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A questão do viaduto no Parque do Cocó chegou a um ponto de dissenso que não pode ser tratado de modo apenas formal-jurídico. O confronto massivo entre dois movimentos (pró e contra a obra) que se propõem a se enfrentar, hoje, nas ruas, poderá ter consequências imponderáveis que não deveriam ser subestimadas. Criar um canal de negociação, com credibilidade suficiente para ser acolhido por ambas as partes, deveria ser a principal preocupação dos responsáveis.
Ambos os lados concordam com a possibilidade de se fazer uma intervenção de engenharia no local para facilitar os problemas de trânsito na área. Ora, isso facilita bastante uma solução, visto que não há posição irremovível contra qualquer tipo de obra. Cada lado tem uma visão própria – dentro dos conformes democráticos – sobre o projeto de cidade a que aspira e ambos têm legitimidade para cobrar atenção ao seu ponto de vista.
Ilusão e ingenuidade política seria imaginar que questões dessa natureza pudessem ser resolvidas apenas com a recorrência a instrumentos jurídicos. Fortaleza já demonstrou nas eleições ser uma cidade dividida ao meio, politicamente. Isso cria a necessidade de uma cultura política de negociação. Uma parte não pode impor, simplesmente, a outra o seu ponto de vista. Isso significa também que algumas questões fundamentais do município não podem ser resolvidas apenas com a alegação da maioria formal de votos, pois o que está em jogo é a expressão de uma realidade mais ampla, de cunho social e cultural, impossível de ser abarcada apenas pela dimensão eleitoral ou jurídica. Em outras palavras: metade da cidade tem que conversar com a outra e chegar a uma solução comum.
Como já dissemos inicialmente: ambos os lados concordam que alguma intervenção deva ser feita. Resta agora saber qual o modelo de obra poderá atender a ambos. Em casos como esse, em que o projeto causará impactos definitivos e irreversíveis, o critério não poderia ser a urgência do tempo ou o menor custo. Mas o que é estrategicamente melhor para a Cidade.
Afinal de contas, estaremos entregando uma solução – ou um grave problema – para as gerações seguintes. O “pragmatismo” numa decisão desse tipo não é o melhor conselheiro. O Brasil que surgiu depois de junho exige isso.
(O POVO / Editorial)
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