11/02/2013

Para teóloga, renúncia de Bento XVI foi 'decisão acertada'


Bento XVI acena para fiéis católicos reunidos em Valência, Espanha, em julho de 2006 Foto: JAVIER BARBANCHO / AFP
Bento XVI acena para fiéis católicos reunidos em Valência, Espanha, em julho de 2006JAVIER BARBANCHO / AFP
RIO - O Papa Bento XVI anunciou nesta segunda-feira a sua renúncia ao comando da Igreja Católica. Joseph Ratzinger permanecerá oficialmente no posto até 28 de fevereiro. Mas deverá ser uma figura de grande influência na escolha do seu sucessor, segundo a teóloga Maria Clara Bingemer, da PUC-RJ.
- É difícil prever como será a sucessão. Mas acredito que Bento XVI será determinante na eleição do seu sucessor. O Papa nomeia bispos e cardeais (22 ao todo). Ou seja, boa parte dos eleitores foram nomeados por Ratzinger. São religiosos alinhados com ele - declarou.
Edgar Leite, professsor de História das Religiões da Uerj, tem opinião semelhante:
- Bento XVI deu muita força aos setores mais conservadores da Igreja, e esse conservadorismo deve ter peso na escola do sucessor. Não dá para garantir o que vai acontecer, mas a importância intelectual dele como teólogo vai continuar a ter força no processo.
Entretanto, destacou Leite, nada impede que ventos menos conservadores movimentem a fumaça branca que sairá da chaminé no Conclave, que vai se reunir para a escolha do novo Papa.
- O fato de ser um colégio eleitoral mais conservador não quer dizer que os cardeais não estejam sensíveis a mudanças. Nada impede que possam ter uma opinião diferente, que surpreenda. É claro que a tendência da Igreja é mais conservadora, mas tudo vai depender da política e das discussões no Conclave. A sucessão vai depender de como a Igreja pretende se situar diante de situações contemporâneas e morais que se apresentam, como a questão do celibato, e reagir ao declínio do seu papel nos últimos dois séculos, quando perdeu o controle das pautas de ordem política, perdeu fiéis e passou a conviver com fortes crises de vocação - declarou.
De acordo com Maria Clara, a decisão de Bento XVI foi acertada e abre um "precedente" importante.
- Os Papas sempre foram vitalícios. Esta renúncia abre um precedente importante no mundo católico. A longevidade sempre foi um dado que acompanhou a maioria dos Papas. Mas creio que Bento XVI tenha tomado uma decisão corajosa e acertada. Ele não podia mais ocupar uma posição tão importante, que depende também de vigor físico.
A sucessão de Bento XVI deverá ocorrer em março, de acordo com o Vaticano. Para a teóloga brasileira, o novo líder da Igreja Católica não deve assumir o posto nem tão jovem como João Paulo II, que iniciou o seu Pontificado aos 58 anos, nem tão idoso quanto Ratzinger, que iniciou a missão aos 78 anos.
- Talvez o Vaticano adote uma solução intermediária, em torno dos 70 anos. É muito cedo para termos uma linha clara de sucessão, por enquanto temos só especulações. Muitos membros do conclave começam praticamente sem chance e, com a andar do processo, tornam-se nomes fortes. Na própria escolha de Ratzinger ocorreu algo parecido. Muitos comentam que os italianos Angelo Scola e Gianfranco Ravasi são os mais mencionados como papáveis, mas considero que a escolha esteja em aberto. Aparecerão outros. Tudo pode acontecer.
Para Leite, entretanto, a questão da idade pode não ser determinante na eleição:
- Na sucessão de João Paulo II, Ratzinger se mostrou com grande capacidade intelectual. Apesar da idade avançada, ele acabou eleito, pois os cardeais não conseguiram uma alternativa mais jovem e tão capaz. Falou mais alto a liderança do cardeal alemão. Nada impede que isso se repita. A política no conclave não é como a política que nós conhecemos no mundo democrático. Lá a voz do povo não é a voz de Deus. Por exemplo, a África é onde a Igreja mais cresce. Então seria razoável pensar que o novo Papa deveria vir de lá. Mas não é assim que a igreja raciocina no conclave. A tendência mais forte é de que o novo Pontífice venha da Europa, o centro histórico da Igreja, pois a maior parte dos cardeais é composta por europeus. Mas não dá para garantir.
O professor afirmou, ainda, acreditar que a escolha de um brasileiro como novo Papa seria uma grande surpresa.
- Como disse, nada pode ser descartado, mas seria uma zebra. Não vejo uma grande liderança entre os cardeais brasileiros em condições de ser Papa - opinou Leite.


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