Dom Helder levava uma vida simples e era um homem de muita coragem, apesar de sua pequena estatura, nunca deixou de combater e denunciar crimes
José Maria Pontes*
No último dia 7 de fevereiro, se vivo fosse, Dom Helder Câmara teria comemorado 104 anos de vida. Não podemos deixar passar em branco a data de nascimento do maior cearense de todos os tempos, único brasileiro a ter o nome indicado por quatro vezes para ganhar o Nobel da Paz (1970, 1971, 1972 e 1973), só não conseguindo devido a um movimento de difamação orquestrado pelo governo militar brasileiro, na Europa e Estados Unidos.
Esse grande homem se destacou no mundo quando teve a coragem cívica de denunciar as torturas aos presos políticos no nosso País no período mais crítico da nossa história. Chegava a parar as principais universidades da Europa e dos EUA quando de suas conferências.
Dom Helder Câmara publicou livros em vários idiomas e soube como ninguém defender e viver os ensinamentos deixados por Cristo como justiça e humildade.
Nasceu e viveu no Ceará até poucos anos após sua ordenação sacerdotal, depois foi transferido para o Rio de Janeiro quando se destacou na sua luta em defesa dos mais pobres e injustiçados, quando foi sagrado bispo.
Em 1964 foi promovido a arcebispo de Olinda e Recife, em Pernambuco, onde se destacou na defesa dos presos políticos e da volta à democracia. Ao chegar para assumir a Arquidiocese de Recife e Olinda fez a opção de morar na sacristia da igreja das Fronteiras ao invés de morar no Palácio Episcopal, para estar mais perto do povo; ao invés de ter um crucifixo de prata ou de ouro no peito como a maioria das autoridades da igreja católica, fez a opção por um de madeira.
Dom Helder levava uma vida simples e era um homem de muita coragem, apesar de sua pequena estatura, nunca deixou de combater e denunciar os crimes cometidos pela Ditadura Militar, mesmo após ter sido sua casa metralhada por várias vezes.
Dentro da própria Igreja católica, Dom Helder tinha seus adversários, apesar de ser grande amigo de Paulo VI. A Cúria Romana interceptou por várias vezes suas correspondências ao Papa e também foi proibido de viajar pelo mundo fazendo seu papel de embaixador da paz.
Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e teve grande atuação no Concílio Ecumênico II.
Uma grande injustiça foi cometida contra Dom Helder, quando, em 2009, ano do seu centenário de nascimento, a cidade de Fortaleza, sua terra natal, deixou passar em branco, esquecendo aquele que foi reconhecido em vários continentes como cidadão do mundo pela sua luta em favor da vida digna para todos.
Nunca é tarde para se reparar um erro. O governador do Ceará, Cid Gomes, e o prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio podem juntos inaugurar um “Memorial pela Paz Dom Helder Câmara” para que as novas gerações possam saber que nesta cidade nasceu e viveu uma das pessoas que mais lutou pela justiça e pela democracia em nosso País.
Na cidade do Recife, o governo está construindo o Memorial Luís Gonzaga em homenagem ao centenário de nascimento do seu filho ilustre. Por que não fazer o mesmo com Dom Helder na sua Fortaleza?
*José Maria Pontes é Médico e presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará
Espiritualidade - O Povo
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