12/06/2013

Fernando de Noronha: Cinco Séculos de História

O Arquipélago de Fernando de Noronha tem apenas 26 quilômetros quadrados de área. Trata-se, portanto, de uma porção diminuta da vastidão de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do Brasil. Mas sua importância ao longo de nossa história é inversamente proporcional à pequena dimensão espacial de que dispõe. Tanto que poucos pontos do território nacional atraíram tanto a cobiça de diferentes povos como as 21 ilhas estrategicamente localizadas em meio ao Oceano Atlântico, a pouco mais de 300 km da América do Sul.
A relevância histórica de Fernando de Noronha merece, portanto, o abnegado trabalho de pessoas preocupadas com a preservação da sua memória. Marieta Borges Lins e Silva tem se notabilizado como legítima defensora do valor do arquipélago. Em quase quatro décadas, a historiadora vem executando uma busca obstinada e incansável, em acervos oficiais e particulares, por informações que permitam reescrever a história de mais de 500 anos de Noronha. Além disso, tem participado pessoalmente de diferentes projetos em prol da preservação e melhoria da qualidade de vida no arquipélago.
O livro que o leitor agora tem à mão – Fernando de Noronha: Cinco Séculos de História – é certamente a mais rica e ilustrada obra já escrita sobre a origem, evolução e atualidade do arquipélago. Trata-se de uma espécie de culminância que torna ainda mais viva a já notável dedicação da Professora Marieta. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por meio da Pró-Reitoria de Extensão (Proext) e da Editora Universitária (EdUFPE), sente-se honrada em apoiar a publicação de um título tão importante.
Nestas páginas o leitor encontrará não apenas fatos sobre um lugar, mas em especial registros sobre as pessoas que construíram, com suas histórias pessoais, a história de Fernando de Noronha. Viajantes, piratas, prisioneiros, presos políticos, militares, administradores, cientistas, artistas, turistas, ecologistas e nativos. Todos figuram neste livro como testemunhas do percurso de ocupação do arquipélago.
A autora, em dez capítulos, constrói um registro diversificado. Além do resgate da ligação noronhense com a época das Grandes Navegações, a Professora Marieta aborda, por exemplo, como se consolidou a presença humana. Um capítulo inteiro – o segundo – aborda as passagens de estrangeiros pelo lugar. E não foram poucos: holandeses, franceses, italianos, americanos, espanhóis, ingleses, alemães, suecos, suíços e belgas. 
Outro curioso e rico viés de focalização histórica é a rememoração da importância dos sistemas de defesa construídos no arquipélago ao longo dos séculos. Tem-se acesso à descrição da penosa construção de fortificações no século XVIII e da constituição de uma base militar estratégica no século XX, em plena II Guerra Mundial.
Há também páginas dedicadas ao pungente “longo tempo sem liberdade”, no qual o isolamento de Fernando de Noronha serviu de salvaguarda à construção de Colônia Correcional e Presídio Político. A historiadora apresenta registros que atestam a resistência dos que foram forçados ao suplício do cárcere, muitas vezes com castigos físicos, vivendo, ironicamente, o inferno em um verdadeiro paraíso tropical. 
Já sobre “os tempos de presença militar”, recebem destaque as bases norte-americanas construídas durante a II Guerra Mundial e depois, ainda no século XX, para, entre outras coisas, interceptação de mísseis teleguiados. Outro importante assunto é a renhida reintegração do arquipélago ao estado de Pernambuco.
Não poderia faltar uma minuciosa abordagem sobre a “natureza excepcional” de uma localidade que veio a se constituir como um santuário ecológico. A autora, neste tocante, versa sobre os aspectos geográficos, constituindo um diversificado panorama da flora, fauna e relevo, no qual enumera as espécies, ilhas, rochedos e praias noronhenses. Aspectos que chamaram a atenção até de cientistas, como Charles Darwin, que visitou Fernando de Noronha em 1832. Destaca ainda a luta pela constituição do arquipélago como Área de Preservação Ambiental e Parque Nacional Marinho.
Por outro lado, Marieta Borges Lins e Silva não deixa de valorizar a riqueza imaterial de Fernando de Noronha, uma vez que dedica significativo espaço para as manifestações humanas que se incorporaram à essência do local. Nas próprias palavras da autora, trata-se de “um tesouro intangível que vale ouro”. Um dos mais interessantes temas neste âmbito são as lendas noronhenses, como a “da Alamoa”, “fulva e cruel donzela” responsável por levar “terror por toda parte nas suas correrias noturnas”. Mas há também outros tópicos cativantes como a farmacopeia ilhéu com suas plantas medicinais autóctones, bem como o vocabulário local, notável por “rebatizar pessoas e coisas”, legando-nos termos como “euforonha”, a “euforia de Noronha”, que se manifesta em quem conhece o arquipélago.
Como boa poetisa que também é – tanto que ocupa cadeira na Academia de Artes e Letras de Pernambuco –, a autora não se furta em consagrar as manifestações artísticas relacionadas a Fernando de Noronha. A “arte através dos tempos”, feita em ou sobre Noronha, figura em abordagem a respeito, por exemplo, das “artes visuais na cartografia, nas telas, na escultura, no bico de pena, no vitral, na filatelia, na arte sacra, nos símbolos e honrarias, nas artes cênicas e na dança”. A literatura também recebe seu devido espaço, com o registro de poemas e canções escritos por “poetas-presos” no arquipélago nos séculos XIX e XX e por poetas que respiraram os tempos de liberdade nos séculos XX e XXI.
Um destaque à parte deve ser feito à diversificada iconografia da obra. Não bastasse a riqueza textual deste livro, a autora brinda o leitor com um belíssimo repertório de imagens sobre Fernando de Noronha. Nestas páginas, o leitor encontrará mapas como Planisfério de Juan de la Cosa (1500), além de fotos históricas, como as que registram a decolagem do hidroavião de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922, e a passagem do Zepellin pelos céus de Noronha, em 1931. Não menos belas são as fotos sobre as belezas do arquipélago, feitas por verdadeiros artistas da fotografia.
Apresentada a obra Fernando de Noronha: Cinco Séculos de História, só nos resta parabenizar a autora pela excelente produção e desejar ao leitor uma ótima leitura.

Maria José de Matos Luna
Diretora da EdUFPE



Autora: Marieta Borges Lins e Silva

CatolicaNet

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