Padre Geovane Saraiva*
A festa da Transfiguração do Senhor nos leva a olhar para a Sagrada
Escritura e nela, ver a presença do profeta Elias, grande mestre na escola da
oração e da contemplação, que caminhou sempre na presença de Deus (cf. 1Rs 19).
Sua fé no único Deus – numa fé sólida e amadurecida na provação – impressionou
muitíssimas gerações de homens e mulheres na história do povo de
Deus.
Quero aqui agradecer a Deus pelo Carmelo Santa Teresinha de Fortaleza,
vendo nas nossas queridas Irmãs Carmelitas, "nosso pai Santo Elias",
como elas costumam chamar. Escolheram-nas, a exemplo do mesmo, viver de uma
única ocupação – na presença de Deus, pelo
trabalho e pela oração, mostrando ao mundo que vale a pena contemplar a beleza
de um Deus essencialmente terno e bondade sem limitastes (cf. Sl 139), tendo
diante dos olhos o Monte Carmelo, na sua mais elevada expressão, a Jerusalém
Celeste.
Pela nossa fé vemos Jesus, o Filho de Deus, no Monte Tabor, manifestando
aos seus amigos todo o seu esplendor. Ele revela a divindade que está dentro
dele, antecipando, assim, a sua glória e a nossa glória futura. São João nos
assegura: “Quando Cristo aparecer, seremos semelhantes a ele, pois o veremos
como ele é” (1Jo 3,2).
Jesus Cristo, na montanha sagrada, transfigurou-se, isto é, mudou de
aparência. Os três apóstolos, Pedro, Tiago e João ficaram deslumbrados. Eles
queriam que essa alegria ficasse sempre entre eles. Daí a proposta: Vamos
construir três tendas, porque aqui é bom demais e a nossa vida será
perpetuamente fascinante e maravilhosa (cf. Lc 9,33).
No alto da montanha, Jesus Cristo, antes da sua paixão, com Moisés e
Elias revelou o esplendor de sua face, dizendo-nos que haveremos de nos
transfigurar, uma vez que nosso destino se fundamenta na sua palavra: “Nós
somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. Ele
transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo
glorioso” (Fl 3, 20-21).
“Uma voz do céu ressoa: Eis o meu Filho amado” (Lc 9, 35-36), que
nos faz ouvir com fidelidade a sua palavra e buscar no seu corpo e sangue o
alimento para nossa vida. E é precisamente pela força da palavra, do corpo e
sangue de Cristo, que vamos andar na sonhada esperança de sermos semelhantes a
ele, quando ele se manifestar em sua glória.
Que esta festa da transfiguração, celebrada pela Igreja no dia 06 de
agosto, nos faça compreender sempre e cada vez mais o sentido da páscoa eterna,
na certeza de que a partir deste mistério inefável, isto é, que significa o que não se pode expressar verbalmente,
identificando algo de origem divina e que transcendente toda nossa realidade
visível e palpável, indicando a nossa páscoa, quando
também, iremos experimentar a eterna transfiguração.
Como seria maravilhoso ver os cristãos, com pés
firmes no chão da realidade, abraçarem e saborearem o silêncio e, mesmo a
solidão, como condição imprescindível, no sentido de uma profunda mística, a
partir do mistério da contemplação da presença de Deus, a exemplo do profeta
Elias, que viveu unicamente para Deus e fez d’Ele o seu refúgio em todas as
circunstâncias de sua vida.
*Padre da Arquidiocese de
Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza,
da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente
da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
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