10/12/2012

Jornal do Brasil: a luz se apagou


A morte de Dalva de Oliveira. Jornal do Brasil: Quinta-feira, 31 de agosto de 1972.

A morte chegou para Dalva de Oliveira, 55 anos, no final da tarde de uma quarta-feira que estava fria e chuvosa, e após diversas hemorragias provocadas por varizes no esôfago. O velório da cantora aconteceu no Teatro João Caetano. Em fila e sem tumulto, mais de 2 mil pessoas aguardaram sua vez de chegar bem perto ao caixão para despedir-se da cantora. Seu corpo enterrado num jazigo perpétuo do Cemitério Jardim da Saudade, homenagem do Retiro dos Artistas.

Villa-Lobos a considerava a melhor cantora popular brasileira. Juscelino Kubitschek certa vez telefonou de Paris diretamente para o Hospotal Miguel Couto, onde ela estava internada após um acidente de trânsito. Uma espécie de Edith Piaf nacional, Dalva retirava da própria vida - marcada pela tragédia, a frustração amorosa e uma incrível capacidade de estar sempre recomeçando - a força da sua arte. Em nenhuma outra cantora brasileira os dizeres das canções guarda tanta intimidade com a história pessoal de sua intérprete.

Vicentina de Paula Oliveira nasceu no dia 5 de maio de 1917, em Rio Claro, interior paulista. Filha do saxofonista Mário de Oliveira, cresceu acompanhando o grupo musical do pai. Com a morte dele, foi para um orfanato, onde aprendeu piano, órgão e canto.
No final dos anos 20, seguiu para São Paulo com a mãe, e começou a trabalhar como faxineira numa escola de canto. Nas horas vagas, improvisava no piano. Descoberta, foi convidada a participar de uma turnê com o grupo de Antonio Zoveti. Em 1933, fez um teste de cantora na Rádio Mineira e adotou o nome de Dalva de Oliveira. Depois foi a vez de conquistar o Rio de Janeiro. Em 1935 já estava na Rádio Mayrink Veiga, em menos de um ano, já era sucesso estrondoroso nas rádios de todo o Brasil.

Num show de teatro ainda nos anos 30, conheceu o compositor Herivelto Martins, seu primeiro marido. Formaram um trio com Nilo Chagas, originalmente intitulado Dalva de Oliveira e a Dupla Petro e Branco. Mais tarde, ouvindo conselhos de um empresário musical, mudaram para Trio de Ouro. Durante os quase 15 anos que permaneceram juntos, mantiveram-se como um dos mais importantes conjuntos vocais da música popular brasileira.



Outras efemérides de 30 de agosto:

1961: Jornal do Brasil não circulou
1993: O massacre em Vigário Geral
1999: Timorenses votam pela independência

29 de agosto de 1982 - Morre Ingrid Bergman

Jornal do Brasil - Terça-feira, 31 de agosto de 1982 - Caderno B

Ingrid Bergman foi uma mulher que nunca desistiu. Morreu no dia que comemorava 67 anos de vida. Em sua biografia editada no Brasil com o título de A História de uma Vida – referiu-se com nobreza a tudo que fez, nos deixando um admirável exemplo de coragem, perseverança e amor a vida. Enfrentou o câncer por seis anos, trabalhando até o último ano de vida em uma superprodução para a televisão representando o papel do Golda Meir.

Alfred Hitchcock dizia que era capaz de se superar a cada filme pois vivia caminhando para a perfeição. Seu primeiro filme nos EUA em 1939 foi uma nova versão de Intermezzocom Leslie Howard. Conquistou definitivamente a América e todo o mundo com a história de amor Casablanca, hoje um clássico dos anos 40, que a transformou em uma campeã de bilheteria.

Em 1949 estava na Itália para filmar Stromolisob direção de Rosselini quando apaixonou-se por ele; uma união que causou muita polêmica. Ambos eram casados e abandonaram as respectivas famílias para ficarem juntos. Ingrid foi acusada de adúltera e de mau exemplo para as mulheres americanas pelo Senador do Colorado, Edwin C. Johnson, que subiu à tribuna para denunciar que “Ingrid Bergman cometeu uma afronta à instituição do casamento”, segundo ele era uma ‘cultivadora do amor livre’.

Passaram-se 15 anos em que ficou praticamente esquecida. Em 1956 estrelou Anastasia, uma superprodução da Fox que lhe rendeu um segundo Oscar e suas portas foram reabertas. Já estava separada de Rosselini quando seu nome foi levada à tribuna novamente em 1972, agora com o pedido de desculpas. O Senador Charles H. Percy falou: “Sr. Presidente, uma das mulheres mais encantadoras, graciosas e talentosas do mundo foi vítima de um duro ataque nesta casa há 22 anos. Gostaria, hoje, de render um tributo há muito devido a Ingrid Bergman, uma verdadeira estrela em todos os sentidos da palavra.”

Ingrid filmava com freqüência inclusive chegando a ganhar outro Oscar em Assassinato no Orient Express, também se descobriu no teatro e televisão.O câncer a surpreendeu em 1973 tendo um seio amputado em 1974 e outro em 1980.

