Darling dos Santos relata que precisou superar desconfiança por ser mulher.
Jovem de 24 anos trabalha como mecânica industrial em Santa Rita.
“O preconceito só pode ser quebrado quando mais mulheres perceberem que são capazes de fazer o que quiserem, independente do que for”. Darling dos Santos Silva é a prova deste ensinamento que ela faz questão de pregar. A paraibana de 24 anos trabalha há 4 anos como mecânica industrial na Cosibra, empresa de produção de sisal situada em Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa. A mecânica trabalha em um setor predominantemente masculino e ocupa a função de soldadora, fato inédito no setor industrial da Paraíba.
Darling dos Santos explica que precisou superar o preconceito, a desconfiança e as próprias limitações para conseguir alcançar o objetivo que ela mesma traçou para si. “Não diria que fui vítima de discriminação. Fui bem recebida pelos meus colegas de trabalho, mas é óbvio que você nota uma certa desconfiança. Precisei me impor, como profissional, com respeito e dedicação tive tempo para mostrar meu trabalho”, comentou.
Casos como o Darling dos Santos são uma pequena amostra do aumento do número de mulheres no mercado de trabalho de todo o Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica (IBGE). Conforme dados do Censo 2010 divulgados em dezembro de 2012, o número de mulheres ocupadas cresceu cerca de 24% em 10 anos.
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Ainda conforme os dados do IBGE, as mulheres também têm o maior percentual com nível superior entre a população ocupada, cerca de 19,2%, em comparação com os homens, que é de 11,5%. Mesmo assim, o percentual de mulheres no mercado de trabalho brasileiro ainda é menor que o masculino. De acordo com o último Censo, cerca de 63% da população ocupada no país ainda é de homens.
Superando preconceitos e temores
Antes de vencer qualquer preconceito que eventualmente existisse entre os colegas, Darling dos Santos relata que precisou primeiro superar o temor da própria mãe. Segundo ela, a mãe temia que pudesse existir algum tipo de assédio por conta do ambiente predominantemente masculino.
“Minha mãe tinha receio, achava que eu fosse sofrer com o preconceito, que fosse passar por algum tipo de situação complicada ou constrangedora. Mas só tenho a elogiar meus colegas, sempre tive a ajuda de todos quando precisei e nunca passei por nenhuma situação mais constrangedora. Tive que aprender, por recomendação da empresa e por alertas da minha mãe, a me impor como uma profissional e como mulher”, relata.
De acordo com Roberta Viana, coordenadora do setor de Recursos Humanos da Cosibra, empresa que emprega Darling, foi preciso uma reunião com os colegas de trabalho antes de contratar a primeira mulher para o setor de mecânica. “Tivemos que orientar os funcionários sobre a presença de Darling. Ela sempre se mostrou uma profissional dedicada e qualificada, era do nosso interesse fazer com que Darling fosse efetivada, mas para evitar qualquer problema, tivemos que ter um cuidado redobrado na admissão”, contou Roberta Viana.
Paixão pela mecânica
Segundo Darling, a princípio não havia nenhum interesse em superar preconceitos. Ela conta que estava cansada de trabalhar com vendas e tinha interesse em fazer um curso profissionalizante. Então decidiu procurar o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), e por uma influência indireta da família, tendo em vista a ocupação de mecânico automotivo do pai e do irmão, escolheu o curso de mecânica industrial.
“Eu já conhecia a mecânica por conta do meu pai. Então escolhi mecânica industrial, porque já tinha certa intimidade, vendo meu pai trabalhar. Nem levei em consideração que esta sempre foi uma área com muito mais homens que mulheres. Logo depois comecei a estagiar na Cosibra, e em seguida fui efetivada como a primeira mulher da área da mecânica na empresa. Acabei servindo de exemplo, de incentivo para muitas pessoas”, completou.
Segundo a mecânica, com o passar dos anos o interesse pela área foi aumentando, tanto que logo após término do curso de Mecânica Industrial no Senai, ela concluiu os cursos de especialização em solda e ingressou no curso técnico de Mecânica no Instituto de Tecnologia da Paraíba (IFPB). Para superar os desafios, Darling dos Santos afirma que é preciso primeiramente não desistir nunca de seus objetivos.
“É preciso ter coragem, dedicação e superar as perspectivas que as pessoas tem das mulheres. Não existe mais função exclusiva para homens ou para mulheres. A mulher moderna sabe que pode chegar onde ela quiser, basta acreditar”, concluiu.
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