Padre Geovane Saraiva*
Concretamente, constamos esse tipo de procedimento,
com facilidade em nossas comunidades, que nos faz compreender as pessoas que
querem viver a sua vocação, de tal maneira, que desejam tomar como suas as palavras
de Cícero, na certeza de que no final virá receber a recompensa, promessa do
próprio Deus. É claro que as pessoas procuram tesouros de felicidade, bem estar
e realização. Agora, uma coisa é importante e necessária, ter clara consciência
do tesouro que está escondido, dentro de nós.
Quando afirmamos que a vida não foi em vão é porque
temos na mente a recompensa, que supõe o merecimento, frequente nas palavras e
ações de Jesus, ao falar da vida eterna como uma promessa, como uma dádiva do
Pai para os que nele professam sua fé. É um dom, que de alguma maneira é
preciso ser conquistado, tendo na mente e no coração o que disse Jesus:
"Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o
que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a
ele" (1Jo 3, 1-2)
Pessoas que vivem assim compreendem em profundidade o
Reino de Deus, na sua beleza e na sua preciosidade, como tão bem nos assegura o
Filho de Deus: "O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num
campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Depois, cheio de alegria, ele
vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo (Mt, 13, 44). Para vivermos
bem, na concórdia e em harmonia com Deus, com o mundo e com nossos semelhantes,
urge perseguir esse ideal, preenchendo nosso coração, sedento e ávido de
felicidade.
O Reino nos aponta para a eternidade. É tarefa nossa
fazer de tudo, mas de tudo mesmo para descobrir seu valor inigualável, maior
tesouro que podemos encontrar como aspiração mais profunda, porque nele está
nossa motivação e nossa razão pela qual somos capazes compreender e discernir o
relativo do absoluto, compreender os mistérios do Reino com dom gratuito.
São Mateus, no seu Evangelho, usa a expressão
"reino dos céus" mais de trinta vezes, querendo dizer, quase sempre:
"Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mt 3, 2).
Descobrir os mistérios do Reino significa ter mente, ouvidos e olhos abertos
para o novo, para o que ainda não conhecemos e que não devemos colocar nossas
seguranças e convicções, no nosso modo pensar e agir, como algo absoluto.
Quando depositamos confiança e expectativas nas pessoas, o risco de se
decepcionar é grande. Podemos pensar o Reino de Deus como um jardim. No jardim,
no dizer do Poeta Mário Quintana, "o segredo é não cuidar das borboletas,
mas sim do jardim, para que as borboletas venham até você". Por analogia,
segredo é cuidar do tesouro, um maravilhoso dom, que é o próprio Deus.
Penso que só assim é que haverá mais gente querendo
usar de seus dons e talentos, não para explorar seus semelhantes, mas usando-os
para fazer o bem, como uma esperança de ver seus sonhos utopias de um mundo
justo, terno e solidário transformado em realidade. Pensemos na célebre frase
do grande Santo Agostinho: "Meu coração está inquieta, enquanto em vós não
descansar", seguros de que não nascemos em vão.
*Pe. Geovane Saraiva, sacerdote da Arquidiocese de
Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado
Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
pegeovane@paroquiasantoafonso.org.br
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