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Cidade do Vaticano (RV) – Nesta Quarta-feira Santa relembramos o Calvário de Jesus em sua Paixão a partir de uma abordagem inaciana, inspirando-nos na recente canonização de José de Anchieta. Amplamente representada e encenada em paróquias e catedrais, a narração evangélica foi e tende a ser sempre mais teatralizada e levada às telas em tradicionais ou extravagantes superproduções cinematográficas.
Mas o que nem todos sabem, ou relatam, são as conversas de Maria com Jesus, ao ter o corpo do filho morto em seus braços. Difícil, a dor de Maria era consolada pela certeza da presença da mão condutora do Pai e da fidelidade de Suas promessas. Embora não conste nos Evangelhos, Nossa Senhora, mulher das dores, compartilha os sofrimentos de seu Filho, o homem das dores.
O mais novo Santo da Igreja, refém dos índios tamoios e isolado por 2 meses na Praia de Iperoig, descreveu em versos os sofrimentos de Jesus Cristo até o escândalo da Cruz, sob os olhos da Virgem Maria, que ao seguir para aquela fatídica Páscoa em Jerusalém, sabia o que estava por acontecer.
Neste tempo pascal e neste ano também anchietano, a proposta é meditar sobre o sofrimento de Jesus e de Maria especialmente com o poema do Santo que põe em vista a compaixão e o pranto da Virgem.
Por que ao profundo sono, alma, tu te abandonas,
e em pesado dormir, tão fundo assim ressonas?
Não te move a aflição dessa mãe toda em pranto,
que a morte tão cruel do filho chora tanto?
Se o não sabes, a mãe dolorosa reclama
para si quanto vês sofrer ao filho que ama.
Pois quanto ele aguentou em seu corpo desfeito,
tanto suporta a mãe no compassivo peito.
O sacrifício do Filho do Altíssimo no altar da Cruz foi também o sacrifício da Mãe de Deus. No Calvário, Nossa Senhora diz novamente aquele sim que disse à vontade do Pai na Anunciação (cf. Lc 1, 38). O oferecimento de Cristo ao Pai em sacrifício pelos nossos pecados foi também a entrega em sacrifício de Maria, por amor de toda a humanidade:
Mas a fruta preciosa, em teu seio nascida,
à própria boa mãe dá para sempre a vida,
e a seus filhos de amor que morreram na rega
do primeiro veneno, a ti os ergue e entrega.
O coração de Jesus Cristo era também o coração da Virgem Maria, transpassado pela dor de Mãe devido à morte do seu único Filho. A vida do Filho de Deus, totalmente entregue à vontade do Pai, era a mesma vida da Virgem Mãe, que se entregou inteiramente ao desígnio do Altíssimo:
Sucumbiu teu Jesus transpassado de chagas,
ele, o fulgor, a glória, a luz em que divagas.
Quantas chagas sofreu, doutras tantas te dóis:
era uma só e a mesma a vida de vós dois!
Este coração, de Jesus e de Maria, é para nós morada de paz no mundo e torrente de Água Viva que jorra para a vida eterna. Peçamos a Virgem Maria que sejamos purificados nesta fonte.
Ó morada de paz! sempre viva cisterna
da torrente que jorra até a vida eterna!
Esta ferida, ó mãe, só se abriu em teu peito:
quem a sofre és tu só, só tu lhe tens direito.
Nesta Semana Santa, tempo de conversão, meditemos com Padre José de Anchieta sobre as dores, os sofrimentos da Santíssima Virgem Maria. Vamos nos entregar à intercessão do Santo “Apóstolo do Brasil” para que o nosso coração esteja no Coração de Cristo.
Como herdeiros do entusiasmo apostólico de Anchiet, deixemos que seu exemplo ilumine nossa ação pastoral. Seu amor a Jesus deve encher nosso coração de uma grande paixão por Ele. Sua dedicação diária deve ser um estímulo para também nós renovarmos nossa entrega total ao Reino de Deus. E terminamos com as palavras do Papa Francisco na audiência geral desta Quarta-feira Santa:
"E quem ama passa da morte à vida. É o amor que faz a Páscoa".
(CM)
Rádio Vaticano
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