Foram quase 20 anos sem reformas e restaurações. Destes, seis se fizeram gastos elaborando e reelaborando projetos de reparos, prejudicados pela burocracia que envolve os bens tombados pela Prefeitura. Agora, enfim, a Igreja Bom Jesus dos Aflitos, na Parangaba, está passando por um processo de manutenção mais que necessário. Degradada, repleta de pichações e rachaduras, a estrutura consagrada como Patrimônio Histórico de Fortaleza em 2006 está em obras há mais de um mês, cerca de duas décadas após a última intervenção.
Grande fluxo de veículos no entorno gerou prejuízos no prédio, principalmente nas paredes, enegrecidas e fissuradas, além dos forros FOTO: JOSÉ LEOMAR
A reforma inclui uma série de procedimentos com o objetivo de recuperar os danos causados ao imóvel ao longo dos últimos anos. Segundo Ênio Nobre, consultor administrativo da igreja, o grande fluxo de veículos nas proximidades do local ocasionou prejuízos em todo o prédio, em especial nas paredes, enegrecidas e fissuradas. O forro, já em estado de deterioração, também será reforçado. A intervenção deve durar até dezembro e, enquanto isso, as missas são celebradas no Salão Paroquial, ao lado da Igreja.
Mas além de combater os impactos causados pelo movimento natural dos centros urbanos, o reparo pretende por fim à ação de pichadores e assaltantes que, constantemente, ameaçam a igreja. Na estrutura externa, pinturas apagarão os desenhos rabiscados de forma ilegal, enquanto as portas de acesso receberão grades para coibir roubos durante a noite, registrados diversas vezes no prédio, e outras tentativas de depredação.
Segurança
"O local é muito propício a todos os tipos de vandalismo. Há um mês e meio, sofremos um assalto onde roubaram nossa mesa de som e, antes disso, já haviam levado todo o material litúrgico da igreja. Em dias de jogos de futebol, muitas vezes a praça vira palco de brigas e acontecem depredações de carros, vidraças. Por isso, deixamos de realizar missa quando há partidas grandes", destaca Ênio.
Para moradores da área e fiéis que costumam assistir às missas celebradas na igreja, o estado de conservação da estrutura tornou-se cada vez mais crítico nos últimos anos, e a reforma se fez imprescindível. "As pessoas já estavam com medo que tudo caísse. Só não aconteceu nada porque o alicerce é forte, mas o prédio ficou muito deteriorado e o forro estava bastante degradado", afirma o comerciante João Cordeiro, que trabalha em frente ao local.
Conforme o consultor administrativo da Bom Jesus dos Aflitos, a manutenção também era um desejo antigo da gerência da instituição, mas a burocracia advinda do tombamento do imóvel restringiu de forma considerável as ações de recuperação. Ele relata que, desde 2007, a Paróquia tenta, juntamente à Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), planejar a reforma do prédio, mas sempre esbarrava em diferentes exigências.
"Apresentamos vários projetos, mas eles foram rejeitados sob o argumento de que não haviam pessoas qualificadas para fazer o restauro. Tivemos dificuldades porque a lei de tombamento não especifica que tipo de projeto é necessário, e a Prefeitura não dá suporte", critica Ênio.
O engenheiro responsável pela obra, Carlos Henrique Vieira, afirma que, diante dos impasses, a equipe chegou a pensar em desistir dos planos, mas devido à importância da instituição para a comunidade, resolveu insistir com o projeto. "Só não desistimos porque era da Igreja. Se fosse algo particular, já teriam deixado cair", confessa.
Segundo ele, a Paróquia encontra obstáculos na obtenção de recursos, uma vez que não possui apoio financeiro municipal ou estadual. "O trabalho está sendo custeado com recursos de doações e, agora, estamos procurando patrocinadores", diz.
História
Apesar de reconhecer a importância fundamental de preservar uma parte do patrimônio da cidade, o consultor administrativo da Igreja destaca a necessidade de garantir a manutenção do local. "A Igreja é histórica, mas também é uma junção de várias épocas. O fato de ser tombada enrijeceu muito os reparos, e isso acabou prejudicando a estrutura. Se não houvesse tanta burocracia, poderíamos ter feito intervenções há mais tempo", destaca Ênio Nobre.
O gerente da célula de Patrimônio Material da Coordenação de Patrimônio Histórico e Cultural da Secultfor, João Lucas Vieira, afirma não ter conhecimento de como foi realizado o processo de avaliação dos projetos na gestão municipal passada, mas esclarece que os parâmetros para as reformas, de fato, não se encontram na legislação municipal e, sim, nas diretrizes do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Segundo Vieira, a conservação do imóvel tombado é de responsabilidade dos proprietários, mas em alguns casos, a Prefeitura pode apoiar com recursos e incentivos. No entanto, ele afirma que não foi solicitado nenhum tipo de auxílio para a reforma da Bom Jesus dos Aflitos. O gerente frisa, ainda, que a secretaria está elaborando um projeto a longo prazo de restauração completa da Igreja, mas ainda não há prazos definidos para o início das intervenções.
VANESSA MADEIRA
REPÓRTER
FIQUE POR DENTRO
Festa tradicional começa no dia 15 de setembro
Todos os anos, a Paróquia Bom Jesus dos Aflitos comemora, neste mês de setembro, o início da Festa dos Caboclos, evento tradicional que existe desde 1607. Durante o festejo, a coroa de Cristo é retirada da imagem no altar e percorre capelas, casas religiosas e seminários de outras sete paróquias situadas nas comunidades próximas à Igreja.
Neste ano, a celebração tem início no dia 15 de setembro e vai até 1º de janeiro. Ao longo dos quase quatro meses de festa, cerca de 50 mil pessoas participam das atividades. Na Igreja Bom Jesus dos Aflitos, a tradição é comemorada desde 1877, quando o prédio foi construído. Em 2006, o imóvel foi tombado pela Prefeitura de fortaleza.
Diário do Nordeste
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