Profundamente incomodados com a situação da violência em Fortaleza, dois empresários da área de marketing e estratégia, Elias Hissa e Bosco Couto, resolveram criar uma página no Facebook, em dezembro do ano passado, intitulada como "Fortaleza Sem Medo" (FSM). A mobilização via web já conta com mais de 6 mil adeptos.
foto: No Facebook, a página do movimento "Fortaleza Sem Medo" conta hoje com mais de 6 mil apoiadores
A iniciativa começou no perfil pessoal de Bosco Couto, com a publicação de um texto comentando sobre a sua insatisfação com a insegurança da cidade. O texto gerou um grande número de curtidas, compartilhamentos e comentários. Toda essa repercussão despertou o interesse de ampliar a discussão e mobilizar a sociedade através de uma página na rede social.
Compartilhando da mesma ideia, o sócio Elias Hissa aderiu ao movimento, e juntos, eles começaram a fazer pesquisas sobre situações similares no mundo. A principal referência foi a transformação de Bogotá, capital da Colômbia, que é apontada como um exemplo de sucesso no combate à violência urbana. Só para se ter uma ideia, de 1993 para 2004, a taxa de homicídios de Bogotá despencou de 72 para 22 por 100 mil habitantes, representando uma queda de 70%.
Com base em pesquisas e estudos sobre a criminalidade e utilizando suas potencialidades profissionais, os empresários fizeram uma carta com objetivos e estratégias para tentar modificar a insegurança da capital cearense. O documento apresenta um plano que envolve ações de prevenção e contenção da violência. No plano, publicado na página do "Fortaleza Sem Medo", estão especificadas estratégias que buscam reduzir e desestimular a entrada de pessoas no crime e drogas com o desenvolvimento da educação, urbanismo, redução da desigualdade social, além da implementação de iniciativas de coibição, que contenham e combatam o crime e a violência com uma estrutura de inteligência, polícia e tecnologia.
Desafios
Um dos desafios dos idealizadores do movimento é barrar políticos e sindicatos que querem utilizar da popularidade do movimento para promover suas ações. "Eu estou utilizando o meu conhecimento voluntariamente para contribuir com a cidade, não quero ganhar nada com isso. O nosso objetivo é impulsionar o governo e a prefeitura a realizar ações que modifiquem o cenário de insegurança presente em Fortaleza. Não queremos envolvimento nenhum com interesses políticos", ressaltou Bosco Couto.
O movimento pretende promover a paz e pressionar o governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza por mudanças para deixar a cidade mais segura. Para o sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos e Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcos Silva, essa iniciativa é reflexo da falta de políticas públicas do governo com a sociedade e são resposta à elevada taxa de criminalidade na cidade, um grande número de homicídios e latrocínios que vem aumentando.
Para o pesquisador, o movimento nasce porque há uma deficiência e a sociedade está procurando mecanismos para modificar essa realidade. "Esse é um sinal de que a sociedade está amadurecendo, mas a postura do Estado não condiz com esse amadurecimento", afirmou. "O movimento tem o intuito de dialogar com os diversos setores da sociedade, tenta criar um diálogo com os órgãos de segurança, com o poder, e isso pode trazer muitos benefícios", completou Marcos Silva.
Expectativas
A mobilização, por enquanto, vai continuar acontecendo apenas na web. Segundo Bosco Couto, é necessário aderir cada vez mais seguidores porque nem todos os adeptos comparecem em passeatas e carreatas. Quanto mais adeptos no Facebook, a garantia de que um grande número de pessoas vai comparecer a uma mobilização física é maior. "Precisamos de um grande número de pessoas para mostrar a força do movimento", disse.
O plano publicado na página do Facebook já foi visualizado por representantes da Prefeitura de Fortaleza e do Governo do Estado, segundo informou Bosco Couto. "Chegaram, inclusive, a nos ligar informando que viram e que vão colocar em prática algumas propostas", disse. Mesmo assim, Couto deixou claro que não vai parar de fazer o trabalho de divulgação dos crimes na página do Facebook. E que continua recebendo depoimentos de vários usuários contando situações de assalto e violência da cidade.
Seguidores
Dos seguidores, o empresário de desenvolvimento de sistemas Valder Cantidio é um dos mais envolvidos no movimento. Ele conheceu o FSM através do compartilhamento de um amigo na rede social. Em seguida, resolveu pesquisar mais sobre o assunto que também lhe incomoda bastante. "Várias pessoas próximas a mim já foram assaltadas. Eu vivo sempre com medo. Moro no Meireles e não tenho condições de circular nem por duas quadras sem o terror da insegurança", declarou. "Quando convido amigos para jantar aqui em casa, eu chego a quase implorar para que eles venham de táxi porque tenho medo de que o carro deles seja roubado. De certa forma, vou me sentir culpado se isso acontecer", completou. Agora, Cantidio faz um trabalho de divulgação do FSM, procurando cada vez mais adeptos para apoiar o movimento.
Mais informações
A página do movimento Fortaleza Sem Medo (FSM) pode ser acessada no Facebook, através no endereço www.facebook.com/Fortalezasemmedo
Diário do Nordeste
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