12/04/2014

A um mês do show, fãs acampam para ver One Direction em São Paulo

Garotas enfrentam baratas e dizem ter medo de torcedores e traficantes.
Elas pedem dinheiro na rua e são xingadas; grupo toca em 10 e 11 de maio.

Letícia MendesDo G1, em São Paulo

Cerca de dez barracas estão montadas em torno do estádio do Morumbi, cada uma 'ocupada' por mais ou menos dez meninas, que se revezam (Foto: Caio Kenji/G1)Cerca de dez barracas estão montadas em torno do estádio do Morumbi, cada uma 'ocupada' por mais ou menos dez meninas, que se revezam (Foto: Caio Kenji/G1)
A um mês do show do One Direction, dez barracas estão montadas em torno do Estádio do Morumbi, cada uma ocupada por pelo menos dez fãs da banda. As garotas se revezam, em busca de um lugar próximo ao palco. A maioria passa por essa experiência pela primeira vez, constatou oG1 em visita ao acampamento na quinta-feira (10). Elas se conheceram pela internet e se comunicam todos os dias por grupos no WhatsApp para combinar turnos.
A fã mais nova tem 14 anos e a mais velha tem 28. Elas reclamam de baratas e do cheiro de esgoto que vem do bueiro, mas afirmam que vão aguentar 30 dias para ouvir ao vivo hits como "Story of my life", "What makes you beautiful" e "Best song ever".
A primeira turnê do grupo no Brasil terá três shows, sendo o primeiro no dia 8 de maio na Apoteose, no Rio, com ingressos esgotados. Nos dias 10 e 11 de maio, os rapazes cantam em São Paulo.
Daniele Moura, de 22 anos, trabalha em um teatro e é dona da primeira barraca da fila. Ela reveza com 20 meninas. Tirou folga do trabalho e chegou há 56 dias, “antes do show do Mettalica”. Ela se diz responsável por ter colocado as grades de segurança em volta das barracas. “Ontem, que teve jogo, fiquei com medo. O São Paulo perdeu e achei que fosse apanhar, por isso nem olhei para os caras. Já vieram uns maninhos e ofereceram drogas. Tentamos ser simpáticas para nos livrarmos deles”, conta Daniele. Ela diz que tem uma barra de ferro e uma de madeira para se proteger.
Meninas enfrentam calor, chuva, baratas e perigos. 'São Paulo perdeu e achei que fosse apanhar', disse uma fã, que conta ter sido abordada por 'um maninho que vende drogas'. Outra garota pediu dinheiro no semáforo e conseguiu R$ 100. Comprou pizzas
Elas reclamam de calor, do frio e da chuva, que alagou o local. Perderam a comida que tinham. Daniele conta que acorda de meia em meia hora com barulhos na rua. “Somos xingadas por outras fãs em redes sociais por termos começado a fila. É bem desagradável. Dizem que não temos nada para fazer, que vão chamar conselho tutelar para tirar a gente daqui. Tem até gente que fala que merecemos ser estupradas. As beliebers são mais unidas que a gente”, lamenta, citando fãs de Justin Bieber.
Primeira da fila do One Direction em SP, Daniele Moura, 22 anos, contou que trabalha na área de logística de um teatro (Foto: Caio Kenji/G1)Daniele Moura, 22 anos (Foto: Caio Kenji/G1)
Daniele conta que uma das meninas da fila foi expulsa de casa pelo pai e que outra levou oito pontos na testa após ser atingida por uma placa. “Bateu um vento muito forte e uma das placas do estádio descolou e caiu em cima da menina. Uma mãe que estava aqui na hora a levou ao hospital”. Ela conta que já conseguiu R$ 100 em duas horas no semáforo para comprar pizza ou salgados. “A gente diz que está acampada e o povo ajuda”, garante.
Jaqueline Nascimento, 18 anos, chegou à fila nesta quinta-feira (10) para a pista premium branca. “O pessoal que passa na rua mexe com a gente, buzina. Dá medo, mas o amor pelo One Direction é forte. O único medo que tenho é de roubo”, diz Jaqueline. Ela conta que trabalha na empresa de seu pai. “Ele acha que isso é loucura, mas me liberou um pouco do trabalho para ficar aqui.” Daniele diz que já ofereceram R$ 500 para comprar o lugar dela na fila, mas acha “injusto”. “Muitas mães pedem para guardar o lugar para o filho ou também oferecem dinheiro para guardarmos lugar. Já ofereceram R$ 150, mas ainda estamos pensando”, diz Jaqueline.
Priscila Rocha, 18 anos, diz que trabalha na Justiça Federal e que sua chefe é tranquila (Foto: Caio Kenji/G1)Priscila Rocha, 18 anos, diz que trabalha na Justiça
Federal e que chefe é tranquila (Foto: Caio Kenji/G1)
“No dia do show, sempre aparecem umas bonecas querendo cortar a fila. Tem menina que puxa o cabelo da outra na hora de entrar. É tipo um ‘Jogos vorazes’ ou Olímpiadas 2016 quando abre o portão”, diz Jaque. Elas fazem esquemas de pontos para quem se empenha mais no acampamento. “Temos uma planilha com os nomes, quem faz mais pontos ganha um lugar melhor na fila”, diz Daniele. “Todo mundo quer ficar no L [lugar privilegiado da grade]”, conta Jaqueline.
As garotas contam que dormem sempre com companhia de adultos, almoçam na lanchonete do estádio do Morumbi ou compram salgados. Elas carregam o celular no Morumbi e usam o banheiro do estádio, mas tomam banho em uma pensão que cobra R$ 5 ou R$ 10, se não levar toalha. Priscila Rocha, de 18 anos, diz que trabalha na Justiça Federal e que sua chefe é tranquila. “Ela me deixa sair mais cedo para ficar aqui e depois reponho o horário outro dia”.
Kathleen Cristine diz que seu pai não sabe que ela está no acampamento para ver One Direction (Foto: Caio Kenji/G1)Kathleen Cristine, de 15 anos (Foto: Caio Kenji/G1)
Kathleen Cristine é estudante e tem 15 anos. “Minha mãe não gosta que eu fique aqui o dia inteiro. Não gosto de ficar na minha casa, gosto de ficar aqui na fila com as meninas”. “No show do Justin Bieber, cheguei um dia antes, fiquei 2h apertada na grade e não aguentava mais, quase vomitei. Fui empurrando as pessoas até chegar na grade, nem sou tão fã do Justin, gosto bem mais do 1D”, diz Kathleen.
Edinalva Oliveira, 46 anos, desempregada, acompanha a filha Giulia, de 13, na fila. Elas vão de duas a três vezes por semana no período da tarde. “Não deixo minha filha sozinha de jeito nenhum. Jamais vou deixar ela dormir aqui. É muito perigoso. Tudo tem um limite. Acho um absurdo deixar essas meninas sozinhas aqui”. Ela conta que também vai ao show no dia 10 de maio. “Não basta ser mãe, tem que participar. Tento ajudar as garotas trazendo cobertor, colchão, comida, mas nunca encontrei outra mãe aqui”, afirma.
Meninas guardam comes e bebes em barraca, na espera por show do One Direction no Morumbi (Foto: Caio Kenji/G1)Meninas guardam comes e bebes em barraca
(Foto: Caio Kenji/G1
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