Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
Adital
Há quem julgue essas tradições como resquícios de um tempo passado e de culturas rurais que as cidades destruíram. Entretanto, o significado profundo dessa piedade se mantém vivo e atual. De fato, para as comunidades cristãs populares pouco importa se a página do evangelho que conta a visita dos sábios do Oriente ao menino de Belém é de tipo simbólico. Os próprios magos não são figuras históricas, mas a tradição os tornou reis magos e fez da viagem deles, conduzidos por uma estrela, do Oriente até Belém o protótipo de toda a busca humana do Mistério.
Pessoas pertencentes a todas as tradições espirituais, como também intelectuais de todas as culturas, mesmo se não pertencem a nenhuma religião específica vivem uma verdadeira peregrinação interior na busca de apreender e viver o mistério mais profundo da vida. A luta cotidiana pela existência e a agitação da sociedade atual tenta as pessoas a esquecer ou mitigar essa busca. O sentido mais profundo das celebrações populares do Natal e Reis Magos é revigorar essa procura no mais profundo das pessoas.
Este começo de 2013 coincide com a exibição no circuito cinematográfico brasileiro do filme "As aventuras de Pi”, filme do diretor tailandês Ang Lee que antes nos dera filmes da qualidade de Razão e Sensibilidade ou mesmo A montanha de Brokeback Mountain. Agora, adaptando um romance canadense, nos mostra o jovem hindu com esse nome misterioso, ao mesmo tempo engraçado e enigmático (Pi). Ele se diz, ao mesmo tempo, hindu, cristão e muçulmano e deve sobreviver a um naufrágio e enfrentar o mar revolto em um pequeno barco e junto com um tigre de Bengala, do qual ele deve se defender e, ao mesmo tempo, conviver. O oceano da história de Pi simboliza o universo no qual navegamos, cada um em seu pequeno barco, junto com seus anjos e suas feras. As devoções populares natalinas, assim como o filme nos fazem reviver a busca que os evangelhos simbolizam ao contar a visita daqueles astrólogos do Oriente a Jesus. Hoje, os reis magos somos nós e todas as pessoas que não desistem da busca interior e se dispõem a aprofundar o diálogo na escuta e no aprendizado uns com os outros. Que, para cada um/uma de nós, esse ano novo seja marcado pela verdade do que canta Milton Nascimento em uma de suas mais famosas canções: "Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim. Doce ou atroz, Manso ou feroz, eu, caçador de mim”.
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