Para abrir os trabalhos do Laboratório de Produção - Curso Técnico em Produção de Eventos Culturais, realizado pela Quitanda das Artes e Proarte (Associação dos Produtores de Arte do Ceará), Fortaleza recebe hoje, no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o animador Marcos Magalhães, um dos idealizadores do Festival Anima Mundi.
Com 21 anos de história e porte internacional desde a primeira edição, o evento, realizado no Rio de Janeiro e em São Paulo, é um dos mais estáveis do Brasil, tornando-se referência para o mundo do cinema de animação.
"Uma história de amor e Fúria", de Luis Bolognesi. Assista ao trailer do filme:
Além da competição entre filmes, o principal foco do festival está em promover difusão e formação complementar aos animadores: cursos regulares de animação; mostras itinerantes de filmes, realizadas em várias cidades do país e no exterior; e o projeto Anima Escola, que leva a capacitação em linguagem de animação a professores e alunos em colégios municipais e estaduais.
Retrospecto
Antes de 1993, ano de criação do evento, a necessidade de formação sentida pelos profissionais da animação impulsionaria iniciativas de sucesso.
"Tudo começou com uma geração de animadores que não tinham acesso a formação, muitos procuravam isso fora. Eu mesmo fiz um estágio no Canadá, isso em 1981", explica Marcos Magalhães.
Segundo ele, esse período coincidiu com um momento em que algumas instituições, como a nacional Embrafilme, estavam se preocupando com o desenvolvimento do audiovisual no País. Assim, em 1985, Marcos participa de um acordo de coparticipação Brasil-Canadá, que inaugura o primeiro curso de formação de animadores no Brasil.
"Aí então surgiu um projeto de espalhar isso pelo Brasil. Não formar apenas Rio ou São Paulo. Em uma viagem pelo Brasil, acabei selecionando dez pessoas para voltar comigo pro Rio de Janeiro para fazer esse curso com os canadenses", recorda Magalhães.
Até hoje essas dez pessoas continuam a se encontrar e trocar figurinhas. Quatro delas são, justamente, os organizadores do Anima Mundi, e outro deles é o cearense José Rodrigues Neto, responsável por replicar o que havia aprendido no curso em sua cidade. Em Fortaleza, no início da década de 90, fundaria o Nuca, Núcleo de Cinema de Animação, até hoje em funcionamento na Casa Amarela Eusélio Oliveira. Aliás, uma das câmeras compactas produzidas pelos próprios canadenses e cedidas aos alunos naquela primeira formação, no Rio de Janeiro, ainda está em funcionamento na Casa Amarela.
Acima, "Minhocas", o primeiro stop motion brasileiro; os quatro organizadores do Anima Mundi, Marcos Magalhães, Aida Queiroz, Cesar Coelho e Lea Zagury; e registros de Wood & Stock, um dos filmes de Otto Guerra
"No começo dos anos 90, durante a crise na Cultura por causa do governo Collor, estávamos vivendo um clima de muito desânimo, principalmente na animação. Daí, sim, surgiu a ideia de um festival, para animar as coisas", revela Magalhães.
Com seus contatos entre os diretores de animação e organizadores de festivais no exterior, conseguiram, desde a primeira edição, manter um excelente elenco de convidados. "Já na edição de estreia, lembro que trouxemos o diretor de ´Os Simpsons´, que estava começando a se popularizar", recorda o diretor.
Cenário
Atualmente, o cinema nacional parece viver um bom momento, levando espectadores brasileiros a ver produções locais nas salas de cinema. Mas e as animações, como estão? Segundo Magalhães, o cenário é um dos melhores.
"Temos muito mais aspectos positivos do que negativos. Temos uma indústria se formando e uma direção para essa indústria muito clara e bem orientada. Diferentemente do que vem sendo feito nos países asiáticos, não acho que estejamos formando mão de obra para outros países", defende o diretor.
Para ilustrar, Magalhães aponta alguns trabalhos importantes, como a animação para jovens e adultos de Luis Bolognesi, intitulada "Uma história de amor e fúria", lançada no início deste mês; os trabalhos de Otto Guerra, que dirigiu, entre outros, "Wood & Stock - sexo, orégano e rock´n´roll", com os consagrados personagens do cartunista Angeli; e o filme "Minhocas", de Paolo Conti e Arthur Nunes, o primeiro longa-metragem de stop motion do País.
"Temos ainda séries como o Peixonautas, sendo exibidas em canais fechados e fazendo o maior sucesso. Isso, pra nós, é um reconhecimento, ver um produto nacional acompanhado pelas crianças", comenta.
Após a Lei da TV por Assinatura, em execução desde setembro do ano passado, os canais fechados passaram a investir bastante em animação. "É um produto que resiste ao tempo. Os personagens de uma série de animação, como Os Simpsons, não envelhecem. E não atraem apenas crianças, por que todos nós fomos bombardeados por animação desde o berço. Na verdade, os primeiros filmes animados nasceram para adultos e só após a estratégia de Walt Disney a coisa ficou orientada para famílias e crianças", detalha o animador.
Mais informações:
Aula inaugural do Laboratório de Produção - Curso Técnico em Produção de Eventos Culturais com Marcos Magalhães, idealizador do Anima Mundi. Hoje, às 19h, no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (R. Dragão do Mar, 81. Entrada ao lado do Planetário). Contatos: (85) 3488.8608.
MAYARA DE ARAÚJOREPÓRTER
Diário do Nordeste
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