Páscoa, sinais da vida que vence a morte estão espalhados por toda parte.
Por Dom Alberto Taveira Corrêa*
Vivemos com a Igreja três domingos correspondentes a temas muito caros à vida cristã, em vista da celebração dos Sacramentos de Iniciação, prevista para a Vigília Pascal. As pessoas que serão batizadas na Páscoa estarão diante de Jesus Cristo, aquele que oferece a Água Viva, Jesus, Luz do Mundo, o mesmo que se revela Ressurreição e Vida, quando se dirige a Betânia, casa de seus queridos amigos Lázaro, Maria e Marta (Jo 11, 1-45). Betânia foi um lugar de experiências muito felizes e profundas de Jesus com seus discípulos. Tudo indica que era uma casa em que se sentiam à vontade, espaço de intimidade e liberdade. Podemos imaginar a visita feita por Jesus, quando a Marta pressurosa até reclama por sua irmã de dedicar tanto à escuta do Mestre, ou os diálogos em torno de uma mesa de almoço.
Jesus fizera voltar à vida a filha de Jairo e o filho único da viúva de Naim. Mas agora, trata-se de um amigo pessoal, com quem certamente terá partilhado confidências. É neste clima de intimidade, no qual se envolviam as duas irmãs de Lázaro, que acontece a revelação de Jesus como Ressurreição e Vida. Jesus mostra quem ele é e realiza o milagre do retorno à vida desta terra de seu amigo Lázaro. Certamente a compreensão dos Sacramentos e da presença salvífica de Jesus na vida dos cristãos pode acontecer também em ambientes de convivência fraterna e amiga a que somos convidados.
Sinais da vida que vence a morte estão espalhados por toda parte. Em Jesus, Senhor e Salvador, identificamos a cura das enfermidades, o controle das forças da natureza e a vitória na luta renhida contra o demônio. Os sete sinais relatados pelo Evangelho de São João, que assim chama os milagres, passam por diversas situações humanas, dando-nos uma visão do alcance da ação do Senhor. Água se transforma em vinho, nas Bodas de Caná (Jo 2,1-12); o filho de um funcionário real é curado também em Caná (Jo 4, 46-54); um homem doente havia trinta e oito anos é curado por Jesus (Jo 5, 1-18); Cinco pães e dois peixinhos são multiplicados para uma multidão (Jo 6, 1-15); Jesus caminha sobre o mar da Galileia (Jo 6, 16-21); Um cego de nascença recupera a vista (Jo 9, 1-41).
O sétimo sinal anuncia a própria Ressurreição de Jesus. Lázaro, que volta à vida, representa o homem renascido pela fé em Jesus Cristo. Muita gente acompanha, além de Marta, Maria e os Discípulos, o que Jesus fez. Também a mudança profunda que acontece na vida do cristão é acompanhada pela Comunidade, que o apoia e sustenta. A morte já está vencida, pela vitória de Jesus Cristo. O tempo novo se inaugura quando Jesus se afirma Ressurreição e Vida.
Para chegar à profunda profissão de fé, feita por Marta, irmã de Lázaro, houve um caminho percorrido pelas pessoas envolvidas nos fatos. Daí recolhemos alguns ensinamentos preciosos. A amizade foi ponto de partida para um relacionamento profundo estabelecido entre a família, Jesus e seus discípulos. Nosso encontro com o Senhor pode também partir de coisas simples, de diálogos em que a vida, o serviço, os dramas familiares, as questões ligadas ao trabalho, ou o simples bate-papo pode ser início do aprofundamento do sentido da vida, para sermos então conduzidos ao Senhor. Não se jogue fora qualquer oportunidade para lançar sobre pessoas e fatos a luz do Evangelho, para chegar à confissão de Jesus como Ressurreição e Vida.
As notícias correm! Jesus ficou sabendo da situação de Lázaro, com o qual tinha um relacionamento sincero e profundo. O Senhor sabe que a glória de Deus se manifestará. Vive cada momento com dignidade e seriedade, sem precipitações, sabendo a hora de tomar as decisões. Seus discípulos de ontem e de hoje aprendem com o Mestre o caminho do discernimento, fundamental para que os acontecimentos não se precipitem. Hão de repetir muitas vezes, com o Tomé da decisão, mais do que o homem da dúvida: “Vamos também nós, para morrermos com ele” (Jo 11,16). Será uma história muitas vezes tensa, cheia de crises, idas e vindas, quedas e soerguimento. É muito bom fazer esta estrada, sabendo que nunca estaremos sozinhos para chegar à Ressurreição e à Vida.
Chegados com Jesus e seus discípulos a Betânia, nós também estamos em casa de pobres, o que significa este nome. Recolhemos todo o luto e o drama que significa a morte, sejam quais forem as circunstâncias. Os costumes da época, com carpideiras a clamar, ou mesmo os velórios de todos os tipos de nosso tempo, enfeitados ou maquiados, ou quem sabe os fornos crematórios postos em moda, mas morte é morte! Um dia, seremos desafiados a chamá-la irmã, com São Francisco, ou nos tornarmos os mais dignos de dó (Cf. I Cor 15, 12-26), por sermos homens e mulheres sem esperança. O cristão entra de cabeça e coração nas situações humanas, não usa subterfúgios para explicá-las, gosta da verdade e as enfrenta com honestidade. Choro e lágrimas não fazem mal a ninguém! O que faz mal é enrolar a nós mesmos e aos outros. Nesta estrada da verdade, chegaremos à Ressurreição e à vida plena.
O Evangelho de São João nos conduz pelas mãos, para aprender de Jesus. Ele consola as duas irmãs, ouve seus lamentos, chora com elas, provoca a profissão de fé, que precede o milagre! Jesus identifica em Marta a fé na ressurreição e a conduz a professar sua fé atualizada naquele que é Ressurreição e Vida. Queremos também nós recolher as sementes da fé que são o fruto da graça recebida no Batismo, tantas vezes guardada e não praticada. Mas ela está dentro de cada homem e de cada mulher que recebeu o Sacramento. Nasce um convite renovado a tantas pessoas que se esqueceram, por muitos e variados motivos, da graça recebida. Pode ser esta a hora da graça, nesta Quaresma e na Páscoa que se aproxima, para a reconciliação com Deus e com a Igreja. Nosso convite toque na liberdade de cada pessoa, antes de prometermos coisas extraordinárias, até porque o mais extraordinário já aconteceu na Páscoa daquele que é Ressurreição e Vida.
Jesus é Mestre, Catequista, Senhor e Irmão! Duas vezes chorou, comovendo-se interiormente. Deus, sim, mas Homem verdadeiro, com sensibilidade apurada. Vamos com Ele a todos os sepulcros! Mesmo diante das situações nas quais a morte do corpo e da alma dá sinais de putrefação – “Já cheira mal, é o quarto dia” (Jo 11, 39), soa a hora da esperança. Não há pedra de sepulcro ou sentença de condenação que resistam àquele que é Ressurreição e Vida. Chegue a todos os ouvidos o convite: “O Mestre está aqui e te chama” (Jo 11, 28). Que o Senhor ressuscitado grite a todos os homens e mulheres que saiam de sua inércia e se deixem desamarrar pela ação da Igreja, para conhecerem aquele que é a Ressurreição e a Vida.
Que os sinais da Páscoa de Cristo se multipliquem, para que nos abramos à sua graça. O oitavo sinal está à disposição! É a Eucaristia de cada Domingo, onde se encontra aquele que é Ressurreição e Vida.
CNBB, 04-04-2014.
*Dom Alberto Taveira Corrêa é arcebispo de Belém do Pará.
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