Plínio
Bortolotti*
Endeusar ou
demonizar Hugo Chávez – os de sempre farão isso – pouco explicará a respeito de
sua personalidade e sobre as profundas mudanças que sua política provocou na
Venezuela.
Chávez mudou a
cara do país, que ficou mais parecida com a sua própria face, um índio oriundo
das classes pobres, para as quais e elite branca sempre virou as costas.
Se aqueles que o
criticam de fora do país não perceberam isso, o perspicaz Henrique Capriles, o
principal opositor do chavismo, “captou a mensagem” que vinha dos de baixo:
Chávez melhorou-lhes a vida, propiciou-lhes mais renda, mais saúde e mais
educação. Capriles, na sua campanha presidencial contra Chávez, comprometeu-se
a manter essa política – e, apesar da derrota – certamente, não teria a
quantidade de votos obtidos se tivesse agido de modo diferente.
Haverá poucos
opositores que terão coragem de combater essas conquistas sociais – pelo menos
abertamente – sem correr o risco de anularem-se politicamente. O chavismo
deverá ser mais persistente que o homem que o criou, como é o caso do peronismo
na Argentina.
Sem dúvida, há
muito o que criticar em Chávez, como a desorganização econômica do país, o
personalismo exacerbado, a sua proximidade com ditadores dos mais diversos
matizes, os métodos utilizados para fazer algumas mudanças – operando, por
vezes, no limite da democracia. A sua retórica exacerbada também incomodava
adversários e inimigos, mas a par disso, era pragmático: “el diablo”, os Estados
Unidos, era um dos maiores compradores do petróleo venezuelano.
Os seus acertos
e erros serão explorados pelos admiradores e detratores. De qualquer modo,
condenando-se ou louvando-se Hugo Chávez, há um ponto que todos devem
concordar: a história republicana da Venezuela terá de ser dividida entre antes
e depois de Chávez – ou seja, a.C./d.C.
*Diretor Institucional do Grupo de Comunicação O POVO
plinio@opovo.com.br
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