29/04/2013

Escutar a voz - Dom Moura

Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros

Não basta haver boa audição para se aceitar a proposta proferida pela voz de quem tem um ideal diferente e elevado. A aceitação depende da vontade de quem escuta e se envolve na busca de valores maiores. Estes, para serem conquistados, exigem renúncias e opões por caminhos mais íngremes de subida. Remar contra a correnteza dos instintos requer motor com força suficiente para vencer as paixões e os apetites sensoriais, muitas vezes estimulados por pessoas e instrumentos de comunicação guiados por interesses materialistas. A pessoa e a proposta de Jesus têm sido aceitas por muitos. Mas há os que as rejeitam e as atacam. Mas quem as propugna não tem medo das oposições. Possui um ideal bem elevado, a ponto de dar a vida pelo que vive e prega. Perseguidos, Paulo e Barnabé anunciaram que iriam ensinar aos pagãos as verdades da fé, uma vez que muitos judeus se opunham a eles: “Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas como a rejeitais e vos considerais indignos... sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos” (Atos 13, 46).
O barulho dos ídolos faz muitos terem dificuldade de ouvir a voz do verdadeiro Deus, que aponta os valores mais elevados, como a ética, a justiça, a misericórdia, a família, os empobrecidos, a fé religiosa comprometida com a promoção do bem comum, a boa política, a doação de si pelo bem da comunidade, o compromisso com a defesa do meio ambiente, a valorização e o respeito às virtudes do semelhante...
Há quem tem voz muito baixa, não dando real possibilidade de os outros escutarem e aderirem aos seus valores. Trata-se de quem dá pouco testemunho do que prega. Não convence. Fala mas não faz. Nessa categoria também se encontram os que não vão a campo para mostrar os valores condizentes com o seguimento do Mestre. Acomodam-se na fé. Querem da comunidade religiosa certas vantagens e até orientações, bem como os dons de Deus apresentadas por ela. Mas guardam-nos só para si e não os comunicam aos demais. São os egoístas da fé. Não evangelizam. Não exercem a ação missionária. Não obedecem a Jesus que diz: “Ide e ensinai a todos o que vos ensinei” .
Os instrumentos de comunicação, fossem mais e melhor utilizados, otimizariam bem mais o anúncio da Boa-Nova da salvação. A comunicação ao interno da família, da comunidade e dos ambientes é de relevante importância para as pessoas poderem melhor ouvir e aceitar muitos valores humanos e cristãos para seu próprio benefício. O diálogo em família e em todos os lugares favorece a comunicação, a escuta e a aceitação do que é comunicado. Em tudo, porém, o que vai dar um verdadeiro apetite para se aceitar o alimento dos mesmos valores apresentados é o amor fundamentado na resposta de amor do próprio Deus, como o vivenciaram os discípulos de Jesus. Então todos os que os escutarem serão melhores convencidos de que vale a pena seguir o Senhor, o verdadeiro pastor das ovelhas: “O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida” (Apocalipse 7, 17).
CNBB

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