Quarenta e cinco filmes, oito peças de teatro, quatro especiais para a televisão. Três Oscar, uma autobiografia. E a certeza de que não desistiria nunca.

Outras efemérides de 29 de agosto:

1975 - Morre o incansável De Valera
1975 - Juan Velasco é deposto no Peru

28 de agosto de 1996 - O adeus a Dulcina de Moraes

Dulcina de Moraes

"Dulcina foi uma pessoa importantíssima para o Teatro Brasileiro. Tinha um sentido de profissionalismo extraordinário". Paulo Autran

Morre Dulcina de Moraes. Jornal do Brasil: Quinta-feira, 29 de agosto de 1996

A atriz e educadora Dulcina de Moraes, 89 anos, morreu numa tarde de quarta-feira, no Hospital Regional da Asa Norte, em Brasília, onde estava internada tratando o pós-operatório de uma cirurgia de diverticulite.

Descendente de espanhóis, filha e neta de atores, Dulcina de Moraes Azevedo, nascida em 3 de fevereiro de 1908 em Valença, RJ, foi uma das mais importantes atrizes da dramaturgia brasileira do século 20.

A carreira artística começou cedo. Ainda era bebê quando fez suas primeiras encenações. Na década de 20, entrou para a companhia do Teatro de Leopoldo Fróes, maior expoente teatral do país na época. Extravagante e com uma inflexão vocal marcante, sempre teve presença cênica de estrela. Nos anos 30 e 40, era um referência de moda: os modelos que usava em cena eram copiados pelo público feminino. Com o marido Odilos Azevedo, formou uma famosa dupla de teatro e criou a Companhia Dulcina-Odilon. Na década de 50, criou a Fundação Brasileira de Teatro.

Um dos maiores sucessos de sua carreira foi quando atuou em Chuva, peça inspirada em uma história de Somerset Maugham em que viveu Sadie Thompson. Dulcina também interpretou Helena de TroiaCleopatraAnna Christie e a Marquesa de Santos.

Talento admirável, Dulcina deixou um legado para atores e público: Além de inúmeras peças em que atuou e dirigiu, foi exemplo de respeito, profissionalismo e amor pelo teatro. Uma representativa colaboração à história da dramaturgia brasileira.

Outras efemérides de 28 de agosto:


1963: 200 mil marcham pelos direitos civis nos EUA
1979: Sancionada a lei da anistia
1992: ABI e OAB recebem pedido de Impeachment de Collor

27 de agosto de 1965 - Morre Le Corbusier, um expoente da arquitetura moderna

Morre Le Corbusier. Jornal do Brasil: Sábado, 28 de agosto de 1965.

"A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz".
Le Corbusier

O arquiteto urbanista Le Corbusier, 79 anos, um dos expoentes da arquitetura moderna, morreu de um ataque cardíaco, quando nadava numa praia de Roquebrune, Cap Martin, na Riviera Francesa. Também poeta, pintor e escritor, recebeu homenagens póstumas em todo o mundo.

Le Corbusier, que nasceu Charles Edouard Jeanneret em 6 de outubro de 1887 na suiça La Chaux-de-Fonds, alcançou a fama trabalhando com o concreto, que lhe permitiu romper a tradição da pedra e do tijolo.

Antes de 1920, já estava preconizando o seu conceito original da casa aberta com terraço, dominada horizontalmente de lado a lado e montada sobre pilotis. Dentro deste conceito, construiu diversas residências por toda a França, antes de ser chamado para construir grandes conjuntos urbanísticos no exterior, como a Cidade Universitária do Rio de Janeiro e o Plano de Urbanização de Bogotá.

O pequeno livro que publicou em 1923, Em direção a uma Arquitetura, espantou muita gente. Era como se a arquitetura existente até então não merecesse o termo. Neste trabalho, definiu as bases do movimento moderno de características funcionalistas. A pesquisa que realizou envolvendo uma nova forma de enxergar a forma arquitetônica baseado nas necessidades humanas revolucionou a cultura arquitetônica mundial. Sua obra, negando características histórico-nacionalistas, abriu caminho para o que se chamaria de international style ou estilo internacional. A sua influência estendeu-se principalmente ao urbanismo.

Leia também:
6 de outubro de 1987 - O Centenário de Le Corbusier

Outras efemérides de 27 de agosto:

1974: O fim do cantor das desilusões de amor
1979: Terroristas matam Lorde Mountbatten
1999: O Brasil perde Dom Hélder Câmara

22 de agosto de 1981 - Morre Glauber Rocha

Morre Glauber Rocha. Jornal do Brasil: 23 de agosto de 1981


Exilado em Portugal desde o início da década de 70, Glauber Rocha, o maior cineasta que o Brasil já teve, voltou a seu país para morrer. Transferido já doente de Lisboa para uma clínica no Rio de Janeiro, com septicemia e choque bacteriano, Glauber resistiu três dias até que a morte o levasse de vez. “Um dos mais extraordinários, lúcidos e honestos intelectuais desse país”, escreveu o médico no atestado de óbito do Homem.

