07/12/2012

No Santuário Nacional da Virgem Nossa Senhora de Lujãn

Padroeira da Argentina,  distância 
aproximadamente,  de 100 km de Buenos Aires.
Eduardo Moesche, Geovane Saraiva, Milciades Ayala
 e Gilson Soares, em julho de 1984


Padroeira da Argentina:
imagem bem brasileira
A Providência Divina estabeleceu estreito vínculo histórico-religioso entre nossa Pátria e três nobres nações hispano-americanas: no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Luján, na Argentina, venera-se milagrosa imagem de origem brasileira, declarada,em 12 de outubro de 1930, Padroeira daquele país, bem como do Uruguai e do Paraguai
Luis Carlos Azevedo
Diz o adágio que "as boas contas fazem os bons amigos".
Nossa Senhora de Luján
A direção de Catolicismo recebeu carta de um sacerdote de simpática localidade no interior do Estado de Minas Gerais, solicitando que nos ocupássemos de Nossa Senhora de Luján, Padroeira da Argentina, Uruguai e Paraguai.
Recebi o encargo, não sem me deparar, desde logo, com uma dificuldade: num país como o nosso querido Brasil, onde se contam pelo menos 120 invocações mais conhecidas de Nossa Senhora, como interessar o leitor por outra, como a de Luján, na  Argentina?
Entretanto, à medida que pesquisava, a dificuldade se evanescia de meu espírito, pois, como se verá, essa devoção tem muito a ver com nossa terra.
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A devoção a Nossa Senhora de Luján se me afigura, desde o início da pesquisa, como especialmente adequada ao homem de nossos dias.
Com efeito, analisando os milagres que por sua intercessão se foram operando no decurso de sua ação já três vezes secular, vemo-la manifestar-se de modo constante como a grande Consoladora dos Aflitos.
A aflição de espírito bem pode ser considerada como sinal distintivo do homem de hoje.
É na Virgem de Luján que o coração entristecido encontrará o lenitivo que suaviza as ondas amargas da tristeza. Só de invocá-la, incontáveis almas saem do abatimento que as acabrunha. Seu nome transforma o cansaço em repouso, a inquietação em paz, as aflições em inefáveis consolações! Os órfãos A chamam de Mãe; as viúvas, sua defesa; e os culpados, seu refúgio.
Será preciso apresentar provas disso?
Os anais que registram os grandes feitos de sua história, as doações que estiveram na origem dos ornatos de seu altar, as peregrinações incessantes ao seu Santuário Nacional falam mais alto que a eloqüência de qualquer discurso a esse respeito.
Luján me faz lembrar Aparecida! E Aparecida me recorda Luján . Argentina e Brasil: duas nações filhas de Nossa Senhora a cujos povos quis Ela favorecer com graças assinaladas e afins.
Lei to r, se desde já te sentes tocado por essa invocação, saibas que não precisas deslocar-te à nação irmã: uma cópia exata da imagem da lmaculada de Luján foi oferecida fraternalmente pela Argentina ao Brasil em 1936, e colocada na matriz de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Ali ela recebe o afeto, não só da colônia argentina radicada no Rio de Janeiro, como o carinho de muitos brasileiros.
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Transcorre o ano de 1630, época em que nosso avoengo e bem-amado Portugal está sob domínio da coroa de Espanha. Luso-brasileiros e hispano-americanos das margens do Rio da Prata fazem comércio pacificamente entre si, como vassalos de um mesmo Rei.
Um cavalheiro português, cujo nome a História não registra, muito piedoso e devoto da Santíssima Virgem, resolve construir em sua estância, na localidade de Sumampa de Córdoba do Grande Tucumã (hoje Santiago del Estero, na Argentina), uma ermida dedicada à Imaculada Conceição de Nossa Senhora.
Para tanto, escreve a um patrício, residente no Brasil, encomendando-lhe uma imagem da Virgem para sua capela em Sumampa. O amigo envia-lhe, não se sabe bem por que, duas esculturas, em caixotes separados: uma, da ImacuIada , e a outra, da Mãe de Deus com o Divino Infante nos braços.
Prodígio
Após tranqüila travessia marítima, as duas imagens chegam ao porto de Sancta Maria de Buenos A ires, sendo colocadas num dos carros de boi que levavam mercadorias para o interior.
Três dias depois, a caravana acampa a uns cinco quilômetros da vila de Luján, num rancho pertencente a outro português, D. Rosendo de Oramas, proprietário de terras na região. Ali pernoitam. Na manhã seguinte, tratam de ajuntar os bois e seguir viagem. Sucede então um prodígio que enche de assombro os circunstantes: todas as carretas abalam facilmente, exceto a que levava as imagens. Por mais esforço que fizessem, o carro continuava imóvel, como se uma força invisível o tivesse chumbado à terra.
