“A visão de Dom Paulo é visão ativa de paz, paz dinâmica, paz a ser
construída a cada momento, buscada, conquistada na paciência e na perseverança”
Aloísio Cardeal Lorscheider
Dom Paulo Evaristo Arns completará neste ano 2000 setenta e nove anos de idade, tendo nascido aos 14 de setembro de 1921, em Forquilhinha (Santa Catarina). São setenta e nove anos vividos como Franciscano e Padre, como Bispo Auxiliar de São Paulo (Capital) e depois como Arcebispo Metropolitano, e, finalmente, Cardeal. A raiz sólida da personalidade extraordinária de Dom Paulo encontra-se na história de sua família. Pais profundamente cristãos e comunitariamente engajados. Família onde a oração, a seriedade de vida, o amor ao trabalho, a fé e confiança em Deus, a solidariedade com os demais marcavam presença. O pai, um homem de paz e de justiça, como já o fora o avô, em cujo epitáfio escreveu: “Bem-aventurados os que promovem a paz”. Na comunidade de Forquilhinha, onde o pai de Dom Paulo exercia forte liderança, em setenta anos jamais aconteceu um assassinato. Onde pudesse surgir um desentendimento, lá estava o pai de Dom Paulo para desarmar os ânimos exaltados e restabelecer o clima de entendimento.
Estas raízes fazem-nos entender Dom Paulo um homem de paz, no mais completo
sentido da palavra. Ele tem uma estrutura pessoal de paz. Não perde a
tranquilidade diante da violência do ambiente e de situações difíceis nas quais
vive. Supera as crises sem se abater, encontrando e transmitindo paz nos
momentos mais críticos e complexos. A visão de Dom Paulo é visão ativa de paz,
paz dinâmica, paz a ser construída a cada momento, buscada, conquistada na
paciência e na perseverança. É essa atitude que faz a Dom Paulo denunciar
sempre de novo as causas de violência, o assalto ao trabalho, a falsa procura
de paz na corrida armamentista ou no terrorismo, a mentira, a impunidade, a
tortura, a desinformação, a hipocrisia, a delação, o roubo, os atentados contra
a vida.
Dom Paulo sobressai-nos mais variados campos da atividade humana. É um escritor
consciencioso e de grande capacidade científica. A sua tese, na Sorbonne, em
1952, sobre a “A técnica do livro em São Jerônimo”, procurando mostrar como é
que se faziam os livros na Antiguidade, valeu-lhe o mais alto grau de distinção
“très honorable”. Até hoje esta pesquisa não tem sido superada; é antes, um instrumento
de consulta para outros.
Os títulos de “Doctor honoris causa” recebidos por Dom Paulo dentro e fora do
país, são muitos. Além desses títulos, diversos prêmios de cará er nacional e
internacional, não faltando nem a mais alta distinção do governo francês, o
grau de Comendador da Legião de Honra; o título de “Cidadão Livre” pela
cidade de Galway, na Irlanda; o Prêmio Medalha Nansen, do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados; e tantos outros.
No plano internacional é preciso ainda notar que, em 1982, Dom Paulo foi o
único religioso em todo o mundo eleito para a Comissão Internacional
Independente para Questões Humanitárias. Dom Paulo é membro de várias
Instituições Internacionais. Todos estes títulos e prêmios são para reconhecer
a enorme atividade pastoral e humanitária em favor dos presos políticos, dos
injustiçados, dos trabalhadores, dos desempregados, dos sem casa, dos
aidéticos, em favor do ensino, da saúde, em favor do povo da periferia. Em tudo
Dom Paulo trabalhou sempre impulsionado pela evangélica opção preferencial e
solidária pelos pobres. Dom Paulo marcou sua presença na comunicação, sobretudo
na Rádio, nos jornais, na publicação de diversos livros, não obstante toda a
solicitação que traz consigo uma metrópole como São Paulo.Dom Paulo, porém, se notabilizou dentro e fora do país por sua atitude destemida em prol dos direitos humanos. É suficiente recordar dois episódios, nos quais a ação de Dom Paulo foi decisiva. Trata-se da morte, em 1973, do estudante Alexandre Vannucchi Leme, estudante do curso de Teologia da USP, que tanta indignação trouxe que os estudantes de São Paulo estavam dispostos a medidas violentas extremas. Dom Paulo, num diálogo paciente e tenso, conseguiu que a manifestação se transformasse em oração na igreja da Sé, em São Paulo. Outro episódio o da morte do jornalista Wladimir Herzog. Foi um dos momentos mais tensos da vida de Dom Paulo. Aí também uma cerimônia pública de oração na igreja da Sé. O próprio Dom Paulo relembra numa carta este trágico acontecimento. A carta é de 22 de fevereiro de 1979. Wladimir Herzog fora morto aos 25 de outubro de 1975. O culto ecumênico na igreja da Sé foi aos 31 de outubro de 1975
Estes são apenas alguns aspectos desta grande personalidade que é Dom Paulo Evaristo Arns, hoje Arcebispo Emérito de São Paulo. Dom Paulo nunca teve medo de jogar todo o seu prestígio, dignidade, inteligência e capacidade a serviço dos que sofrem. A convicção que sempre animou a Dom Paulo é que o Bispo deve ser essencialmente centro de unidade e animação. Centro que une e não nivela. Sabe respeitar e estar atento ao pluralismo e às iniciativas de cada pessoa, buscando a ação no momento certo. A sua lucidez e moderação são notáveis; ele procede sempre sem excessos.
Se
quiséssemos sintetizar Dom Paulo Evaristo Arns, diríamos que é homem de paz, de
fraternidade, de justiça, de verdade, de liberdade, que se dá todo “para que
Deus seja tudo em todos” (1Cor 15, 28)
(85)3223-8785)
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