09/06/2012

José de Anchieta, Apóstolo do Brasil

Pe. Geovane Saraiva*

Na dinâmica do Reino de Deus, cujos alicerces Jesus estabeleceu há 2 mil anos, constatamos ainda hoje um mundo profundamente conturbado, marcado por sinais de morte e violência de toda natureza. Gostaria de apresentar aos queridos leitores uma figura humana imprescindível, inflamada de zelo e amor, querendo “tudo para a maior glória Deus”. Pessoa profundamente marcada por uma mística a ponto de se consumir em vida, indo ao encontro dos indígenas do seu tempo, anunciando-lhes e instruindo-os pelo anúncio do Evangelho e pela catequese, sendo um referencial e patrimônio do povo brasileiro, em todas as ocasiões e circunstâncias, no decorrer da História.
Trata-se do bem-aventurado José de Anchieta, que em condições sine qua non abriu as portas do nosso imenso Brasil para que a semente do Evangelho fosse lançada, como a maravilhosa proposta do Reino Deus, ofertada ao povo brasileiro, no início de nossa História e civilização. Dos seus 63 anos vividos, e bem vividos, 46 foram na vida religiosa, como membro da Companhia de Jesus, e destes, 44 como missionários no Brasil.
Nascido na Ilha de Tenerife, no Arquipélago das Canárias, aos 19 de março de 1534, recebeu no batismo o nome de José, porque nasceu no dia deste glorioso santo. Coincidentemente, no ano de seu nascimento Santo Inácio de Loyola fundara em Paris a Companhia de Jesus. José viveu com a família até os 14 anos, quando se mudou para Coimbra, em Portugal, lugar muito importante em sua vida, onde estudou Filosofia no Real Colégio das Artes e Humanidades, um anexo da universidade, destacando-se por seus talentos, inteligência e memória raríssima e privilegiada. Foi aí que pediu para ingressar, aos 16 anos (em 1551), na Companhia de Jesus, sendo enviado dois anos depois às missões do Brasil.
Sua vida religiosa foi exemplar, distinguindo-se nas virtudes da humildade, obediência e, sobretudo, uma grande devoção a Nossa Senhora.
Ordenado sacerdote em 1566, foi escolhido para superior da comunidade de São Vicente e depois de São Paulo. Dez anos mais tarde, foi nomeado provincial de toda a missão no Brasil, revelando-se um superior de decisões sábias e seguras. Inteligente, ativo e dotado das melhores qualidades, do ponto de vista literário, dominava o tupi, língua dos indígenas, a ponto de arrancar-lhes aplausos, seja ao conversar ou escrever. Ele ainda escreveu uma gramática e depois um catecismo na língua dos indígenas. E foi agraciado com o cognome de “apóstolo do Brasil”.
Dele se contam maravilhas e prodígios, através de milagres, profecias, curas e até mesmo sua proximidade e familiaridade com os pássaros e animais ferozes, o que nos faz lembrar um Francisco de Assis ou Santo Antônio. Deste extraordinário homem de Deus sabe-se que escrevia com o dedo na areia da praia e a água do mar não apagava, e também levitava em êxtase. Por fim, suas virtudes, qualidades, contribuições científicas e literárias o qualificaram de tal forma que se tornou o mais popular e venerado dos seguidores de Inácio de Loyola no século 16.
A vinda de José de Anchieta para o Brasil foi quase casual, porque se recuperava de uma grave enfermidade que o deixou abatido e com forças precárias. Ele tinha o receio de não continuar os estudos exigidos a um aluno e discípulo de Inácio de Loyola. Padre Manuel da Nóbrega, superior provincial dos Jesuítas no Brasil, desejando homens de braços e mãos corajosos para a atividade apostólica e missionária na Terra de Santa Cruz, solicitou ao provincial da Companhia de Jesus, em Portugal, que enviasse missionários com muita disposição de catequizar e anunciar o Evangelho. Entre outros, a sorte caiu no jovem José de Anchieta, que foi confortado por seu superior, e por conselho do seu médico, oferecendo-lhe a possibilidade de viajar para o Brasil, onde o clima podia favorecê-lo, chegando à sua nova pátria em 13 de junho de 1553, com menos de 20 anos de idade.
Ao mesmo tempo em que, com palavras inauditas encantava e atraía o povo, convertia os inimigos e pacificava adversários. Apesar do seu físico franzino, apresentava-se sempre com semblante alegre e afável, com força e coragem inabaláveis, para com tenacidade enfrentar os desafios que a missão lhe exigia.
Sempre dava demonstração de preocupação com as angústias, os sofrimentos e as necessidades da humanidade de seu tempo. A exemplo de Jesus, o Bom Pastor, ofereceu seus dons, talentos e a própria vida, desejoso de realizar na Igreja o projeto do Pai de plantar a semente do Evangelho em nossas terras, mostrando a ternura e a face amorosa de Deus, através do exercício da caridade, alimentada pela fé e pela esperança. Não procurava alienar as pessoas, mas, ao contrário, dizia que os cristãos teriam de viver o novo mandamento: “Que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amais uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 34-35). José de Anchieta faleceu aos 9 de junho 1597. O papa João Paulo II declarou-o bem-aventurado em 22 de junho 1980.
Suplicamos ao nosso bom Deus as graças necessárias para que nós, povo brasileiro, a exemplo do bem-aventurado José de Anchieta, que recebeu do Filho de Deus o dom maravilhoso da fé, convidando-o a aceitar a Boa Nova da salvação por ele anunciada e, ao mesmo tempo, a dar glória a Deus, numa atitude de que esta mesma fé é o distintivo do seguidor de Jesus de Nazaré, possamos viver a nossa fé e com esperança vos servir fielmente, tudo para a maior glória de Deus.


* Pe. Geovane Saraiva é sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, CE, Pároco da Paróquia Santo Afonso.

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