O carreteiro, indagado sobre o que transportava, responde que nada de extraordinário, exceto dois caixotes com imagens de Nossa Senhora para um amigo. O acontecido logo repercute nos arredores, e inúmeros curiosos acorrem ao local. Admirados, os espectadores aconselham que se tire toda a carga. Imediatamente, sem nenhuma dificuldade, os bois puxam a carreta. Como por inspiração divina, um dos presentes sugere então que se tire tão-só um dos caixotes. Dito e feito: o carro ficou chumbado ao chão. "Troquem os caixotes para ver o que acontece", diz o mesmo assistente. Nesse instante, os bois se põem a andar, sem qualquer estímulo.
Vendo no ocorrido a mão de Deus, que assim tão claramente se manifestava, entendem que a Virgem Maria desejava um santuário naquele lugar. Abrem o caixote para ver a milagrosa imagem - era a da Imaculada Conceição - e lhe dão o vocativo de Nossa Senhora de Luján, porque foi à margem do rio deste nome que se deu o prodígio.
De simples oratório a Basílica
A pequena escultura em terracota, como a Virgem Aparecida do Brasil, mede cerca de 45 em de altura. O título primitivo da efígie era o de La Limpia y Pura Concepción del Rio de Luján e representa Nossa Senhora da Conceição sobre um trono de nuvens com a lua debaixo dos pés. Posteriormente, a imagem foi coberta por um manto, de cetim branco bordado a ouro, deixando aparecer só o rosto e as mãos da Senhora, estas unidas devotamente junto ao peito. Do pescoço pende enorme colar terminando com uma cruz e a cabeça cinge uma coroa imperial.
Esta esplêndida e riquíssima coroa de ouro e pedras preciosas foi confeccionada no século passado, graças às generosas doações de distintas senhoras argentinas. Foi ela benta pessoalmente pelo Papa Leão XIII, no dia 30 de setembro de 1886. E a solene coroação da imagem deu-se no dia 8 de maio de 1887.
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Após aquele prodígio nos remotos idos de 1630, os presentes levam a imagenzinha para a fazenda de D. Rosendo, colocando-a em simples oratório.
Anos mais tarde, foi construída uma capela, onde a Virgem começou a ser cultuada pelos fiéis. Com o tempo, entretanto, crescem os milagres; e a fama da Senhora se espalha por toda a região platina.
Até que, no século XIX, constrói-se a imponente Basílica, obra do Pe. Jorge Maria Salva ire, intrépido missionário da Congregação das Missões. É devido a um milagre da Virgem de Luján, no ano de 1874, que ele foi salvo de ser morto por índios ferozes.
O plano do edifício ele o concebe no mais autêntico estilo gótico ogival, seguindo o exemplo das grandes catedrais européias. E assim, na Província de Entre Rios, os primeiros fundamentos da Basílica são estabelecidos em 1890. Só será concluída 32 anos mais tarde, após arrostar inúmeras vicissitudes. A Basílica - verdadeira "Lourdes transportada para a América", segundo expressão de um jornalista chileno - recebe anualmente milhares de romeiros, provenientes de todas as partes da América Latina.
Em Sumampa
A esta altura, alguém, talvez possa ter-se perguntado: e o que foi feito da imagenzinha de Nossa Senhora com o Menino transportada no outro caixote?
Através de novo prodígio, manifesta ela a vontade de ficar em Sumampa, onde atualmente é venerada sob a invocação de Nossa Senhora da Consolação.
Com efeito, quando faltava apenas um quilômetro para chegar ao local de destino, o guia nota que o animal que transportava a caixa coma imagem desaparecera. Mas não tardou em encontrá-lo descansando placidamente junto a uma árvore, não distante do solar do destinatário. Foram vãos todos os esforços para fazê-lo completar seu itinerário. Vendo nisso, mais uma vez a mão da Providência, entenderam que junto ao tronco daquela árvore deveriam erigir um santuário para a imagem. O que realmente foi feito.
Ao longo dos séculos, foram se somando os testemunhos de ser essa imagem "milagrosíssima". Todos os ornatos de que ela se reveste são fruto "das esmolas dos que vêm em romaria ao santuário agradecer os milagres da Santa Imagem..."
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Voltemos a Luján.
No dia 12 de outubro de 1930, Nossa Senhora de Luján foi declarada Padroeira das Repúblicas da Argentina, Uruguai e Paraguai. Na ocasião, foi rezada em sua Basílica uma oração, da qual extraímos, por sua altíssima oportunidade, o seguinte trecho: "Protegei grande Senhora, vossa Vila [de Luján) e vosso povo argentino em suas diversas províncias. Concedei igual proteção aos povos irmãos do Uruguai e do Paraguai; mantende-os na Fé católica apesar das maquinações dos incrédulos, dai-lhes sacerdotes zelosos de sua salvação, autoridades honradas e católicas e inspirai a todos Fé, abnegação e amor de Deus".
Com esta súplica à Virgem Imaculada de Luján encerro o presente artigo.

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OBRAS CONSULTADAS
1. Pe. Salvaire e Ham Deimiles. Historia Popular y Novena de Nuestra Señora de Luján. Santuário de Luján, Argentina, 1951. 4a edição.
2. J. Julio Maria Matovelle. Imágines y Santuarios Célebres de la Virgem Santfsima em la América Espanola. Editora de 105 Talleres Salesianos. Quito. 1910.

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