05/01/2012

Padre Vito Miracapillo: 'Meu desejo é ficar trabalhando no Brasil'

POSTADO ÀS 18:16 EM 04 DE JANEIRO DE 2012
Expulso do país durante o Regime Militar, Padre Vito Miracapillo está de volta. No dia 22 de novembro de 2011, um telegrama do Ministério da Justiça anunciava que a decisão de renovar o visto perdido pelo religioso havia sido aceita. Assistido por Pedro Eurico, seu advogado desde que foi mandado embora, Miracapillo havia conseguido já em 1993 revogar a expulsão, e lhe bastava apenas fazer novo visto para ser outra vez bem quisto no Brasil. Isso, porém, não era suficiente: a decisão de fazer um novo visto significava esquecer aquele perdido. Vito queria aquele.

"Eles queriam que Padre Vito pedisse outro visto de permanência no Brasil. E o entendimento nosso era o de que não cabia pedir um novo visto, mas renovar o visto. Isso porque ele foi expulso do Brasil com base no Estatuto do Estrangeiro e na Lei de Segurança Nacional, na época do Regime Militar. E qual foi o delito do Padre Vito? Um delito tipicamente de opinião. Ele manifestou uma opinião que não era político-partidária mas que era um posicionamento político pastoral. Ele se manifestava contra a celebração de uma missa para comemorar uma data (Independência) em um país que ainda tinha um povo escravo, ou semi-escravo na Zona da Mata. Então senhores de engenhos e parlamentares pediram sua expulsão - pessoas que não cabe aqui lembrar porque a história vai apagar essas pessoas. O tempo apaga essas pessoas. Nós entendemos que era preciso se fazer um renovação do visto. Por que renovar o visto? Porque era o reconhecimento da ação arbitrária do Regime Militar, da Ditadura Militar. E nós não podemos compartilhar ou comungar com esse tipo de conduta", explicou Pedro Eurico.

Eis que só agora, 30 anos depois da despedida do religioso ele tem a chance de voltar com aquela mesma identidade. O telegrama defere a solicitação do visto, e resta apenas que o Padre se apresente na Polícia Federal para dar entrada nos documentos e resolver os trâmites burocráticos todos em 90 dias.

"O Brasil todo naquele ano se manifestou apoiando a minha pessoa, aquele trabalho pastoral que a gente fazia na diocese de Palmares, e só mesmo o Regime e os poucos que apoiavam o Regime estavam me expulsando do país. Então foi uma grande alegria essa volta. O avião da expulsão encontrou a possibilidade da volta. Então foi mesmo reencontrar o povo de sempre, eu sempre digo que estou em casa, que me sinto em casa. Mesmo de 80 para 93, quando não podia entrar no país, foram centenas de brasileiros na minha casa me encontrar e dizer da solidariedade do povo todo", contou o religioso.

Padre Vito, apesar da alegria que exala em estar novamente e com a possibilidade de ser em definitivo no Brasil, faz questão de deixar claro que não depende apenas de sua vontade sua permanência ou não.

"Meu desejo é voltar e ficar no Brasil trabalhando, continuando o trabalho que a gente fez e estava fazendo. Agora, sendo padre é o bispo que tem que autorizar. Principalmente o bispo da diocese que a gente trabalha. Temos que trabalhar um pouquinho. O problema de todo bispo é não perder os padres que tem. Por outro lado, sou pároco de uma grande paróquia. Temos que ver, seja com a comunidade lá, seja com o bispo. O meu desejo é de voltar o quanto antes."
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