Controvertido, polêmico, considerado dos mais geniais cineastas brasileiros, Glauber foi, em seu funeral, protagonista também de um filme. Ele que procurou fazer da morte de Di Cavalcanti uma obra de arte, que revolucionou o cinema brasileiro, seria desta vez o tema de uma homenagem, registro indispensável decidido por cineastas e representantes da Embrafilme.


Gênio, louco, radical, apocalíptico, caótico, santo guerreiro ou dragão da maldade, Glauber parece ter sido um produto de suas contradições. Foi o mais importante nome da história do nosso cinema e reconhecia isso. Desde que Fritz Lang (Metrópolis, 1927) e Luis Buñuel (O cão Andaluz, 1928) reconheceram em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963) uma obra-prima ao nível das melhores já produzidas no mundo, nunca mais teve dúvidas de sua genialidade. Com Deus e o Diabo ganhou prêmio de melhor diretor em Cannes, no ano seguinte, por unanimidade.

Glauber Rocha na Redação do Jornal do Brasil. Carlos Wrede/CPDoc JB


Em Terra em Transe (1967), no entanto, Glauber recebeu críticas negativas ferrenhas dos intelectuais brasileiros, que acusaram-no de louco, mistificador ou irresponsável. Ali Glauber critica a conjuntura brasileira pré-golpe de 64, incluindo todos os que participaram, de alguma forma deste processo, incluindo camadas da esquerda brasileira.


Os senhores que antes me chamaram de gênio, agora me chamam de burro. Devolvo a genialidade e a burrice. Sou um intelectual subdesenvolvido como os senhores, mas, diante do cinema e da vida, tenho pelo menos coragem de proclamar minha perplexidade”, escreveu ele.

As críticas não contiveram o gênio. Logo depois, lançou Câncer, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, Cabeças Cortadas, todas obras-primas, premiadas, discutidas e reverenciadas por críticos e espectadores do mundo inteiro.

Confira também:
12 de maio de 1967 - Terra em Transe de Glauber conquista Cannes
26 de outubro de 1976 - A morte de "Di Cavalcanti di Glauber"
26 de maio de 1977 – Glauber ganha Prêmio Especial em Cannes

21 de agosto de 1989: Raul Seixas desperta do sonho da vida

Raul Seixas dizia que "ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida". Jornal do Brasil: 22 de agosto de 1989


Se o diabo é o pai do rock, Raul Seixas foi o ajudante que meteu a colher de pau no caldeirão do demo e ainda tascou-lhe uma mosca na sopa”.Jornal do Brasil

Antes de tornar-se o artista que subverteu a ordem do dia, caminhando na contramão da Tropicália e mesclando o rock de Elvis Presley com o baião de Luiz Gonzaga, Raul Seixas foi apenas Raulzito, o primeiro filho de Dona Maria Eugenia e do engenheiro Raul Varella Seixas. Nasceu às 8h da manhã do dia 28 de junho de 1945, na capital baiana - Salvador, onde, apesar da cultura predominante, apaixonou-se ainda jovem pelo rock n’roll. “Tudo era novo pra mim.Ouvia os discos de Elvis e Little Richard até estragar os sulcros. O rock era como uma chave que abria as minhas portas que viviam fechadas”, escreveria aos 15 anos em seu diário.

Com o amigo Thildo Gama, formou o grupo Os Relâmpagos do Rock, sua primeira banda e o embrião do conjunto Os Panteras, banda com a qual Raulzito gravou o seu primeiro disco, que foi um fracasso de vendas. A projeção nacional veio somente em 1972, com sua participação no Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, onde classificou duas canções:Let me sing e Eu Sou Eu Nicuri é o Diabo. Depois, lança o compacto Ouro de Tolo, que alcança grande sucesso, e conhece Paulo Coelho, formando uma parceria que atrairia uma multidão de fãs e renderia músicas que se tornaram clássicas, como Metamorfose AmbulanteMosca na SopaAl Capone, entre outras. Nos anos seguintes sua produção musical é constante, lançando diversos discos sucessos de público, como Novo Aeon(75), Há Dez Mil Anos Atrás (76), O Dia Em Que A Terra Parou (77). A partir de 1978, o consumo de álcool e drogas começa a causar-lhe problemas e o artista perde 1/3 do pâncreas. Em 1987 lança o estrondoso disco Uah bap lu lap béin bum e torna-se parceiro de Marcelo Nova, com quem grava seu último álbum, A Panela do Diabo, no ano de sua morte.

Legado vivo
Há exatos 22 anos, vítima de uma pancreatite aguda provocada pelo excesso de álcool, Raul Seixas foi encontrado morto em seu apartamento. Ao partir, deixou três filhas, milhares de fãs e uma obra que se estende por mais de 20 álbuns, além de seis póstumos, e diversos livros publicados. Sua capacidade de transmitir mensagens de impacto e abordar assuntos profundos de forma irreverente mantém sua obra relevante até hoje. A juventude atual lhe dedica um carinho saudoso, levando suas fotos e frases em camisetas, e lançando incontáveis covers seus em eventos e festas.

