13/10/2012

Temporada na estação do terror - e do riso

Ressuscitando monstros da literatura e do cinema, a animação "Hotel Transilvânia" é garantia de diversão
Hotel Transilvânia, 666, Umbria, Romênia. Este é o endereço que se lê no verso do convite enviado pelo Conde Drácula a todos os monstros que o aceitam e formam a galeria de personagens de "Hotel Transilvânia 3D" - em todos os multiplex da cidade. É o endereço da diversão.
 
Monstros clássicos do cinema e da literatura estrelam a animação

O castelo transformado em resort, cercado por uma floresta sombria, um pântano escuro e um sinistro cemitério, longe do conhecimento e olhares humanos, prepara-se para dar uma festa-monstro a seus convidados. Drácula, com seus 300 e tantos anos, celebra o aniversário da filha, Marvis, que está deixando a adolescência... Aos 118 anos.

O resort reserva 1.250 quartos, 950 deles destinados aos convidados. A boa notícia é que, ao pagarmos o ingresso para ingressarmos no "Hotel Transilvânia", também participamos, como espectadores, de uma das festas mais divertidas que Hollywood já criou.

Desde que George Lucas montou um grupo de extraterrestres tocando em uma banda chamada Max Rebo Band - em "O Retorno de Jedi" (1983, dirigida por Richard Marquand) - as figuras aterrorizantes não eram tão desmoralizadas. Na verdade, elas estão aí mesmo é para nos divertir, seja nos filmes de terror, seja na animação.

Sucesso popular

Não por menos, "Hotel Transilvânia" é um sucesso de público. O seu custo de US$ 85 milhões está sendo rapidamente reposto aos cofres da Sony/Columbia. Em apenas cinco dias, US$ 83,7 milhões foram deixados nas bilheterias dos EUA. Também em igual período, em 17 países, entre eles o Brasil, Austrália, Japão e México contabilizam US$ 30 milhões. No caso brasileiro, em apenas três dias do último final de semana, o filme visto por mais de 400 mil pessoas.

E qual o motivo do sucesso de "Hotel Transilvânia"? Inteligência e criatividade. Partindo de um argumento de Todd Dunham, Dan e Kevin Hageman, os roteiristas Peter Baynharm e Robert Smigel desenvolveram uma história na qual cinema e literatura se mesclam em dois gêneros: terror e comédia. Uma comédia com elementos de terror, para ser mais correto.

"Hotel Transilvânia" foi um dos primeiros projetos que aguardavam sair do papel com a criação da Sony Pictures Animation, o que ocorreu em 2002. Michelle Murdocca, produtora de "Stuart Little 2" (2002), uma das responsáveis pela estruturação do estúdio e produtora das animações que passaram a ser feitas a partir de 2006, disse que o projeto só ganhou desenvolvimento quando Adam Sandler assumiu o posto de produtor. Bem a tempo: Sandler passa um momento de flagrante decadência como ator.

O longa foi diregido por Genndy Tartakovsky, criador de animações como "O Laboratório de Dexter" (1993-2006) e "Samurai Jack" (2001-204). Seu grande mérito é trabalhar os personagens como se fossem figuras humanas com seus problemas característicos, como lidar os relacionamentos e os embates com os filhos, por exemplo.

Equilíbrio

Não há dúvida que a história trabalha muito bem os elementos dramáticos, colocando-os a serviço do riso. E esse elemento mais forte está na figura de Drácula, sempre prestes a perder a paciência, tem seus impulsos de agressividade - expressada em rápida ampliação de sua raiva -, mas logo em segundos retorna à normalidade.

É um vampiro consciente, não bebe sangue humano por estar com excesso de impurezas, como o colesterol, e procura passar a impressão de estar com o controle de si mesmo e sempre em equilíbrio. E essa humanidade de Drácula se expressa na relação com Marvis, da qual se mostra um pai superprotetor.

A história encanta porque expõe todos os seus personagens com muito carinho, sensatez e sensibilidade. Afinal, há um público infantil para o qual o filme se destina. E, neste contexto, Drácula surge como um vampiro definido como uma versão caricata, mas de uma doçura e serenidade exemplar no relacionamento com a filha, em uma flagrante demonstração de amor e carinho.

Esse vampiro com grandeza humana é o grande personagem de "Hotel Transilvânia". Lamentável que as cópias em exibição em Fortaleza sejam todas dubladas, impossibilitando que o público ouça a versão original, na qual Adam Sandler empresta a sua voz ao conde romeno. Afora os outros personagens, claro.

E, se afirmamos que carinho é a palavra de ordem da história, o grande exemplo é a sequência na qual os monstros adentram a cidade humana e são recebidos como ídolos. Vale ressaltar que a temática central do filme, as diferenças, encontra-se perfeitamente expressada em Paraíso, visto no cartão postal conservado por Drácula, o qual se revela o "resort do amor", o local onde todos os "diferentes" encontram os seus iguais para a vida em comum.

É nesse campo que o filme trafega do início ao fim. Não há bandidos ou vilões em "Hotel Transilvânia", apesar de Drácula, de certa forma, ser o bem intencionado e o canalha ao mesmo tempo. Predomina, portanto, as situações em prol do humor, generosamente aceito pela plateia.

Quando Jonathan, o jovem humano de 21 anos, aparece na festa monstro, é o diferente que Drácula trata logo de torná-lo igual a todos eles, fazendo-o passar por um monstro da família de Frankenstein. É o caos transformado em instrumento de ordenação do universo ali constituído.

Carinhoso e essencialmente romântico, o filme promove um "tchan" com o espectador. Oferecendo uma história enternecedora e profundamente divertida, não há como não se apaixonar por "Hotel Transilvânia". Um caso de amor à primeira vista.

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Diário do Nordeste

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