25/05/2012

Dia da África e um Brasil que deveria ser de todas as cores


O Dia da África, celebrado em 25 de maio, marca a criação da Organização da Unidade Africana (OUA) – hoje União Africana (UA), maior compromisso firmado até então pelos líderes africanos para acelerar o fim do colonialismo no continente, em 1963, representando hoje a “Libertação da África”. A data, no entanto, reflete no Brasil também, onde acontecem diversas atividades em todos os estados. No Ceará, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), realiza nesta sexta-feira, 25, solenidade para comemorar um ano de inauguração e também ao Dia da África.
Segundo o escritor angolano Patrício Batsîkama, o 25 de Maio tem um duplo sentido, cultural e político.“Quando se criou a OUA, a primeira ideia foi a de resgatar os valores culturais africanos que eram menosprezados na época colonial, tendo em conta que se pretendia cultivar o fortalecimento da cultura rumo à unidade do continente”, comentou em entrevista a Agência AngolaPress.

As intenções de unidade dos povos africanos, através do respeito de questões como os hábitos e costumes, segundo Batsîkama, estavam subjacentes na constituição da OUA, mas devido aos diversos problemas do continente como doenças e conflitos não houve possibilidade de desenvolvê-loseficazmente.No plano político, ele apontou as dificuldades ligadas às sequelas do colonialismo.Para ele, deve haver na sociedade africana, em especial, na UA, uma reflexão permanente dos problemas que afligem o continente berço, de modo a homenagear aqueles que lutaram para que a OUA fosse um fato no mundo.
Brasil de Todas as Cores
Historicamente, a presença africana no Brasil é uma das matrizes mais importantes na formação do povo brasileiro. Ela é percebida na música, cultura, religião, gastronomia, moda e na linguagem, apenas para citar algumas heranças. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o Brasil tem a maior população negra fora da África. A informação pode ser reforçada com o censo do IBGE de 2010. Segundo os indicadores, a população negra e parda já pode ser considerada maioria no Brasil. Conforme a pesquisa, 96,7 milhões – o equivalente a 50,7% da população – se declararam negros, contra 91 milhões de brancos (47,7%), 2 milhões de amarelos (1,1%) e 817,9 mil indígenas (0,4%). No total somos 190.755.799 milhões de habitantes.
Curiosamente, em 2000, o número de pessoas declaradas negras e pardas chegava a 44,%, o que mostra o grande salto em 2010, mostrando, talvez, um povo mais a vontade com suas cores. Para o historiador, Prof. Dr. do Curso de Historia da FECLESC-UECE, Campus Quixadá-CE, Marcos José Diniz Silva, “o reconhecimento da condição de afrodescendente por parcela crescente da população indica certo avanço nas políticas públicas afirmativas de combate ao preconceito racial, assim como maior libertação dos brasileiros em relação aos padrões ideológicos conservadores, racistas e pessimistas da necessidade de branqueamento, que vigoraram nos meios intelectuais e acadêmicos até cerca cinco ou seis décadas atrás”.
Em contrapartida, o jornalista Bruno de Castro faz ressalvas quantos aos números sinalizados pelo IBGE. Castro destaca que é preciso cautela ao analisar o censo, pois assegurar que é maioria não significa que os direitos constitucionais estejam igualmente garantidos. “Uma coisa é o cidadão identificar-se como negro para um pesquisador. Outra é ele apresentar-se como tal e deparar-se com direitos essenciais/básicos negados de forma recorrente. Óbvio que a população negra está mais independente. Eu mesmo sou um exemplo disto. Tive acesso a boas escolas e ingressei no ensino superior. Ainda assim, vivi momentos tenso de segregação pelo simples fato de ter a pele escura. Foi preciso uma base familiar considerável para lidar com isto”, analisa. E acrescenta: “No papel, o racismo é algo simples de ser combatido. Na prática, mexe com tudo na qualidade de vida da vítima - especialmente por existir, em muito, na forma velada. Para mim, mais importante do que a população identificar-se mais como negra é o Poder Público empenhar-se em assegurar a ela seus direitos. O aumento no percentual deve servir de pressão para isto. Mas não é utilizado da forma correta”, reflete o jornalista.

Saiba mais sobre o Dia da ÁfricaPassados 49 anos desde sua criação, em Addis Abeba, Etiópia, pela Organização de Unidade Africana (OUA), a data tem um profundo significado na memória coletiva dos povos do continente africano. O ato da assinatura configurou-se no maior compromisso político de seus líderes, que visaram à aceleração do fim da colonização do continente e do regime segregacionista do Apartheid.
Instituído em carta assinada por 32 Estados africanos, o Dia da África é a manifestação do desejo de aproximadamente 800 milhões de africanos de organizar, de maneira solidária, os múltiplos desafios na construção do futuro de uma África real, com seus governos e sonhos, além de desenvolvimento, democracia e progresso. (Denise Porfírio – www.palmares.gov.br).
Fonte: Agência da Boa Notícia

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