19 de agosto de 1936 - Federico Garcia Lorca é assassinado

O assassinato de Federico Garcia Lorca. Reprodução

"Na Espanha, os mortos são mais vivos que os mortos dos outros países do mundo". Federico Garcia Lorca

Após ser preso, vítima de denúncia anônima, o escritor e dramaturgo Federico Garcia Lorca, 37 anos, foi fuzilado, de costas, em alusão a sua homossexualidade, por soldados da tropa franquista, nos primeiros instantes da Guerra Espanhola (1936-1939). Seu corpo foi jogado num canto da Sierra Nevada. Como intelectual de vanguarda e de tendências homossexuais, Lorca era um inimigo natural de um regime autoritário numa Espanha católica. Com seu desaparecimento precoce, encerrava-se um período da cultura hispânica.

Mas ao contrário do que imaginaram seus executores ao silenciá-lo, o crime teve repercussão em todo o mundo. Lorca transformou-se em figura simbólica da opressão, suscitando diversas manifestações contra o regime, principalmente na classe intelectual.


Um dos maiores nomes da poesia e do teatro espanhol do século 20, Federico Garcia Lorca nasceu no dia 5 de junho de 1898 em Fuentes Vaqueros, província espanhola de Granada. Após uma infância marcada por seguidas doenças, estudou direito e literatura e, em Madri, tornou-se amigo íntimo de grandes artistas espanhóis como Salvador Dalí, Luis Buñuel e Rafael Alberti.

Com a publicação de Libro de Poemas (1921) despertou a atenção da crítica, que se rendeu definitivamente ao seu talento com o lançamento das Canciones Gitanas (1927). E com Romance Gitano (1928), considerada sua maior obra, Lorca entrou de vez para a galeria dos grandes nomes da literatura espanhola.

No início dos anos 30 fundou um grupo teatral universitário, que passou a dirigir e com o qual apresentou espetáculos como Bodas de Sangre(1933) eLa casa de Bernarda Alba(1936).

Até o dia de sua morte, Lorca produziu uma série de peças para o teatro e deixou uma vasta obra de poesias. Assim como aconteceu com muitos artistas, durante a ditadura de Franco, as obras de Lorca foram consideradas clandestinas na Espanha. E somente com a volta do país à democracia, receberia de seu país as devidas homenagens, tornando-se o mais notável dos poetas surgidos na geração de 27 e o maior autor espanhol desde Miguel de Cervantes.

Outras efemérides de 19 de agosto:

1934: Legitimada toda a Alemanha de Hitler
1949: O centenário de Joaquim Nabuco
1961: Jânio presta homenagem a Che Guevara
1976: Bomba explode na ABI

17 de agosto de 1987 - CIAO! Morre Carlos Drummond de Andrade

Morre Carlos Drummond de Andrade. Jornal do Brasil: Terça-fira, 18 de agosto de 1987.

E agora José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou”. Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade, 84 anos, o maior poeta brasileiro de seu tempo, morreu de insuficiência respiratória. Sua morte não surpreendeu seus amigos mais íntimos, que o viram muito abatido depois da morte de sua filha, doze dias antes. O câncer ósseo levou Maria Julieta e tirou do poeta a vontade de viver.

Um homem desiludido com o mundo. Injustamente rigoroso no julgamento da obra que produziu. Sentia descrença e desilusão. Lamentava que as novas gerações não tivessem mais os estímulos intelectuais que havia até os anos 40, 50. “Os tempos estão ruins. É um fenômeno universal, uma espécie de deterioração dos conceitos e do sentimento estético. Em qualquer país do mundo é a mesma porcaria. É a massificação dos meios de comunicação, tudo ficou igual no mundo inteiro”.

Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902, na mineira cidadezinha de Itabira. Começou a carreira como colaborador do Diário de Minas e, em 1925, fundou A Revista, veículo modernista mineiro. Funcionário público, foi para o Rio em 1934, e tornou-se chefe de gabinete do ministro de Educação Gustavo Capanema. Autor de diversas obras de poesia e prosa, sua obra narra a trajetória de um homem, de uma geração e de um país. Um homem que saiu do interior para a cidade grande. Envolveu-se nos conflitos de seu tempo e se quedou metafísico e retirado diante das coisas do mundo que o aborreceram.

Seus versos transmitem a emoção que sentia no momento em que escrevia, momento que poderia ser um parodoxo do que havia escrito antes. Tratam de temas metafísicos a fatos jornalísticos. Ele foi diametralmente oposto e talvez complementar. O cronista e o poeta. Foi politicamente comprometido, mas nunca aderiu a um partido. Certos poemas são profundamente religiosos, mas não acreditava em Deus. Gostava de ser amado mas abominava a celebridade. Como jornalista, escreveu na Tribuna de Imprensa e durante 15 anos, de 2 de outubro de 1969 até 29 de setembro de 1984, todas as terças, quintas e sábados, foi cronista do Jornal do Brasil. Foram 780 semanas da história do país e do poeta refletidas com agudeza e lirismo em mais de 2 mil e 300 crônicas. Nos deixando entre outras lembranças um poema,rotativo do acontecimento...

