06/10/2012

Cena da quinta temporada do seriado 'Gossip girl', que mostra jovens endinheirados de Nova York


Cecily von Ziegesar lança livro 'sangrento' e participa da Bienal de SP. 
Para escritora, 'Sex and the city' é irritante e nova série 'Girls', repulsiva.

Cauê MuraroDo G1, em São Paulo
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Cecily Von Ziegesar é autora dos livros da série 'Gossip Girl' (Foto: Divulgação)Cecily Von Ziegesar (Foto: Divulgação)
Cecily von Ziegesar, 42, nasceu e se criou em Nova York num círculo privilegiado, estudou num colégio particular. Quando adulta, tornou-se autora best-sellerprecisamente por escrever uma série de livros sobre adolescentes ricas que estudam num colégio particular. Em Nova York. E, assim, desde a publicação do primeiro volume de “Gossip girl” (2002), Cecily teve de se habituar à inevitável questão: “O que você escreve é material exclusivamente autobiográfico?”.
A pergunta tornou-se mais frequente quando as histórias foram vertidas para a TV, a partir de 2007, num seriado homônimo estrelado por Blake Lively e Leighton Meester. Há mais de dez livros com a marca “Gossip girl” – segundo a editora Record, já foram vendidos no Brasil 350 mil exemplares ao todo. O último capítulo (até aqui) é o incomum “Gossip girl: Psycho killer”, que está sendo lançado. Em entrevista ao G1por telefone, Cecily concorda que, enfim, talvez passem agora acreditar em sua resposta – sempre foi “Não!”. “Eu nunca matei ninguém!”, conta ela, gargalhando.
Ela diz isso porque “Psycho killer” propõe uma espécie de releitura do primeiro “Gossip girl”. São os mesmos personagens de sempre, na mesma Nova York de sempre, com o mesmo dinheiro de sempre – mas agora com um substancial acréscimo de violência e sangue.
A ideia de Cecily aqui é provocar repulsa e fazer humor. Durante a conversa, ela própria ri o tempo todo. Também afirmou não gostar de livros sentimentais ou que tentam "ensinar algo" e das séries “Sex and the city” e “Girls”.  A escritora – que participa neste sábado (11) de um debate na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo – acha que essas suas opiniões podem lhe causar problemas. Veja, a seguir, os principais trechos:
G1 – Você já reclamou de ter sempre que explicar que os livros da série “Gossip firl” não são autobiográficos. Agora, depois de “Gossip girl: Psycho killer”, a explicação deixou de ser necessária, não é?
Cecily von Ziegesar –
 Verdade, eu nunca matei ninguém (risos)! Todos os outros livros são parte de minhas experiências: cresci em Manhattan, estudei numa escola particular. Mas eu realmente não queria ter vivido a mesma vida dos personagens de “Gossip girl”. Felizmente, as pessoas que leem “Psycho killer” entendem que é uma comédia, com humor negro, e não levam muito a sério. Existe algo de muito atraente em sentir medo de uma adolescente riquinha(risos).
Na verdade, estou mais interessada em tentar convencer o leitor de que uma pessoa normal pode ser levada a ultrapassar o próprio limite e matar alguém. E eu não tenho aquele interesse todo pelo que é sobrenatural, mas, sim, em ver pessoas enlouquecendo."
Cecily von Ziegesar, escritora
G1 – É verdade que você, antes de escrever “Psycho killer”, estabeleceu uma regra para a editora – “Nada de zumbis, nada de vampiros”? Por que fez isso?
Cecily –
 Só porque achei que todo mundo estava usando esse tipo de personagem, que tem muito vampiro e muito zumbi por aí(risos). Na verdade, estou mais interessada em tentar convencer o leitor de que uma pessoa normal pode ser levada a ultrapassar o próprio limite e matar alguém. E eu não tenho aquele interesse todo pelo que é sobrenatural, mas, sim, em ver pessoas enlouquecendo.
G1 – Como você fez para evitar a violência gratuita no livro?
Cecily –
 Bem, de certa maneira, você poderia dizer que aquilo tudo é gratuito. Quero que as pessoas leiam e digam: “Oh, meu Deus, que desagradável” (risos). Quero estimular a imaginação do leitor. Acho que, numa comédia, é meio estranho perguntar se o material é gratuito ou não – porque é claro que tudo aquilo é gratuito (risos). Mas entendo que algumas pessoas se sintam enjoadas ou um pouco nervosas. Uma coisa que eu não quis fazer foi inserir armas de fogo. Só um monte de facas (risos).
G1 – Você já disse que sua mãe, quando pegou “Psycho killer” para ler, comentou: “Não sei o quão confortável me sinto diante de toda essa gente morrendo”. Mas depois ela acabou gostando. E o que ela achou dos livros, digamos, normais de “Gossip girl”?
Cecily –
 Logo que terminou de ler o primeiro de todos, ela disse: “Não consigo acreditar que você fazia tudo aquilo nos tempos de colégio! Eu não fazia ideia...”. Aí, tive de garantir novamente que era tudo ficção (risos). Ela estava achando que eu havia escondido muita coisa.
Cena da quinta temporada do seriado 'Gossip girl', que mostra jovens endinheirados de Nova York (Foto: Divulgação)Cena da quinta temporada do seriado 'Gossip girl', que mostra jovens endinheirados de Nova York (Foto: Divulgação)
