Com a popularização das cirurgias plásticas, um novo desafio surge para Medicina: conscientizar os pacientes de que as correções físicas não resolvem todos os problemas emocionais. O médico, muitas vezes, tem que cumprir a difícil missão de dizer NÃO!
Esvaziar os pneuzinhos; aumentar os seios; dar adeus aos culotes; enxugar as gorduras dos braços, costas e coxas. Ufa! Ficar com o corpo perfeito parece até simples. A Medicina e suas revoluções conseguem ajustar quase qualquer imagem física. Esse fato, combinado com o imediatismo próprio da sociedade contemporânea, faz crescer a procura por cirurgias plásticas. A tendência, no entanto, exige um alerta: embora seja cada vez mais possível a construção do corpo esteticamente ideal, o paciente deve estar consciente dos riscos embutidos na decisão.
A busca pelo corpo perfeito, destaca Elizeu Lavor, especialista em Cirurgia Plástica e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – SBCP, não pode escravizar a pessoa até o ponto de ela simplificar o processo de escolha do profissional, optando apenas pelo preço do procedimento, ou fechar os olhos para os riscos que uma cirurgia acarreta. As cirurgias exigem do paciente discernimento para aceitar as limitações da intervenção e disciplina para seguir os cuidados pré e pós-operatórios.
“Deve-se não banalizar, e nesta simplificação expor-se a riscos desnecessários, com resultados nem sempre reparáveis. Com essa banalização, muitos pacientes procuram profissionais não qualificados, não buscam checar as qualificações profissionais dos mesmos, fazem pesquisa e optam pelo mais ‘barato’, submetendo-se a procedimentos de centro cirúrgico em simples consultórios/ clínicas destituídos de estrutura mínima para garantir a segurança”, alerta o médico.
O corpo ideal
Do ponto de vista comportamental, o corpo perfeito pode ser uma quimera. Qualquer conhecimento superficial de psicologia aponta que um problema enraizado na questão emocional não será solucionado com alterações físicas. Evidentemente que intervenções pontuais, quando bem realizadas, refletem positivamente na autoestima dos pacientes. Contudo, a busca incessante por um modelo idealizado não espelharia uma insatisfação profunda do ser humano consigo mesmo?
A cabeleireira Vitória Régia Alves de Sousa, 43 anos, revela que fez duas cirurgias plásticas em um mesmo procedimento. Após a segunda gestação, Vitória, mesmo com autoestima elevada, sentia-se insatisfeita com sua barriga. “Fiz abdominoplastia e lipo nas costas. A barriga me incomodava muito. Hoje me sinto muito melhor com meu corpo e ainda planejo colocar próteses de silicone nos seios”, afirma.
A cabeleireira, no entanto, é categórica quando pontua seu limite. “Colocando as próteses, ficarei satisfeita”, diz. Ela reconhece que as intervenções melhoraram sua relação com o corpo, porém, não pretende dar continuidade aos procedimentos cirúrgicos. “Nunca tive problema de me sentir feia ou algo assim. Apenas quis restaurar o corpo que eu tinha antes das gestações. Acredito que não há motivos para exageros”, completa.
Mas, quantas mulheres e até mesmo homens não estão presos a um ideal de beleza? Quantos não estão dispostos a enfrentar inúmeras cirurgias para construir esse arquétipo? É neste contexto que entra o bom senso do médico e o discernimento do paciente em escutá-lo e respeitar sua avaliação. “Alguns pacientes não enxergam com seriedade a situação”, adverte Dr. Elizeu.
A hora do não
A busca pela beleza não pode colocar a saúde em risco. O sinal amarelo, porém, representa um dos grandes desafios, hoje, para os profissionais especializados em cirurgias plásticas. Cabe ao médico, muitas vezes, a difícil missão de dizer NÃO.
A cirurgia plástica deve ser entendida como uma ramificação da Medicina importante por trazer, principalmente, benefícios psicológicos ao paciente. Contudo, o ajuste de imagem não significa, necessariamente, um novo amoldamento da imagem emocional.
Há um limite tênue entre melhorar a autoestima da pessoa e vender a ilusão de que tudo na sua vida vai mudar após um procedimento estético. “A definição de Saúde pela OMS define que ‘a saúde é um estado de completo bem-estar físico, psicológico e social, e não apenas ausência de doença’. Muitas vezes alterações físicas, mesmo quando apenas de caráter estético, podem causar perturbações psicológicas, que podem em todas as fases da vida comprometer o desenvolvimento pessoal, as interações sociais, amorosas e profissionais. E isso tudo não é ‘frescura’. Mas, há casos justificáveis e outros nem tanto”, explica Dr. Elizeu Lavor.
Fonte: Agência da Boa Notícia
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