25/08/2013

João Carlos Martins quer 'viver até os 100' por inclusão de jovens na música


Fernando PacíficoDo G1 Campinas e Região

Maestro João Carlos Martins durante apresentação em Campinas (Foto: Luiz Granzotto / Prefeitura de Campinas)Maestro João Carlos Martins durante apresentação
em Campinas (Foto: Luiz Granzotto / Prefeitura)
Um dos principais intérpretes de Bach no século XX, o maestro João Carlos Martins demonstra entusiasmo quando trata de novos capítulos para a 'saga das mãos'. Em entrevista ao G1, o regente titular da Orquestra Bachiana falou sobre o desejo que tem de viver por mais de 100 anos, comentou sua admiração pelo futebol de Lionel Messi, e analisou a orquestra sinfônica da cidade de Campinas (SP), onde fará apresentação gratuita neste domingo (25).

"O que falta na minha carreira é deixar um legado através da inclusão social de jovens. Meu pai foi até os 102 anos, quem sabe eu tenho uns 30 para queimar ainda. Para mim, a vida é sempre olhar para a frente com a esperança de criar algo", disse o músico paulistano, de 73 anos, que promove trabalhos de musicalização com jovens da periferia de São Paulo e outras capitais.
O repertório da apresentação marcada para as 16h, na Estação Cultura, será formado por obras de Beethoven, Mozart, Haydn e Mascagni. Nesta sexta, durante apresentação que antecedeu ao concerto de Campinas, em Valinhos (SP), o público também pode conferir versões de My Way (Frank Sinatra), Trem das Onze (Adoniran Barbosa - que nasceu em Valinhos) e Ave Maria.
O sinônimo de dor é esperança. Villa-Lobos dizia que as artes mostram a cultura de um povo"
Maestro João Carlos Martins
Obstáculos
Conhecido pelo grande público, também em virtude da trajetória de superação - já que em 11 anos passou por 19 procedimentos cirúrgicos para tentar reverter os problemas causados por dois incidentes aos nervos das mãos - o maestro diz que ainda precisa dedicar duas horas, por dia, às sessões de fisioterapia. "O sinônimo de dor é esperança. Villa-Lobos dizia que as artes mostram a cultura de um povo", ressalta Martins sobre a dedicação à música.
Durante a apresentação em Valinhos, bem humorado, entre as peças, ele contou episódios cômicos da própria trajetória e disse que não tem uma história de 'superação', mas de teimosia. "Existem dois tipos de obstáculos na vida: os que parecem intransponíveis, em que você precisa ter determinação; e os que são realmente intransponíveis, quando você precisa ter humildade. O grande segredo da vida é você conseguir distinguir um do outro".
Família
Ao falar sobre a influência da família, ele gosta de relembrar o pedido de casamento feito pelo pai. "Ele pediu para a minha mãe aprender a tocar piano. Ela achava que não tinha o talento e avisou o meu pai: 'Gosta de mim, mas deixa o piano para os nossos filhos quando eles nascerem", conta aos risos. Martins ganhou o primeiro piano aos 8 anos e estreou, aos 20, no Carnigie Hall, uma das principais casas de espetáculos dos Estados Unidos.
O maestro já fez parceria com a dupla Chitãozinho & Xororó e teve a história contada no samba-enredo da escola Vai-Vai, campeã do carnaval de São Paulo, em 2011. Em junho deste ano, Martins se apresentou para 2,5 mil pessoas na Concha Acústica de Campinas.
Maestro João Carlos Martins no show dos 10 anos da TV TEM. (Foto: Rafael Almeida / TV TEM)Maestro João Carlos Martins durante apresentação (Foto: Rafael Almeida / TV TEM)
A Sinfônica de Campinas
João Carlos Martins não se intimida ao opinar sobre a Sinfônica de Campinas (OSMC). Para ele, sucessivas gestões políticas atrapalharam o grupo desde o fim da década de 70, quando era  considerado o melhor em atividade no país. "Houve diversas fases e a melhor delas foi na época do Benito Juarez [diretor artístico da Banda Sinfônica do Exército], quando era uma referência. Isso deveria ter sido mantido, mas a política prejudicou em alguns períodos e não corrigiu os erros que deveria". Juarez permaneceu à frente da OSMC entre 1975 e 2000.

Por outro lado, ao avaliar o presente, Martins elogiou a conduta do maestro da Sinfônica, o chileno Victor Hugo Toro. "É um regente de ponta e o potencial da orquestra é enorme. Ela poderá voltar ao lugar que sempre mereceu no Brasil", destacou.
Maestro João Carlos Martins durante apresentação em Campinas (Foto: Luiz Granzotto / Prefeitura de Campinas)Apresentação da Bachiana levou 2,5 mil à Concha
Acústica, em junho (Foto: Luiz Granzotto / Prefeitura)
Pelé, Copa e vídeo para Messi
Longe da batuta, Martins usa parte do tempo livre para ver jogos de Lionel Messi, pelo Barcelona, e também lamenta quando vê atuações pouco inspiradas da 'Lusa', o time de coração. "Gostaria de dedicar um vídeo para a Portuguesa, mas não estão fazendo gols tão bonitos', brincou o maestro.

Em homenagem ao craque argentino, a Fundação Bachiana criou um vídeo em parceria com a Fundação Leo Messi, em 23 de julho, formado por 14 gols memoráveis do jogador exibidos ao som da Cantata nº 29, executada pela English Chamber Orchestra e sob regência de Martins. "Esporte e música podem ser conectados quando o ideal é a inclusão social", destacou o artista.
Esporte e música podem ser conectados quando o ideal é a inclusão social"
Maestro João Carlos Martins
Em uma rede social, o jogador agradeceu a homenagem. "Obrigado Maestro João Carlos Martins, a dedicação e gentileza de relembrar meus jogos com o maior compositor da música clássica, Bach!", diz o texto. Até a publicação da reportagem, o material foi visto por ao menos 203 mil internautas do YouTube. Clique aqui para conferir.

Ao falar sobre a relação com os gramados, ele também fez elogios a Pelé, e comentou sobre a chance de apresentar o Hino Nacional Brasileiro, durante a Copa de 2014. "Ele fez os prefácios de dois livros meus e, mais do que um ídolo, é o símbolo da minha geração. Se houver o convite para o Hino será uma honra, mas não fui consultado. Ele deve mostrar a nobreza do povo"
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