03/01/2013

Falta ousadia à esquerda


Saraiva Júnior*
No interior do Estado, tenho escutado com frequência o comentário de que o homem do campo não quer mais trabalhar porque recebe o auxílio do Bolsa Família. Há algum tempo leio nos jornais a opinião de representantes de grandes empresas, queixando-se em relação aos muitos e altos impostos no Brasil, o que não permite a indústria nacional concorrer com os produtos chineses. E acrescentam: “na China, os salários são menores e os encargos, reduzidos”.

Nesse caso, o insucesso do Brasil é creditado nas costas dos trabalhadores, mais uma vez. Na compreensão dessa gente, o capital não deve correr risco. Para eles, deve-se investir preferencialmente com dinheiro público obtido através de empréstimos em bancos a juros baixíssimos. É como se o capitalista fosse ungido por Deus para gerar riquezas. Essa é a visão colonialista da maioria dos representantes da burguesia. E à sociedade civil resta a acomodação política.

Falar em taxar as grandes fortunas, para o empresariado brasileiro, é coisa de terrorista. Foi preciso ouvir do candidato à reeleição para presidente dos Estados Unidos, o sr. Obama, a tal proposta de taxar grandes fortunas - uma de suas principais bandeiras de campanha - para que nossa imprensa silenciasse sobre o assunto. Dado o mote, a esquerda tupiniquim não precisa ficar com peso na consciência ao levantar essa bandeira.

Falar em acabar radicalmente com a desigualdade social, ainda que perdure a desigualdade profissional no país, é uma questão intolerável para a elite. No entanto, taxar grandes fortunas e diminuir desigualdades sociais está na pauta de um capitalismo modernizante, cujo objetivo é dar a impressão de que não há mais nada a esperar da política. Seria como se houvesse no capitalismo duas correntes políticas antagônicas: uma atrasada e outra moderna. Ao povo, cabe a resignação.

À esquerda, cabe refletir com profundidade a questão: vale a pena administrar o capitalismo com suas perversas crises ou é mais importante sonhar com base real em uma outra sociedade mais justa, digna e democrática? Democrática não apenas do ponto de vista parlamentar, mas principalmente com a transferência de poder para instâncias de decisão popular que podem e devem ser convocadas de maneira contínua. 

*Auditor fiscal do Trabalho

Fonte: Jornal O Povo

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