"...E é por admitir esta noção de velho, consciente e alegremente, que ele hoje se despede da crônica, sem se despedir do gosto de manejar a palavra escrita, sob outras modalidades, pois escrever é a sua doença vital, já agora sem periodicidade e com suave preguiça. Cede espaço aos mais novos e vai cultiva o seu jardim, pelo menos imaginário. Aos leitores, gratidão, essa palavra-tudo”. (trechos de CIAO, a última publicação no Jornal do Brasil. Para ler na íntegra, clique aqui!)

15 de agosto de 1969 - 1969: Festival de Woodstock: uma maratona cultural pelo amor e pela paz

Jornal do Brasil: 15 de agosto de 1989

Reprodução

O Festival de Woodstock foi o mais importante festival de rock and roll de sua época. Realizado em uma fazenda em Bethel, Nova Iorque, reuniu num final-de-semana mais de 400 mil pessoas, num espaço originalmente montado para receber 50 mil.

Marco do movimento da contracultura, naquela ocasião, promoveu grande polêmica, pelos propósitos levantados: os ideais paz e amor, defendendo o sexo livre e condenando a Guerra do Vietnã. Um protesto contra uma sociedade americana infestada pelo desejo de controle.

Foi o auge da era hippie.

A abertura do festival foi ao som de "High Flyin' Bird", pelas 12 cordas do violão de Richie Havens, que criou naquele palco "Freedom". Participaram, entre outros, Santana, Janis Joplin, The Who, Joe Cocker e Jimi Hendrix, finalizando com "Hey Joe".

Confira o resumo do Festival, pela cobertura do JBHippies encerram festival. e Continuação.

Em 1989, duas décadas após o Festival, uma segunda versão de Woodstock chegou a ser planejada por Joel Rosenman e John Roberts. Contudo, disputas por direitos autorais acabaram inviabilizando o evento. Somente em 1994, para comemorar 25 anos do superevento, 250 mil pessoas se reuniram no Woodstock 94, em Saugerties, a 135 km de Nova York. Pagaram 135 dólares para ouvir quarenta grupos de rock. A terceira edição ocorreu em 1999, registrando altos índices de violência. Foi última tentativa, fracassada, de reviver o mito de "paz e amor" do Woodstock original. Os ideais originais foram vencidos pelo vil metal.

14 de agosto de 1983 - Morre Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Athayde

Morre Alceu do Amoroso Lima. Jornal do Brasil: Segunda-feira, 15 de agosto de 1983

"Há ânsia de saber por parte das massas, mas se a universidade se abrir sem critério a essa ânsia, diminuiremos a capacidade de fazer cultura".
Alceu de Amoroso Lima

O escritor Alceu de Amoroso Lima morreu aos 90 anos. Alceu foi erudito, professor universitário, critico de idéias, ensaísta e líder social. Sua obra, que abrange um conjunto de 80 livros publicados, girou em torno de problemas religiosos, filosóficos, literários, jurídicos, econômicos, pedagógicos, sociais.

Nasceu no Cosme Velho, no Rio de Janeiro no dia 11 de dezembro de 1893, em plena Revolta da Armada.

Machado de Assis, que era seu vizinho, escreveu versos de ocasião para o seu batizado. Estudou as primeiras letras em casa, com um renovador da pedagogia, João Kopke. Entrou para a Faculdade de Direito pela faculdade do Rio de Janeiro em 1909, e em 1912 dirige a revista Época, à qual dá um cunho mais literário que jurídico. Diplomado em 1913, viaja pela quarta vez à Europa. Estava em Paris quando começou a guerra de 1914, e teve que retornar ao Brasil. Trabalhou então como advogado e como adido ao Itamarati, antes de assumir a direção jurídica de uma fábrica da sua família. Casou-se e do casamento nasceriam sete filhos, ao longo dos vinte anos.

A 17 de junho de 1919 nasceram juntos O Jornal e a crítica literária sob o pseudônimo Tristão de Athayde, o qual foi, ao longo da década de 20, intérprete do modernismo. Através do rodapé de crítica de Tristão de Athayde, várias gerações descobriram o valor da literatura e se orientaram a respeito de livros e autores. Conheceu Jackson de Figueiredo, pensador católico e fundador do Centro Dom Vital. Tornaram-se amigos e corresponderam-se por dez anos, até a morte prematura de Jackson em 1928.

Neste ano converteu-se ao catolicismo e tornou-se um dos mais respeitados paladinos da Igreja Católica no Brasil.

Liberal, critico e grande pensador

No exercício dessa crítica militante, ele nunca se prendeu a grupos ou a modismos.

Participou ativamente dos movimentos políticos e sociais dos anos 30. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1935.

Em 1941, participou da fundação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Publicou dezenas de livros sobre os temas mais variados. Presidente do Centro Dom Vital e diretor da revista de cultura A Ordem durante quarenta anos, quis dar ao catolicismo uma dimensão cultural e uma perspectiva de abertura e diálogo.

