência, logo cedo, com a Missa para as senhoras e moças no Vale do Anhangabaú, presidida por Dom Antônio Maria Barbieri, arcebispo de Montevidéo; no final, também o Legado Pontifício dirigiu a palavra às participantes e deu a bênção apostólica. À tarde, ele recebeu em audiência os círculos operários e as representações trabalhistas.
No final da tarde, e noite adentro, centenas de padres atenderam às confissões dos homens e dos moços, enquanto eram preparados pelo cônego Manuel Corrêa de Macedo; a comunhão geral deles foi feita naquela mesma noite, durante a Missa iniciada às 24h00 e presidida por Dom João Becker, arcebispo de Porto Alegre. Outras Missas foram celebradas durante a madrugada, até às 5h00 da manhã, para dar a possibilidade a todos os homens de receberem a comunhão.
No final da tarde, e noite adentro, centenas de padres atenderam às confissões dos homens e dos moços, enquanto eram preparados pelo cônego Manuel Corrêa de Macedo; a comunhão geral deles foi feita naquela mesma noite, durante a Missa iniciada às 24h00 e presidida por Dom João Becker, arcebispo de Porto Alegre. Outras Missas foram celebradas durante a madrugada, até às 5h00 da manhã, para dar a possibilidade a todos os homens de receberem a comunhão.
O dia 7 de setembro foi especialmente solene. No Anhangabaú, uma multidão imensa; as bandeiras do Brasil e do Congresso Eucarístico foram hasteadas; um coral de mais de 300 vozes acolheu a procissão dos celebrantes, que saía da igreja de S.Antônio, na Praça Patriarca, com o Cardeal Leme na presidência. Terminada a Missa, o povo almoçou rápido e se concentrou ao longo da avenida São João e do parque do Anhangabaú. Às 14h30, da igreja de São Geraldo, nas Perdizes, saiu a procissão eucarística presidida pelo Cardeal Legado. A artística e grande custódia do Congresso foi oferecida pelo povo paulista “como um trono menos indigno a Nosso Senhor, porque todo feito de nosso amor e gratidão filial”.
As rádios da cidade transmitiram todo desenrolar da procissão. Ao chegar à praça do Congresso, o Santíssimo Sacramento foi recebido com aclamações pelo povo; em 21 caçoulas, representando os Estados do Brasil, foram queimados 21 quilos de incenso brasileiro, extraído de árvores do Mato Grosso e de Goiás. Após a bênção do Santíssimo e a alocução de encerramento do Congresso, houve a homenagem à bandeira nacional e música de bandas; fogos de artifício iluminaram a noite paulistana e a alma dos congressistas.
No dia 8 de setembro, ao meio dia, o Legado Pontifício dirigiu uma saudação de despedida a todos os congressistas, transmitida por todas as emissoras de rádio de São Paulo. Às 16h00, depois de receber as homenagens das autoridades e do povo, o cardeal Leme retornou de trem para o Rio de Janeiro, fazendo o pernoite em Aparecida; durante a missa, no dia 9 de setembro, benzeu no próprio recinto da Basílica a pedra fundamental da nova Basílica Nacional, como marco comemorativo do 4º Congresso Eucarístico Nacional, com a recomendação que os brasileiros se esforçassem para inaugurar em 1954, nas comemorações do primeiro centenário da definição do dogma da Imaculada Conceição.
O que não se sabia ainda é que, pouco depois, o cardeal Leme faleceria; seu sucessor seria o Dom Jaime de Barros Câmara, também presente no Congresso; e Dom José Gaspar, ao viajar para a posse de Dom Jaime, faleceria em acidente aéreo, caindo o avião na baía de Guanabara. O cardeal Motta, que o sucedeu na Sé de São Paulo, seria o grande incentivador da construção da nova Basílica de Aparecida e se tornaria, também, o primeiro arcebispo metropolitano de Aparecida. A nova Basílica seria dedicada solenemente pelo Papa João Paulo II, em 1989, na sua primeira visita ao Brasil; em 2012, embora inaugurada, a Basílica Nacional ainda continua recebendo acabamentos artísticos... O que pouca gente hoje sabe ou lembra, é que ela devia ser um marco comemorativo do 4º Congresso Eucarístico Nacional e do 1º centenário do dogma da Imaculada Conceição.
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