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A intuição explora o desconhecido e adivinha possibilidades que às vezes não são evidentes
Por Marco Lacerda*
O presságio é um fato, um sinal ou indício pelo qual se pressente ou se adivinha o futuro. É o mesmo que agouro, pressentimento, previsão, prognóstico. Na concepção geral, entende-se por presságio qualquer tipo de afirmação e acontecimento capaz de fazer prever um infortúnio ou fatalidade inevitável.
Entre os antigos romanos existiam os “áugures”, sacerdotes que faziam presságios ou augúrios, isto é, prognósticos favoráveis ou desfavoráveis, a partir do canto das aves: por exemplo, o piar da coruja (mau agouro) ou do corvo (prosperidade e sabedoria, mas também má sorte) e do mocho (a que se refere Bocage, como pressagístico da desgraça).
Ao longo dos tempos, muitos povos consideraram certo tipo de fenómenos como presságios de catástrofes. E apesar de, com o avançar da ciência, ser possível explicar que esses sinais nada têm de prodigioso e resultam de interpretação supersticiosa, ainda há quem os entenda como sinais divinos ou sobrenaturais.
Apesar de frequentemente não lhe darmos importância, a intuição vem a ser um sexto sentido que, nas palavras de Gustav Jung, “explora o desconhecido e adivinha possibilidades que às vezes não são evidentes”. No mundo dos negócios, da ciência e até da política, o poder intuitivo desempenha papel fundamental. Quem desenvolve essa forma de percepção é capaz de captar indícios do que acontecerá no futuro.
O coração tem razões que a própria razão desconhece
Julio Verne é um exemplo clássico de criador intuitivo e visionário. Várias de suas invenções literárias acabaram se tornando realidade um século depois. No entanto, o chamado sexto sentido também opera na vida cotidiana. Dizemos “Tenho um pressentimento!” quando o compartimento do inconsciente, que trabalha dia e noite, nos dá uma informação que pode ser vital para nosso futuro imediato.
O psiquiatra Eric Berne, fundador da análise transacional, observou que as crianças desenvolvem sua inteligência intuitiva entre os 6 e 18 meses de vida. Ele chamou de “pequeno professor” essa capacidade de detectar, por exemplo, mudanças sutis no tom de voz dos adultos, o que faz com que o pequeno perceba se há ou não tensão no ambiente, e se está sendo aceito em seu entorno. Essa ferramenta tão desenvolvida nos chamados “animais superiores”, como os cachorros e gatos que convivem conosco, está também presente em todo ser humano. Mas, com frequência, nós a negligenciamos e ela acaba ofuscada pelo pensamento racional.
Entretanto, ter bem lubrificado nosso sexto sentido é fundamental para alcançar o sucesso em muitas esferas da vida. O goleiro, por exemplo, se vale da intuição para cair para o lado do gol aonde será chutado o pênalti instantes antes de o jogador fazer o disparo. Do mesmo modo agem alguns investidores na Bolsa ou a maioria dos editores, que contratam um livro que sairá no mercado um ou dois anos mais tarde – ou seja, só podem intuir qual será o gosto dos futuros leitores.
A mente intuitiva é um presente sagrado
Em seu livro Intuition: Its Powers and Perils (A Intuição: Suas Forças e Perigos), David G. Myers fala do “processamento dual” dos acontecimentos. É consciente e inconsciente ao mesmo tempo, o que nos permite saber muito mais do que achamos que sabemos. Em suas próprias palavras: “Somos capazes de diagnosticar problemas e tomar decisões como um mecânico de automóveis ou um médico depois de escutar ou dar uma olhadela. Um profissional do jogo de xadrez, por exemplo, depois de uma rápida olhada no tabuleiro, pode, de maneira intuitiva, saber qual é o movimento certo baseando-se em milhares de opções armazenadas em sua memória.
No livro Emotional Intelligence in Leadership and Organizations (A Inteligência Emocional na Liderança e nas Organizações), Robert K. Cooper e Ayman Sawaf mencionam um estudo que analisou 93 ganhadores de prêmios Nobel em um período de 16 anos. Ao analisar os processos que essas personalidades haviam seguido para alcançar suas descobertas, eles concluíram que em 82 casos a intuição tinha desempenhado um papel importante, enquanto somente 11 haviam recorrido de forma quase exclusiva à lógica racional e aos fatos conhecidos.
A intuição é, portanto, uma poderosa aliada, mas corremos perigo se não a complementarmos com o pensamento racional e a observação dos fatos. Muitas pessoas sobrevalorizam seus pressentimentos, o que as faz perder dinheiro em maus investimentos, contratar empregados sem período de experiência ou, no plano sentimental, aventurar-se em relações catastróficas por terem seguido um impulso irracional. O valor de nosso sexto sentido se multiplica com a experiência e a análise racional, e vice-versa. Muitas previsões científicas e empresariais fracassaram estrondosamente por se basearem somente em fatos comprovados e ignorar as inspirações que provêm da intuição.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal
http://www.paroquiasantoafonso.org.br/?p=12266
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