12 de agosto de 2011 - O centenário do mexicano Cantinflas

Cantinflas. Jornal do Brasil: Quinta-feira, 22 de abril de 1993


"Não faço filmes para confirmar angústias, mas para esquecê-las". A frase é do célebre comediante Mario Moreno, o idealizador do personagemCantinflas, considerado um dos maiores mitos do cinema mexicano que completaria hoje cem anos.

Cantinflas nasceu num circo e fez Mario enriquecer criando um estilo próprio de comicidade, baseado em personagens da vida real mexicana. Do picadeiro até a fama, o rapaz criado no distrito de Tacumba - o mais antigo e pobre da capital mexicana - percorreu muitos caminhos. De biscate em biscate, passando até pelo boxe, ele desembarcou finalmente no cinema, onde estreou na comédia Não te enganes, Coração (1936).

Mas foi com o filme Aí está o detalhe, que se tornou conhecido com suas calças caídas, o bigodinho fino e o vocabulário muito confuso, em que falava muito para não dizer absolutamente nada - “Cuánto inflas”. Mais tarde fundou a sua companhia cinematográfica, a Posa Filmes, tornando-se uma das figuras mais destacadas no cinema mexicano.

Cantinflas atuou em mais de 40 filmes. Entre os de maior sucesso estão a interpretação de Passepartout em A volta ao mundo em 80 dias (1961) e o papel principal em Pepê (1962), ambos filmados em Hollywood. Artista popular comparado a gênios como Charles Chaplin, que quando o conheceu pessoalmente não conteve sua admiração e respeito, elogiando-o como "O homem mais engraçado do mundo”.


Numa de suas milhares de entrevistas, Mario Moreno contou que aprendeu muito com Cantinflas: "Ele me ensinou que uma das tarefas mais difíceis na vida é comunicar-se com outras pessoas. Falo de uma verdadeira comunicação: conhecer, querer, respeitar". Isso, Mario Moreno conseguiu. E Cantinflas também. ) verbo “cantinflear” foi adotado pela Real Academia Espanhola da Língua, homenageando o saudoso artista.

Mario Moreno morreu aos 81 anos, vítima de câncer de pulmão.



Outras efemérides de 12 de agosto:
1964: O fim de James Bond
1978: China e Japão assinam Tratado de Amizade e Paz
1984: Tancredo é lançado candidato à Presidência
2000: Submarino russo afundou com 118 marinheiros

11 de agosto de 1966 - Os Beatles invadem a América

Beatles conquistam a América. Jornal do Brasil: Sexta-feira, 12 de agosto de 1966
Uma Terceira Guerra Mundial ou algo muito próximo disso... Era o que poderia se esperar dos milhares de fãs que seguiram ao aeroporto de Boston para recepcionar os Beatles, caso alguma coisa desse errado na chegada dos meninos de Liverpool em sua primeira passagem pelo país.

O avião desceu por volta de meio-dia (horário local) e uma histeria coletiva, orquestrada por minissaias e cartazes com declarações apaixonadas, inflamou no saguão quando o primeiro Beatle, Ringo Starr, apareceu. Em seguida surgiram George, Paul e John.

No mesmo dia, a banda seguiu para Chicago para dar início a uma turnê que percorria mais 13 cidades: Detroit, Cleveland, Washington, Philadelphia, Toronto, Boston, Memphis, Cincinnati, St. Louis, New York, Seattle, Los Angeles e San Francisco.
Bilhete. Reprodução


A turnê aconteceu em meio a uma tempestade de críticas sobre uma declaração de John Lennon ao comparar a popularidade dos Beatles a de Jesus Cristo. Mesmo perseguida por protestos de grupos religiosos e campanhas de incentivo para desmoralizar o grupo, a turnê já tinha instaurado um contágio por inúmeros sucessos do álbum Revolver. Lançado em cinco de agosto, já com um milhão de pedidos antecipados só na Inglaterra, o LP foi um grande sucesso de vendas e ficou sete semanas em primeiro lugar na Grã Bretanha e seis nos Estados Unidos, onde ficou 77 semanas nas paradas e vendeu dois milhões e meio de cópias.

Documentário histórico sobre a turnê americana dos Beatles em 1966


A turnê americana foi a mais lucrativa de todas. Porém, o cansaço das sucessivas apresentações, a grande histeria e os tumultuados acontecimentos daquela turnê, fizeram com que os Beatles, após mais de 450 concertos por dezenove países, desde outubro de 1962, no auge de sua popularidade, parassem de se apresentar ao vivo, apesar das inúmeras propostas que eles continuariam a receber de todo o mundo. No dia 10 de abril de 1970, Paul McCartney anunciou publicamente o fim do grupo.

The Beatles. Reprodução




Outras efemérides de 11 de agosto:
1908: Aberta a Exposição Nacional
1980: Índios do Xingu matam 11 operários
1986: Chega ao fim a Era Fusca

9 de agosto de 1975 - Morre o compositor russo Dimitri Shostakovitch

Morre o compositor russo Dimitri Shostakovitch. Jornal do Brasil: Segunda-feira, 11 de agosto de 1975.

