Gentil Barreira precisou recorrer a uma campanha no Facebook para finalizar parte da publicação de seu primeiro livro
Foto Gustavo Sampaio
Sílvio Frota coleciona artigos de fotografia
Foto Lucas de Menezes
Veja o vídeo com Chico Gomes e Gentil Barreira clicando aqui.
Na Era da Informação e em meio à febre dos “selfies” é difícil parar,
encarar uma imagem e buscar entendê-la. Apesar do histórico de
fotógrafos reconhecidos nacionalmente, só agora o Ceará entra na
contramão da tendência. Enquanto grandes fotógrafos se consolidam no
cenário nacional e outros surgem, o Estado amplia o número de apreciadores da fotografia como arte. Prova da crescente é que Fortaleza deve receber o primeiro grande museu particular do
País com peças de todo o planeta no início de 2015, que deve oferecer
oficinas e cursos no intuito de divulgar e ensinar fotografia como arte.
Para o escritor, crítico e semiólogo Roland Barthes
(1915-1980), a Fotografia fixa um tempo que não volta e conserva um
momento. Além disso, afirma sobre o caráter manipulador, mas conservador
sob alguns aspectos, não representando apenas o resultado de um simples
"clique". E entender a importância da imagem custa tempo. É o que o
mercado consumidor começa a descobrir em Fortaleza, extrapolando os
espaços da Academia, das galerias e escolas de arte.
Patrícia Veloso, proprietária da editora Terra da Luz Editorial e curadora do festival Encontros de Agosto,
afirma que os próprios profissionais de fotografia são quem mais
consomem a arte na cidade. “Nós temos consumidores de arte, pessoas que
já conseguem entender fotografia como produto de arte. Dentro desse
circuito, quem alimenta faz e consome. A fotografia dentro do mercado de
arte, de como ela se coloca, melhorou bastante”, comenta.
Apesar de, segundo Patrícia, não ter um mercado consolidado e com vigor
diferente do encontrado em outros centros do País, o Ceará é terra de
importantes figuras do cenário nacional. “Nossa produção já vai além do
Estado. Já existe um consumo de fotógrafos daqui em outros estados. Tem
vários trabalhos que estão sendo feitos. Nós mesmos nos empenhamos, com o
festival Encontros de Agosto, o iFoto já tem feito tem várias ações, a
Travessa [da Imagem, escola de Fotografia] e a Tempo d’Imagem também”,
enumera.
Um dos maiores expoentes da arte fotográfica no Ceará, Gentil Barreira precisou
recorrer a uma campanha no Facebook para finalizar parte da publicação
de seu primeiro livro, “Coração Sertão”, com 150 registros do sertão
cearense e passagens de obras de José de Alencar, Antônio Sales, Rachel
de Queiroz, Gustavo Barroso e Francisco Carvalho.
O fotógrafo decidiu fazer uma tiragem limitada de 15 imagens numeradas a
R$ 900 cada, com dimensões de 34 x 50 cm, ampliadas em papel algodão
com pigmento mineral, assinadas e certificadas. “De certa forma, eles
estavam bancando o projeto. Mas de imediato já tinha uma contrapartida”,
comenta Gentil, que começou a trabalhar profissionalmente em 1974, com
fotografia de arquitetura.
“Eu acho que um dos grandes problemas, em qualquer mercado, é a matéria
prima. Em todos os sentidos. Primeiro, ter o que mostrar, o que
imprimir, o que vender. Um bom trabalho, consistente. A outra coisa é a
própria matéria-prima. Agora estamos com dificuldade para imprimir as
fotos, por exemplo. O papel e a tinta são importadas, pra manter a
qualidade que nos propomos a fazer”, relata o fotógrafo cearense.
O primeiro evento em que Gentil Barreira expôs foi o Salão de Abril,
um dos mais tradicionais movimentos artísticos, em 1979. Na ocasião,
ele teve o primeiro trabalho de fotografia no festival, que
posteriormente começou a aceitar inscrições de fotógrafos. De lá para
cá, ele relata, muita coisa mudou, inclusive a concepção sobre arte e
fotografia. “Há a falta de conhecimento das pessoas de quem faz e de
quem compra. Está modificando, está evoluindo muito rápido (...) Houve
uma modificação lenta, gradual, mas que está acontecendo. A fotografia
ser encarada como obra de arte, participar das coleções, é um caminho
longo, mas que, felizmente, está acontecendo”, encerra.
Museu particular
Grandes colecionadores começam a se articular por conta própria. É o caso do empresário Sílvio Frota,
que teve uma experiência epifânica quando comprou um quadro com a foto
de Sharbat Gula, que ficou eternizada em “Menina Afegã”, do
norte-americano Steve McCurry, e decidiu colecionar artigos de
fotografia. Seis anos depois, ele conta com mais de 2 mil peças e abrirá
o maior museu particular de fotografia do País.
O empresário afirma que já conhecia a fotografia, mas que não era o
foco principal, já que colecionava outros artigos de arte,
principalmente pinturas. Após a compra da “Menina Afegã”, começou a
estudar, comprar, frequentar feiras, galerias e leilões do gênero. “A
partir do momento que você começa a ler, se interessar, a paixão vem
pelo entendimento que você tem da coisa”, expressa Sílvio.
Pensando nisso, Sílvio quer difundir o conhecimento sobre fotografia e
oferecer cursos no prédio de mais de 2.500m², 4 andares e com um
subsolo. “Como é uma coleção importante, era justo que as pessoas
tivessem acesso à ela. E resolvemos fazer um local para que as pessoas
tenham acesso. Dentro do próprio museu terá um espaço para oficinas para
crianças, adultos e idosos para ensinar a fotografia como coleção de
arte”, conta o colecionador.
Sobre o mercado cearense, Sílvio fala empolgado. “Fotógrafos cearenses
são fantásticos, com fotos em museus de todo o mundo. Não tem o que mais
falar. São fotógrafos com repercussão internacional. Muitos já
descobertos e outros a descobrir”, fala.
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/online/fotografos-cearenses-apostam-em-um-mercado-que-junta-fotografia-e-arte-1.1069656
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