Buenos Aires - O governo argentino acusou nessa segunda-feira (9) grupos políticos ligados à greve policial de organizar a onda de saques que abalou nos últimos dias várias províncias do país, e prometeu denunciar penalmente os líderes grevistas.
"Pudemos comprovar que os saques não são espontâneos e sim organizados. Ocorrem de forma simultânea como uma medida de força (da polícia) à revelia da lei", afirmou o ministro da Justiça, Julio Alak, em entrevista coletiva.
Segundo Alak, a onda de saques - especialmente contra supermercados - "não responde a uma necessidade alimentar ou social". "A justiça vai agir com toda a firmeza contra os que devem prestar um serviço público essencial como a segurança e não o fazem".
Alak advertiu que seu ministério vai "realizar as denúncias penais correspondentes por crimes como alteração da ordem pública, ameaça, extorsão e incitação à violência coletiva", e exortou os policiais em greve para que retornem imediatamente ao serviço. "Não vamos tolerar que as forças policiais submetam governos constitucionais".
Segundo o secretário da Justiça, Julián Alvarez, "há uma rede organizada pelo facebook que claramente quer gerar um clima de instabilidade" na véspera da celebração dos 30 anos da recuperação democrática após a última ditadura (1976/83).
Um homem morreu durante os saques em Entre Ríos, uma das províncias afetadas pela greve dos policiais por melhores salários. A vítima "morreu eletrocutada em meio a um episódio de saque" na cidade de Concordia, 400 km ao norte de Buenos Aires, informou o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, em coletiva de imprensa.
Os protestos policiais explodiram na semana passada na província de Córdoba (centro), onde um jovem de 20 anos morreu baleado, e se estenderam para distritos do centro, norte e sul do país.
Em Concordia, policiais à paisana acompanhados por suas esposas se concentraram em frente à prefeitura enquanto tocavam tambores e agitavam bandeiras. O mesmo acontecia também na cidade de La Plata, ao sul da capital, segundo imagens da televisão.
"São grupos que pretendem semear caos e perturbação. Não é por acaso que esta caricatura de efeito autoritário procura minar a legitimidade democrática, quando a Argentina completa 30 anos de democracia ininterrupta", indicou Capitanich.
Na terça-feira serão lembradas na Argentina três décadas da restauração democrática que colocou fim à ditadura e deu início ao período mais extenso de vigência da ordem constitucional desde a declaração de independência de 1816.
As manifestações de policiais prosseguiam nesta segunda-feira nas províncias de Buenos Aires (centro-leste, a mais populosa), Entre Ríos (centro-leste), Corrientes (nordeste), Jujuy (norte), Tucumán (norte), Santa Fe (centro-leste) e Chaco (nordeste).
O governador de Entre Ríos, Sergio Urribarri, declarou à rádio Del Plata que, além da pessoa morta, "25 ficaram se feriram com vidraças quebradas em lojas". "Não há uma situação social que justifique o que está acontecendo. É uma sedição, há instigação política para estes fatos", acrescentou o governador.
A morte do saqueador ocorreu na noite de domingo quando ele entrava em uma loja de eletrodomésticos, onde foi eletrocutado acidentalmente, segundo as informações oficiais.
"Não pode existir sindicalização para uma pessoa que porta uma arma. Querem gerar caos e tumultos", afirmou Capitanich, ministro coordenador do governo da presidente Cristina Kirchner, em relação às demandas policiais.
Os governos provinciais de Córdoba, Neuquén (sul), San Juan (oeste), Catamarca (norte), Rio Negro (sul) e Chubut (sul) conseguiram sufocar os protestos oferecendo aumentos que duplicam ou triplicam os salários atuais dos policiais. A greve de policiais não atinge as forças federais, de 60.000 homens, e se limita às do âmbito provincial.
SIR
Dom Total
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