O compositor soviético Dimitri Shostakovitch, 68 anos, morreu num sábado à noite, em Moscou. A notícia foi divulgada em primeira mão durante uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Boston. Num intervalo, o diretor musical da Orquestra Seiji Ozawa, veio ao palco para dizer que o regente convidado Mistilav Rostropovich, acabara de receber um telefonema de Moscou, noiticiando a morte de seu amigo. Após um minuto de silêncio, Rostropovich regeu a execução da V Sinfonia de Shotakovitch e ao terminá-la beijou a partitura retirando-se para os bastidores, de nde não voltou para receber os aplausos do público.

Mais tarde, uma nota oficial da Agência Tass informou que Shostakovitch morreu as 19h de Moscou, no Hospital Kuntsevo, onde se internara 10 dias antes com problemas cardíacos.


Dimitri Dimitrievich Shostakovitch, último sobrevivente da geração de grandes compositores russos surgidos com a Revolução, nasceu em São Petesburgo em 25 de setembro de 1906. Ingressou cedo na arte da música e aos 11 anos escreveu sua primeira composição. Dois anos mais tarde já estudava no Conservatório de Leningrado. A primeira sinfonia compôs aos 19 anos, regendo-a ele próprio no ano seguinte. Essa obra deu-lhe destaque internacional, sendo até hoje incluida no repertório das grandes orquestras.

Pouco depois, recebeu do Governo a encomenda de uma sinfonia para as celebrações da Revolução de Outubro. Era o início de uma carreira de músico oficial, marcada, não obstante, por uma impressionante alternancia de honrarias e críticas por vezes ferozes, principalmente vindas de Stalin.

Homem tímido e retraído, propenso a roer unhas, Shostakovitch continuou a viver recatadamente, apesar de ter-se tornado uma glória nacional. Politicamente, defendia a tese de que, apesar das divergências e dificuldades, "todo artista soviético devia sempre considerar-se um combatente pelo comunismo".

O músico estava doente há muitos anos. Em 1966 sofreu um infarto. Dois anos depois, foi substituído no cargo de diretor da União dos Compositores Soviéticos. Teve que deixar de tocar piano e a partir de 1970 começou a andar apoioado numa bengala, em consequência de uma doença que lhe comprometeu a firmeza as pernas. Mesmo assim, conseguiu estrear com imenso sucesso, em 1972, s sua XV Sinfonia. Com essa obra retomava o trabalho estritamente instrumental, abandonado 18 anos antes.

Além das 15 sinfonias consideradas como a parte essencial de sua obra, Shostakovitch compôs três óperas (uma das quais, O Nariz, inspirada em um famoso conto de Gogol), música para ballet, trilhas sonoras de filmes, vários concertos para piano e outros instrumentos, 24 prelúdios e fugas para piano, duas sonatas para piano, música de camara (destacando-se oito quartetos para cordas) e várias canções.

Em sua formação, SHostakovitch sofreu influências as mais diversas - de Beethoven a Tebaikovsky, de Strauss a Mahler, de Glazunov a Prokofiev - o que, junto com as dificuldades políticas que repetidamente enfrentou, explica de certa forma a desigualdade de sua produção, onde conforme têm observado muitos críticos, encontra-se, às vezes na mesma composição, o que há de melhor e pior na música contemporânea russa.


Outras efemérides de 9 de agosto:
1945: Bomba atômica arrasa Nagasaki
1965: Cingapura se torna independente
1969: Sharon Tate é morta pela Família Manson
1997: Morre Betinho, a voz da cidadania

7 de agosto de 1992 - Caetano Veloso aos 50

Caetano faz 50 anos. Jornal do Brasil: Sexta-feira, 7 de agosto de 1992.

"Hoje, 7 de agosto, dia de São Caetano no calendário católico, dona Canô Veloso cumprirá, religiosamente, um ritual de quase meio século. Vai à missa no convento de Nossa Senhora dos Humildes, em Santo Amaro da Purificação. Desta vez, a motivação é especial: a celebração dos 50 anos de seu filho mais ilustre, o cantor, compositor, poeta e cineasta Caetano Veloso. 'Minha maior alegria é ver Caetano chegar a esta idade. Uns a gente não vê nem crescer, mas, hoje, Caetano chega aos 50', diz dona Canô, a mãe que passou para os oito filhos, entre outros carinhos, o prazer de cantar". (Jornal do Brasil) 

Uma das figuras mais importantes da música popular brasileira, Caetano Emunuel Viana Teles Veloso, quinto dos oito filhos de José Teles Velloso (Seu Zezinho) e Claudionor Viana Teles Velloso (Dona Canô), nasceu em Santo Amaro da Purificação, Bahia, em 1942. No início da década de 60 sua família se muda para Salvador e, sob a influência da Bossa Nova de João Gilberto, Caetano começa a tocar em bares e boates. Seu primeiro trabalho profissional vem em 1965, quando acompanha a irmã Maria Bethânia, chamada ao Rio de Janeiro para substituir Nara Leão no show Opinião, e lança seu primeiro compacto. Em 1968 produz seu primeiro LP individual, intitulado Caetano Veloso, e que trás as canções Alegria, AlegriaNo dia em que vim-me emboraTropicáliaSoy Loco por ti América, algumas das quais se tornaram hinos da juventude do momento. No mesmo ano, com os amigos Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé, funda o movimento Tropicalista que, através da irreverência e da improvisação, revolucionaria a MPB, fundindo elementos estrangeiros com a música brasileira. Com É Proibido Proibir, participa do 3º Festival Internacional da Canção (Tv Globo), e realiza um discurso histórico contra a platéia e o júri que o vaiam e o desclassificam do festival.