G1 – E sobre o seu pai? Ele nasceu em São Paulo, certo?
Cecily –
 Sim! Não sei a história inteira, mas os pais dele eram alemães, e meu avô conseguiu emprego em São Paulo na Victor Talking Machine, a gravadora, você conhece? Existe até uma espécie de mito na família, de que meu avô descobriu Carmen Miranda, mas não sei mesmo se é verdade, não acredito muito. Meu pai nasceu em 1924 e tinha passaporte brasileiro, mas, quando tinha cinco anos de idade, deixou o Brasil para estudar numa escola na Alemanha.
G1 – Você fala algo em português?
Cecily –
 Eu não sei nada... Só “obrigado” (risos).
G1 – A história de “Gossip girl” se passa em Nova York, é sobre garotas ricas típicas da cidade. Por que acha que faz sucesso entre leitores de outros países, como o Brasil?
Cecily –
 Acho que há mais de uma razão. É uma loucura, todo mundo é fascinado por Nova York, quer saber como é crescer aqui – e eu sei tão bem como crescer aqui... Por outro lado, uma coisa que me preocupava muito, enquanto escrevia os livros, era: ninguém vai se interessar em ler algo sobre garotas ricas em Nova York. Então, tentei tornar os personagens tão humanos quanto possível. Sei que isso soa meio piegas, mas só porque são ricas e porque moram em Nova York não significa que não tenham o mesmo tipo de problemas que alguém no Brasil teria. Nesse sentido, [“Gossip girl”] é meio que universal.
É engraçado, porque minha filha lê muito essas coisas, adora esses livros sérios que te fazem chorar. O que o escrevo é totalmente o oposto, mas há momentos em 'Gossip girl' que podem ser muito tocantes. Acho que tentei fazer um pouquinho de tudo, mas jamais quero pregar para meus leitores."
Cecily von Ziegesar, escritora
G1 – Acha o humor é importante para conquistar os leitores?
Cecily –
 Sim. Eu sou muito tola, gosto de ser divertida, engraçada, de não levar as coisas tão a sério. Mas, ao mesmo tempo, também sou muito séria. Uma coisa que faço bastante é usar as coisas sérias para extrair algo de engraçado. Não gosto muito dos livros muito sentimentais, ou que tentam ensinar algo – esses livros que geralmente dão para os adolescentes lerem, com uma garota cujos pais morrem, e ela meio que tem de encontrar seu próprio caminho (risos).
É engraçado, porque minha filha [de dez anos de idade] lê muito essas coisas, adora esses livros sérios que te fazem chorar (risos). O que o escrevo é totalmente o oposto, mas há momentos em “Gossip girl” que podem ser muito tocantes. Acho que tentei fazer um pouquinho de tudo, mas jamais quero pregar para meus leitores [usa uma voz professoral e irônica]: “Você deve ser deste jeito, estou tentando lhe ensinar uma lição, e ao final deste livro você vai ter aprendido um monte de coisas”. Não quero fazer isso, porque é muito irritante.
G1 – “Gossip girl” deve bastante do sucesso à versão para a TV. O que acha das outras series que se passam em Nova York, como “Sex and the city” e esta mais nova, “Girls”?
Cecily –
 Eu não assistia a “Sex and the city”. Era irritante, aquelas mulheres que só queriam arrumar marido. Mas alguns episódios são meio engraçados. Talvez, no futuro, eu possa de alguma forma gostar, como se fosse uma relíquia dos anos 1990. Sobre “Girls”, eu posso ter problemas por dizer isso, mas vi o piloto e achei difícil de assistir, não sei, é muito pouco atraente. Mas talvez eu deva dar uma nova chance, porque vários dos meus amigos estão assistindo e dizem que é engraçado.
Eu vejo TV para escapar para outro mundo, e geralmente estou jantando enquanto assisto – só que eu não consigo assistir “Girls” enquanto janto, porque todo mundo é tão repulsivo (risos). Nossa, agora realmente vou ter problemas (risos).
G1 – Que escritor ou livro você recomendaria a um fã de “Gossip girl”?
Cecily –
 Vamos ver… Jane Austen (risos). Eu sei, isso é ridículo (risos). Acho que depende da idade. Meu Deus! [Pede um tempo para pensar] Recentemente, li um livro para adolescentes muito triste, chamado “A culpa é das estrelas” [lançado no Brasil pela Intrínseca], é sobre uma garota morrendo de câncer. Mas é um bom livro, gosto dele. E tem um outro livro que se chama… Tenho este pequeno problema com minha memória, é algo sobre o fim do mundo.
Estou tentando ler livros que não tenham nada a ver com “Gossip girl” (risos), porque pode meio que interferir. [Minutos depois] Lembrei o nome do outro livro! É “A idade dos milagres” [no Brasil, publicado pela Companhia das Letras], a autora chama-se “alguma coisa Thompson” [Karen Thompson-Walker]. Também é um livro muito triste, mas gosto.
Cecily von Ziegesar na 22ª Bienal de SP
Quem: autora de "Gossip girl" debate com Thalita Rebouças e Paula Pimenta no espaço "# Você + Quem = ?".
Quando: sábado (dia 11), às 11h.
Onde: Pavilhão de Exposições do Anhembi (Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana).
Quanto: Ingressos: R$ 12 (com meia-entrada).

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