Uma refinaria comum elimina tóxicos que dão tom marrom à vegetação
Uma fumaça clara, quase transparente, sai da Usina Fazenda Guaxupé, em Divinésia, interior de Minas Gerais. A cada momento, caminhões vão trazendo toras de madeira para serem levadas aos fornos e carbonizadas. E antes de virar carvão, liberam água, que faz parte de sua constituição, depois dióxido de carbono (CO2) e mais 200 gases poluentes seguem para as chaminés. Mas nem toda chaminé é igual.
Ao chegar nesse topo, aquela fumaça altamente poluente não vai para a atmosfera: segue por dutos para um novo rumo, um outro forno, no qual há o tratamento dessas substâncias. E assim o ar recebe vapor de água e dióxido de carbono vindos da primeira Refinaria de Carvão Ecológica do Brasil. Sem que a natureza perca seu tom verde e pague caro pelo "desenvolvimento", um sonho que vem dando certo para seu idealizador, o empresário Sebastião Fernandes.
“Quando pensei em construir esta usina, eu fui um visionário, porque tinha aqui quatro cidades (Senador Firmino, Divinésia, Dores do Turvo e Ubá) e eu iria poluir todas elas, causar um monte de problemas. Também imaginei que com o tempo a cobrança pela questão ambiental seria maior, que as leis iriam mudando”, conta com seu sotaque mineiro Sebastião, ex- empresário do mercado financeiro e dono de fazenda desde 1982.
Já em 1997, Sebastião começou o projeto usando sementes clonadas de eucaliptos. Mas ele queria mais, queria produzir carvão sem agredir o meio ambiente. Em 2005, um professor universitário e amigo pessoal indicou que ele fosse à Universidade Federal de Viçosa (UFV), pois lá ele encontraria alguma tecnologia que pudesse ajudar sua ideia “visionária” a virar realidade. E assim a aspiração de Fernandes foi ao encontro do, à época, doutorando Daniel Câmara Barcellos, hoje engenheiro florestal.
Barcellos desenvolvia uma pesquisa para queimar as substâncias químicas liberadas durante a carbonização da madeira e transformar esses gases em dois tipos de substâncias: dióxido de carbono e água. É o que é feito na usina ecológica, desde maio deste ano de 2013.
“Hoje a gente queima 100% dos gases. Ainda não tem como não eliminar CO2, mas para o efeito estufa, a fumaça comum teria substâncias como o metano, que é 22 vezes mais poluente que o dióxido de carbono. Tem o alcatrão que também faz muito mal à saúde”, relata o engenheiro e proprietário da Barcellos & Câmara Indústrias Termoquímicas, empresa administradora da refinaria.
Resultados
Além de os gases mais poluentes serem queimados, a usina tem pleiteado a venda de créditos de carbono, que podem aumentar os lucros em 2 a 3%. Outro fato é que a fazenda tem espaços para a cogeração de energia elétrica através do calor liberado pelo processo de carbonização (em temperaturas de 400 ºC) e que já é reaproveitado para a secagem da madeira.“Quando a madeira é levada ao forno, ela primeiro libera água. Nós já fazemos hoje o processo de secagem, o que tem sido estudado é uma tecnologia que capte o calor e transforme em eletricidade”, detalha Barcellos.
A gestão da refinaria também controla a poeira gerada na queima, evitando que esses tóxicos repousem sobre a vegetação local e "sufoque" a respiração dos animais, plantas e das pessoas que vivem na região, inclusive dos trabalhadores.
Construída com recursos de Sebastião, já que segundo ele seria burocrático pedir empréstimo e financiamento, todo o produto que sai da Fazenda Guaxupé é comprado pela multinacional norte-americana Dowcorning. “Eu não tenho do que reclamar, não estou buscando novos compradores”, garante Fernandes.
A Dowcorning utiliza o carvão ecológico na base da produção de silício metálico, um dos componentes do silicone que vai para a indústria cosmética dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Eco Desenvolvimento
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