Cidade do Vaticano (AE) - As revelações de irregularidades que agitam o Vaticano não poderiam ter vindo à tona em um pior momento para o especialista em lavagem de dinheiro suíço Rene Bruelhart, contratado para conduzir a Santa Sé na direção de uma maior transparência financeira. Semanas atrás, Bruelhart estava na Cidade do Sol, na África do Sul, para a reunião anual do Grupo Egmont, um encontro de agências de informações financeiras de 130 países, enquanto o Vaticano anunciava que seus dois principais gestores bancários renunciaram em meio ao surgimento do escândalo financeiro. Os dois executivos foram responsáveis pela implementação de esforços contra lavagem de dinheiro muito elogiados no Banco do Vaticano.
Apesar das notícias negativas, a Santa Sé conseguiu a cobiçada adesão ao Grupo Egmont, juntando-se a um clube que tem como objetivo compartilhar informações financeiras na luta global contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo. Para Bruelhart, apelidado de “James Bond do mundo financeiro” por alguns veículos de comunicação, a adesão ao Egmont significa que o Vaticano agora tem mais ajuda no combate aos crimes financeiros - mesmo que isso não possa erradicá-los totalmente.
Michel SohnSemanas depois de ser entronizado, o papa Francisco prometeu transparência e nomeou cinco pessoas para conduzir as investigações sobre lavagem de dinheiro
“Com essa associação, nós nos tornamos um player digno de crédito no combate internacional e global contra a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo”, afirmou Bruelhart em entrevista por telefone. “Eles confiam em nós. Isso é muito importante.”
O Grupo Egmont, criado em 1995, pretende facilitar a troca de informação entre seus membros e melhorar a cooperação no combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Seus membros são unidades de inteligência financeira de bancos centrais de países - departamentos que coletam e investigam relatos de transações financeiras suspeitas.
Bruelhart dirigiu a unidade de inteligência financeira da Liechtenstein por oito anos, e conduziu o Grupo Egmont por dois anos antes de ser contratado pelo Vaticano como um consultor no ano passado. A Santa Sé o nomeou como diretor de sua própria unidade de inteligência financeira para fiscalizar todas as suas atividades financeiras. O papa emérito Bento 16 criou a Autoridade de Inteligência Financeira (AIF) em 2010, como parte dos esforços do Vaticano para cumprir as normas internacionais para combater a lavagem de dinheiro.
A AIF falhou em várias frentes quando foi avaliada no ano passado pelo Comitê Moneyval do Conselho da Europa, que ajuda os países quando se trata de seguir os regulamentos sobre transparência. Uma nova avaliação está prevista para dezembro.
Bruelhart afirmou que mudanças nas leis e regulações estão em andamento antes da avaliação do Moneyval, e que por enquanto a Santa Sé estava contente de ter conquistado a adesão ao Egmont. Perguntado sobre como o Egmont pode ter aprovado a Santa Sé quando ainda existem claramente problemas no banco, Bruelhart destacou que os critérios de avaliação do Egmont foram transparentes e formais, com visitas ao Vaticano e avaliação de seu quadro e regulamentos legislativos. “Nenhum país no mundo é totalmente perfeito”, ele disse. “O importante é que, se alguma coisa está acontecendo, você tem a autoridade competente e as ferramentas e medidas para tomar uma ação relevante.”
Vaticano vai compartilhar informações financeiras
O Vaticano mostrou certamente que está longe de ser perfeito. Semanas depois de ser entronizado, o papa Francisco nomeou cinco pessoas para conduzir uma comissão de investigação no Banco do Vaticano, o Instituto para Trabalhos Religiosos (IOR, em inglês), para encontrar a raiz dos problemas que têm assolado por décadas e atolaram o Vaticano em escândalos durante anos. Em 48 horas, um monsenhor do Vaticano foi preso em um caso de lavagem de dinheiro no valor de 20 milhões de euros; o Vaticano disse que iria cooperar com os investigadores italianos.
Em julho, os dois principais funcionários do IOR renunciaram. O chefe deles, o presidente do banco Ernst von Freyberg, elogiara algumas semanas antes a colaboração deles como “verdadeiramente satisfatória” e útil, porque o banco trabalhou para cumprir as normas contra lavagem de dinheiro. No início de junho, Von Freyberg disse que estava claro que o banco precisava de uma nova liderança “para aumentar o ritmo” da transformação do IOR - uma sinalização de que os gerentes tinham de alguma forma evitado essa transformação.
O próximo passo para Bruelhart será assinar um acordo bilateral com a Itália para partilhar informação financeira - uma medida essencial, já que os italianos criticaram duramente as transações financeiras obscuras do Vaticano, convencidos de que as pessoas têm usado o IOR para proteger o dinheiro de autoridades tributárias italianas. Promotores italianos abriram várias investigações que têm como alvo o Banco do Vaticano e as pessoas que podem tê-lo usado para objetivos não tão sagrados. “Nós identificamos os países que são relevantes e importantes para nós, e entre eles está a Itália, afirmou Bruelhart.
Na visita ao Brasil, o papa Francisco concedeu uma entrevista à Rede Globo de Televisão em que falou abertamente sobre o escândalo. Disse que é uma obrigação da Igreja atacar o problema de forma mais transparente possível.
Francisco prepara nova encíclica
São Paulo (AE) - Depois de publicar a Lumen fidei (Luz da fé), escrita a quatro mãos com o papa emérito Bento XVI, que vendeu 200 mil exemplares na Itália em um mês, o papa Francisco prepara uma nova encíclica, a Beati pauperes (Bem-aventurados ou felizes os pobres), que será lançada até 24 de novembro, no encerramento do Ano da Fé. Francisco aproveita o tempo para escrever no Vaticano, após ter renunciado às férias de verão, em Castelgandolfo, onde os antecessores costumavam se refugiar para fugir do forte calor de Roma entre julho e setembro. De acordo com o Serviço Brasileiro da Rádio Vaticano, o papa trabalha ainda em outros textos, dedicados a estudos da reforma da Cúria e do Instituto para as Obras Religiosas (IOR), conhecido também como Banco do Vaticano.
Pouco depois de ter tomado posse, há cinco meses, Francisco encarregou um grupo de oito cardeais de estudar as questões do governo central da Igreja e de apresentar sugestões para uma reestruturação da Cúria. A primeira reunião do grupo de cardeais está marcada para o início de outubro.
A nova encíclica, que, segundo agências católicas de notícias, teria igualmente a colaboração de Bento XVI, se centrará no tema pobreza, no sentido evangélico e sem nenhuma conotação política e ideológica. “O próprio título é extraído das beatitudes evangélicas e do discurso (sermão) da montanha, beatitudes que Francisco em seu tuíte de quinta-feira, dia 22, propõe como um ótimo programa de vida para todos nós”, afirmou a Rádio Vaticano.
http://tribunadonorte.com.br/news.php?not_id=259393
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