04/07/2014

Nem Pelé, nem Picasso


Se realmente é difícil manter o nível sempre alto, deve-se constatar que certa irregularidade também pode ser interessante

Carlos Ávila*

Manter o melhor nível, o desempenho em alta, em qualquer atividade profissional é um desafio. Sim, um desafio que nem sempre é possível alcançar. Alguma irregularidade – altos e baixos – sempre existirá. Há os grandes momentos, os “picos” na performance de um jogador de futebol (e aí está a Copa, com diversos exemplos) ou na criatividade de um artista; e há também os momentos menores, não necessariamente piores (ou medíocres), mas sem um brilho que chame a atenção.

O craque Ademir da Guia (“um dos mais geniais meio-campistas do futebol brasileiro em todos os tempos” – segundo o comentarista Milton Neves) pontificou: “Ninguém pode, em qualquer profissão, manter sempre o nível mais alto que consegue alcançar. Ninguém consegue isso, nem Pelé, nem Picasso, nem os melhores escritores, nem os melhores empregados ou patrões”.

O toque perfeito de Ademir, fora do campo, numa de suas entrevistas, acabou virando epígrafe de um pequeno livro de Décio Pignatari – “Comunicação Poética”, uma espécie de manual do pretendente a poeta, com dicas sobre linguagem, ritmo, métrica, rima etc. Mas Pignatari (que foi jogador de várzea e escreveu crônicas de futebol) ressalvava, na orelha, que seu livrinho poderia fornecer os meios de fazer poemas, não de fazer poetas. Mas aí já é outra história.

Se realmente é difícil manter o nível sempre alto, deve-se constatar que certa irregularidade também pode ser interessante. Sem ela, o jogador, o artista ou o pensador não saem do lugar. É dessa mesma irregularidade que podem surgir, de repente, a jogada diferente que leve ao gol, a obra ousada e inovadora, a reflexão incomum e marcante. Quem não arrisca não petisca, diz o velho ditado popular.

Pelé, óbvio, teve seus momentos de meras “peladas”, de partidas convencionais; Picasso, óbvio também, executou repetições maneiristas em meio à “montanha de quadros” que pintou. O importante, nesses dois casos, é que prevaleceu a persistência (o empenho, a busca, a inquietação...) mesmo em meio a alguma irregularidade. Esta é, antes de tudo, uma componente da vida e da obra de ambos (aliás, de todos aqueles que se arriscam a criar uma nova forma ou inaugurar um novo processo no seu campo de atuação). 

Pelé praticou o futebol-arte; Picasso, a pintura-invenção – com seus altos (muito mais altos!) e baixos.
mesma irregularidade que pode surgir, de repente, a jogada diferente que leve ao gol, a obra ousada e inovadora, a reflexão incomum e marcante. Quem não arrisca não petisca, diz o velho ditado popular.

Pelé, óbvio, teve seus momentos de meras “peladas”, de partidas convencionais; Picasso, óbvio também, executou repetições maneiristas em meio à “montanha de quadros” que pintou. O importante, nesses dois casos, é que prevaleceu a persistência, o empenho, a busca, a inquietação mesmo em meio a alguma irregularidade. Esta é, antes de tudo, uma componente da vida e da obra de ambos (aliás, de todos aqueles que se arriscam a criar uma nova forma ou inaugurar um novo processo no seu campo de atuação). 
Pelé praticou o futebol-arte; Picasso, a pintura-invenção – com seus altos (muito mais altos!) e baixos.
*CARLOS ÁVILA é poeta e jornalista. Publicou, entre outros, Bissexto Sentido e Área de Risco (poesia); Poesia Pensada (crítica) e Bri Bri no canto do parque (infantil). Foi, por quatro anos (1995/98), editor do “Suplemento Literário de Minas Gerais”. Trabalhou também na Rede Minas de Televisão e foi editor do caderno de cultura do jornal “Hoje em Dia”. Participou de mais de vinte antologias no país e no exterior.

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