Saraiva Júnior*
No interior do Estado, tenho escutado
com frequência o comentário de que o homem do campo não quer mais trabalhar
porque recebe o auxílio do Bolsa Família. Há algum tempo leio nos jornais a
opinião de representantes de grandes empresas, queixando-se em relação aos
muitos e altos impostos no Brasil, o que não permite a indústria nacional
concorrer com os produtos chineses. E acrescentam: “na China, os salários são
menores e os encargos, reduzidos”.
Nesse caso, o insucesso do Brasil é
creditado nas costas dos trabalhadores, mais uma vez. Na compreensão dessa
gente, o capital não deve correr risco. Para eles, deve-se investir
preferencialmente com dinheiro público obtido através de empréstimos em bancos
a juros baixíssimos. É como se o capitalista fosse ungido por Deus para gerar
riquezas. Essa é a visão colonialista da maioria dos representantes da
burguesia. E à sociedade civil resta a acomodação política.
Falar em taxar as grandes fortunas,
para o empresariado brasileiro, é coisa de terrorista. Foi preciso ouvir do
candidato à reeleição para presidente dos Estados Unidos, o sr. Obama, a tal
proposta de taxar grandes fortunas - uma de suas principais bandeiras de
campanha - para que nossa imprensa silenciasse sobre o assunto. Dado o mote, a
esquerda tupiniquim não precisa ficar com peso na consciência ao levantar essa
bandeira.
Falar em acabar radicalmente com a
desigualdade social, ainda que perdure a desigualdade profissional no país, é
uma questão intolerável para a elite. No entanto, taxar grandes fortunas e
diminuir desigualdades sociais está na pauta de um capitalismo modernizante,
cujo objetivo é dar a impressão de que não há mais nada a esperar da política.
Seria como se houvesse no capitalismo duas correntes políticas antagônicas: uma
atrasada e outra moderna. Ao povo, cabe a resignação.
À esquerda, cabe refletir com
profundidade a questão: vale a pena administrar o capitalismo com suas
perversas crises ou é mais importante sonhar com base real em uma outra
sociedade mais justa, digna e democrática? Democrática não apenas do ponto de
vista parlamentar, mas principalmente com a transferência de poder para
instâncias de decisão popular que podem e devem ser convocadas de maneira
contínua.
*Auditor fiscal do Trabalho
Fonte: Jornal O Povo
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