Marcus Eduardo de Oliveira*
Pela régua da tradicional macroeconomia, mede-se crescimento econômico de um país a partir das mudanças na produção física, enfatizando o aspecto quantitativo, levando-se em conta o movimento ascendente de algumas grandezas econômicas (renda nacional, geração de empregos, entre outras) modificando alguns setores econômicos.
Assim, crescimento é aumentar a quantidade dos bens de produção. Grosso modo, é expandir a base física da atividade produtiva colocando mais mercadorias nas prateleiras para que o deus-mercado absorva e repasse aos consumidores vorazes. Contudo, o crescimento econômico só faz sentido se promover o desenvolvimento social e humano, sem agressão ambiental. Por razões óbvias de finitude dos recursos naturais, esse propagado crescimento tem limites, embora a economia tradicional não aceite de bom grado esse apanágio.
Já o desenvolvimento econômico passa pela expansão e acesso das chamadas possibilidades criativas, proporcionando diversas oportunidades que se abrem aos indivíduos, permitindo à essas se coadunarem no imperativo das condições de melhoria da vida pessoal, até mesmo porque o desenvolvimento se refere às pessoas, e não aos objetos e as mercadorias.
Desenvolvimento econômico implica, ademais, mudanças estruturais, culturais e institucionais e visa indubitavelmente proporcionar bem-estar. Assim, o desenvolvimento social e humano tem o crescimento econômico como meio, e a melhoria do padrão médio de vida das pessoas como fim. Desenvolver uma economia, nesse sentido, é criar e possibilitar mais qualidade às pessoas. Enquanto crescimento é associado à quantidade, o desenvolvimento se associa à qualidade.
Como todo e qualquer sistema vivo que habita a natureza, o crescimento (espécie de “ser vivo” do sistema econômico) é uma condição que, mais cedo ou mais tarde irá acontecer.
Contudo, todo e qualquer crescimento tem um determinado ponto em que precisa parar uma vez que a expansão infinita – impossível de ser alcançada - não encontra base de apoio dentro de uma biosfera finita. Por isso, o crescimento tem limites, mas, o desenvolvimento, não.
Essa é a razão precípua que deve ser enfrentada com seriedade por governos que aplicam políticas econômicas que somente estimulam o crescimento, mas nem sempre conferem maior atenção ao desenvolvimento. Um dos motivos que leva a essa distorção de finalidades é enxergar nas taxas de crescimento as justificativas plausíveis para se atenuar, por exemplo, os vexatórios índices de miséria e pobreza que marcam algumas sociedades contemporâneas. Um dos equívocos ainda muito em voga nas economias modernas é defender que o crescimento, per si, elimina automaticamente as taxas de pobreza.
A pobreza jamais deve estar relacionada ao aspecto monetário. Não se deve conceituar pobreza apenas pela ausência de dinheiro. Logo, não é fazendo a economia crescer, gerando mais renda em nível nacional, que se conseguirá mediante isso colocar – automaticamente - um ponto final nas taxas de pobreza.
Se assim fosse, o desempenho econômico alcançado pelo Brasil nos últimos 100 anos, quando nossa economia fez o PIB crescer em mais de 150%, teria sido um dos mais ilustrativos exemplos. No entanto, a economia cresceu, mas não eliminou as diferenças sociais em proporção semelhante. O mesmo ocorreu com a economia mundial que nos últimos 210 anos cresceu mais de 50 vezes.
Pior ainda é verificar que todo esse crescimento econômico mundial ao longo do tempo mencionado se deu mediante intensa destruição e pauperização do meio ambiente. Definitivamente, quem degradou – e continua degradando - a qualidade de vida do planeta foi (e continua sendo) o sistema econômico praticado sem limites.
Em decorrência de se conduzir uma atividade econômica de maneira expansionista, coube ao homem-econômico destratar o meio ambiente em três grandes frentes: 1) no papel de usufruidor de recursos naturais; 2) na condição de consumidor voraz de bens e serviços e; 3) como potencial “produtor” de dejetos em forma de lixo.
Esse homo sapiens industrial, usando a expressão de Paula Brugger, soube como ninguém interferir nos planos da natureza. Nas palavras dessa autora: "A Terra tem 4,6 bilhões de anos. Durante as últimas frações de segundo geológico da história do nosso planeta, o homo sapiens industrial interferiu em ciclos naturais que levaram de milhões a bilhões de anos interagindo dinamicamente para formar as atuais condições de vida que conhecemos e às quais nos adaptamos. Tais intervenções antrópicas têm se traduzido frequentemente em problemas como extinção de espécies, mudanças climáticas, poluição, exaustão de recursos úteis ao homem e outras questões que nos são hoje bastante familiares."
*É conomista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br
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