03/02/2014

'Anunciação' de El Greco leiloado por US 5,9 milhões

Preço alcançado pela obra, que era conservada no MASP, em São Paulo, superou as expectativas.


'Anunciação', de El Greco, tem sete versões quase idênticas. (Foto: Arquivo)
Por Marco Lacerda*

O quadro "Anunciação", de El Greco, foi leiloado nesse domingo (2) por 5,9 milhões de dólares em um evento organizado pela casa Sotheby´s de Nova York, valor muito acima do estimado inicialmente pelos promotores do leilão:  US 1,5 milhões.

"Anunciação" é uma pintura a óleo sobre tela tradicionalmente atribuída a El Greco e datada por volta de 1600. A obra integra um conjunto composto por ao menos sete versões quase idênticas, de graus variados de qualidade, todas tradicionalmente creditadas a El Greco e datadas entre 1595 e 1605. O tema da anunciação do anjo à Virgem Maria foi frequentemente tratado por El Greco e o conjunto de versões à qual pertence a obra parece derivar da composição homônima elaborada pelo artista para o tríptico de Módena, obra de juventude executada entre o fim do período cretense e o início do período veneziano.

‘Anunciação’ é uma obra emblemática do caráter "expressionista" da arte de El Greco, fulgurante de luzes, cores e acordes cromáticos, em que a cenografia é composta por zonas plasticamente distintas, mas interligadas por movimentos ascensoriais e entrecortadas pela presença de luzes místicas e lampejos flamejantes. 

A pintura está relacionada ao período final da vida do artista em Toledo, na Espanha, em que sua produção assume uma postura mais religiosa, em comparação àquela de seu período italiano, alienando-se dos recursos tradicionais da estética renascentista - talvez por influência das novas doutrinas elaboradas pela Contra-Reforma. A obra em é conservada no Museu de Arte de São Paulo (MASP) desde 1952.

Mega exposição na Espanha

No último 18 de janeiro, os sinos de Toledo repicaram para anunciar ao mundo que em 2014 se celebra o 4º centenario da morte de Domenikos Theotocopoulos, mais conhecido como El Greco, um pintor tão presente e tão espanhol, mas ainda pouco conhecido em sua verdadeira dimensão. 

El Greco desenvolveu sua carreira na Espanha, no Século de Ouro, mas nunca foi admitido na corte. “O grego de Toledo, como ficou conhecido no seu tempo, foi um imigrante – recorda Gregório Marañon, curador da exposição em cartaz na cidade e em museus de Madrid – que chegou aos 36 anos a Toledo, onde realizou o melhor de sua obra”. O interesse e atualidade de sua pintura são incontestáveis, apesar de nunca ter aprendido o castelhano nem perdido suas raízes cretenses e italianas e, mesmo assim, ter-se convertido, ao longo do século 20, em um dos ícones mais emblemáticos da pintura. 

Pouca vezes uma exposição pode dispor de um contexto histórico tão intacto como esta ‘El Greco 2014’. “O que torna Toledo única para este evento não é apenas a prodigiosa conservação do lugar onde o pintor viveu, mas a possibilidade de ver suas obras nos mesmos lugares para os quais foram realizadas e onde se encontram há mais de 400 anos.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e editor-especial do Dom Total.
Dom Total

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