03/01/2013

IBGE aponta aumento de 56% no rendimento de empregados domésticos

Historicamente, a categoria de empregados domésticos não recebia o reconhecimento social e econômico pelos serviços prestados. Entre todas as categorias profissionais, esta recebe a mais baixa remuneração. Uma realidade paradoxal, levando em consideração que a doméstica – vale destacar que na grande maioria a função é exercida por mulheres – cuida dos bens mais valiosos do cidadão: seu lar e sua família.

Talvez pela baixa remuneração ou pela falta de projeção social, os empregados domésticos foram “sumindo” do mercado de trabalho. Já não é fácil contratar um trabalhador para essa função. A conjuntura acendeu o princípio fundamenta do mercado: a lei de oferta e procura. Como conseqüência, o rendimento da categoria sofreu algumas reviravoltas, de acordo com dados levantados pela Folha de S. Paulo, com base na Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.

Hoje, para conseguir contratar uma empregada doméstica, sendo ela diarista ou não, o patrão tem que desembolsar mais dinheiro. Com a menor oferta de domésticos, o rendimento do grupo cresceu acima da média. Desde 2004, o ganho real (descontada a inflação) do salário das domésticas foi de 56%, ante 29% da renda média dos trabalhadores. Em São Paulo, por exemplo, as trabalhadoras receberam, em média, R$ 721 por mês de janeiro a novembro - 6,7% a mais do que em igual período de 2011.
Mesmo com os números revelando uma curva ascendente, o que é uma boa notícia para a categoria, o rendimento das domésticas corresponde a 40% da média da remuneração de todos os trabalhadores.

De acordo com Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa do IBGE, o emprego doméstico é a única categoria em que fica claro que a falta de mão de obra elevou os salários. Somente nesse grupo o emprego não cresceu nos últimos anos. "É uma questão de oferta e demanda. Se há menos trabalhadores disponíveis, o custo desse serviço cresce", disse Pereira, em entrevista a Folha de S.Paulo. Segundo o técnico do instituto de pesquisa, quase 130 mil pessoas deixaram o trabalho doméstico nas seis maiores regiões metropolitanas do país, desde 2009. (Com informações da Folha de S. Paulo)

Qualificação
Para alguns especialistas, o “esvaziamento” desta categoria está diretamente relacionado com a ampliação do nível de educação das mulheres. Mais qualificadas, elas buscam oportunidades fora do mercado doméstico. A técnica de enfermagem Maria Ildete, por exemplo, durante algum tempo reforçou a renda familiar como diarista. Insatisfeita com os ganhos e sentindo as conseqüências físicas do trabalho braçal, Ildete traçou novos planos. Concluiu o ensino médio e ingressou em um curso técnico de enfermagem. Atuando na área, a técnica foi mais longe e prestou o vestibular para o curso de Serviço Social. Feliz com as conquistas profissionais, ela aguarda o início das aulas. “Foi uma longa caminhada até aqui. Tive que me transformar em várias mulheres para dar conta dos cursos, da casa, dos filhos, do marido e dos trabalhos. Com fé, eu sabia que chegaria onde queria. Ainda tem muito caminho a ser percorrido, mas tenho orgulho de tudo que construí até agora”, comenta a nova universitária.

Traçando o contraponto, porém, traduzindo ainda o perfil da categoria, Maria Selma Oliveira sempre trabalhou como doméstica. Com baixa escolaridade, Selma conta que enfrentou dificuldades para encontrar outros tipos de emprego. Atualmente, ela afirma que está no melhor emprego de sua vida. “Trabalho bem perto da minha casa. Tenho carteira assinada, salário mínimo, horário flexível e um ótimo convívio com a minha patroa, uma relação que supera o vínculo empregada-patroa. Estou nesse emprego há dez anos e pretendo ficar até a minha aposentadoria”, destaca Selma. Contudo, ela faz uma ressalva: "Fiz grande esforço para minha filha terminar os estudos e também incentivei minhas irmãs a estudarem. As minhas irmãs chegaram a trabalhar como domésticas, mas hoje atuam em outras áreas. Estou feliz com meu trabalho, tudo que consegui na vida foi através dele. Mas, tenho consciência que é um emprego cansativo. Meu esforço pela minha filha e irmãs foi justamente para elas terem, pelo menos, o direito de escolher", conclui.
Última atualização: 02/01/2013 às 12:14:34
 

Boa Notícia

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