Carlos Alenquer
Sorria. Você está sendo filmado. E-mails, segundo consta, ficam num lugar chamado nuvem – sobre a qual, dizem os especialistas, mais cedo ou mais tarde vai substituir o pen drive. Ora, se ficam numa nuvem, nada mais natural do que ficar exposta à curiosidade pública. E dos governos, claro. Pode ser espantoso, mas não é inimaginável.
Por outro lado, ser ingênuo a ponto de acreditar que os googles da vida oferecem comunicação gratuita sem pedir nada em troca – isto, sim, é espantoso. Gente que frequenta a web desde seu comecinho falava, tempos atrás, num tal de Echelon, um espião utilizado por autoridades de vários países para monitorar de e-mails a redes sociais; ao escrever alguma palavra do repertório do programa (tipo bomba, terrorismo, guerrrilha e outras do gênero), automaticamente todos os seus arquivos de correspondência seriam esquadrinhados pra ver o que diabos você estaria tramando com seus interlocutores.
Ou seja: ao contrário da famosa metáfora de Magalhães Pinto (política é como nuvem: você olha, está de um jeito; olha de novo e já é outra coisa) essas nuvens que nos espionam estão sempre no mesmo lugar, prontas para dar o bote. Principalmente naqueles que ainda acreditam em privacidade neste mundo nublado.
A tal piada pronta. A ESPN descobriu uma coisa interessante, no meio de todo esse aparato de segurança que ronda a Seleção: o cara da CBF responsável pelo credenciamento dos jornalistas foi proibido pela polícia de entrar na concentração. Não tinha credencial.
Lugares. Há um momento em que clientes do dia-a-dia perdem seu lugar – mesmo sendo frequentes e fiéis. O dia é o dos Namorados; o lugar é o La Traviata, o restaurante com os garçons mais bem educados do Brasil.
Naquela paisagem com deck voltado para a Savassi, neons (hoje apagados, mas vivos) de Benja (o artista plástico Marcos Benjamim), e com o aval do arquiteto Gustavo Pena (que inventou o lugar há muito tempo atrás), todas as mesas estão reservadas neste dia aparentemente mágico. Mesmo assim, não deixam de chegar pessoas sem namoradas/os para encontrar um lugar qualquer em que possam se sentar. Mas a realidade é que todas as mesas estão reservadas.
Aos/às que não têm namoradas/os ao vivo e em cores (estejam elas/eles em Brasília ou em Hong Kong), sobram duas opções: apelar para a solidariedade dos que atendem e comer uma brotinho de alici na mesa reservada por João e Maria, ou pedir uma para viagem.
Pelo clima romântico que rola nas mesas, algumas com vinhos, outras com chope cremoso, cuba libre, melhor é encontrar seu lugar. E, sem drama, mandar uma msn para a amada distante, dizendo que está tudo bem e que, no próximo ano, estaremos juntos, como no ano passado, imaginando que todos os dias serão dos namorados e ficaremos apaixonados, sempre. Em Ubajara ou em Cingapura.
Coisa de quem acha que, em dias e lugares assim, romantismo é assunto que pega que nem praga.
Já pisou na sujeira hoje? Madames (e cavalheiros) despreocupadas/os costumam deixar seus fofinhos fazendo xixi nas calçadas, quando não algo sólido. Não se preocupam com os pedestres que vêm atrás. E, às vezes, até deixam sinais nos corredores dos prédios – isso quando um síndico chato não proíbe a presença dos bichinhos (alguns, na verdade, de grande porte) e resolve cumprir as regras que proíbem sua convivência com seres humanos.
Esse problema estava preocupando os habitantes de Brunete, cidadezinha perto de Madrid, até que a McCann, agência de publicidade global, bolou um plano para acabar com a sujeira no município.
Com a desculpa de economizar no orçamento, a prefeitura juntou voluntários para chamar a atenção das donas (e donos) de cães que não andam com saquinhos plásticos para recolher o que os pequenos (e grandes) animais deixam pelos passeios da cidade – e passou a aplicar multas nos infratores.
A agência ganhou prêmios, a cidade ficou mais limpa e as madames e cavalheiros passaram a tomar mais cuidado quando passeiam com seus bichos adotivos.
Coisa difícil de acontecer por aqui. Com a frota crescendo e aumentando os engarrafamentos no asfalto, que prefeito iria se interessar numa campanha que diminuiu a sujeira dos cães nas calçadas?
Carlos Alenquer começou como jornalista (repórter e redator de rádios e jornais) em Fortaleza, depois no Rio e em Belo Horizonte. Migrou para a propaganda, mas continuou colaborando em vários jornais e revistas. Tem dois livros publicados: Anúncios (Achiamé, Rio) e 21 Poemas (Mazza, BH).
Dom Total
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