Crítico e politicamente enjagado, Caetano ganhou a inimizade do regime militar e teve diversas de suas músicas censuradas, acabando preso em 1968, junto do amigo Gilberto Gil. No ano seguinte, ambos são soltos e partem para o exílio na Inglaterra. Caetano retorna definitivamente ao Brasil em 1972, participa do álbum Brasil, de João Gilberto, e faz diversos shows em cidades brasileiras. No ano de 1976 forma o grupo Doces Bárbaros com Gil, Gal e Bethânia, grava um LP e parte em turnê pelo país. Nas décadas seguintes, continua a lançar discos incorpando cada vez mais uma obra reverenciada e revisitada por diversos artista.

Aos 69 anos, e mais polêmico do que nunca, Caetano trabalha em Zii & Zie, com um dos maiores talentos da nova geração, Maria Gadu.

Vida longa a Caetano, para que o público continue a Caetanear o que há de bom.

4 de agosto de 1994 - Morre o acadêmico Cyro dos Anjos

Jornal do Brasil, 5 de agosto de 1994.

"Para uso meu, particular, penso que certos sentimentos serão eternos, embora só se alastrem de modo cíclico, por ondas. Não duvido que o amor paixão, que de tão longe vem, acompanhe sempre o homem, mesmo quando a humanidade mude de planeta e carregue a sua trouxa pelo Cosmos". Cyro dos Anjos

O escritor Cyro dos Anjos, 88 anos, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) morreu no fim da madrugada de um xx em sua residência, devido a uma parada cardio-respiratória.Deixou uma curta e consistente obra - três romances, várias crônicas e volumes de memórias. Professor da Oficina de Letras da UFRJ, trabalhou até 1992, quando um derrame o obrigou a interromper suas atividades. No ano anterior, com a morte de sa esposa Lilita, disse ter perdido a razão de viver, confessando que não via a hora de novamente encontrar-se com ela.

Seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista no mesmo dia, na presença de grande número de acadêmicos, entre eles Josué Montello - então presidente da ABL, Evaristo Moraes, Nélida Piñon, Barbosa Lima Sobrinho e Eduardo Portela. O escritor deixou seis filhos e 14 netos.

Cyro Versiani dos Anjos, mineiro de Rio Claro, nasceu em 5 de outubro de 1906. Foi na adolescência que deixou sua cidade natal e seguiu para Belo Horizonte, onde iniciou o curso de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais ainda nos anos 20. Enquanto estudava, viveu a primeira experiência profissional como escriturário. Mas logo foi contagiado pela paixão da imprensa. Desde então, passou a conciliar as duas atividades. Escreveu nos principais títulos da imprensa mineira - Diário da Tarde, Diário do Comércio, Diário da Manhã e Diário de Minas. Nesta época, conheceu Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura e João Alphonsus, a geração literária do Bar da Estrela. Formou-se em 1932, assumindo um cargo no gabinete do Secretario de Finanças de Minas Gerais onde atuou até 1945, quando mudou-se para o Rio, começando uma nova fase em sua vida.

Na então capital, foi nomeado em 1957 sub-chefe da Casa Civil da Presidência da República e em 1960, ministro do tribunal de Contas. Com a transferência da capital para Brasília, para lá também seguiu, sendo um dos fundadores da universidade federal.

Na literatura, sua primeira publicação foi o romance O amanuense Belmiro(1937), com uma calorosa acolhida do público. A obra foi construída das anotações de um diário, o autor se mostra de inteligência aguda e coração lírico. O estilo harmonioso e tranquilo, revela a grande influência machadiana. O segundo romance Abdias (1945) não teve a mesma projeção do primeiro. A retomada veio com o terceiro Montanha (1956), definido por Otto Maria Carpeaux:" Um exemplo de técnica literária inteiramente renovada, revelando as grandes qualidades do escritor.

Eleito para a ABL em 1º de abril de 1969, na cadeira de número 24, deixada por Manuel Bandeira, foi empossado no dia 21 de outubro, sendo recebdio por Aurélio BUarque de Holanda, que fez uma bela análise de sua obra ficcional. Niguém como Cyro descreveu as sutilezas dos grupos que existiam na Belo Horizonte entre os anos 30 e 50.

2 de agosto de 2011: Morre Ítalo Rossi, uma maneira especial de falar

Morre Ítalo Rossi

"Não me arrependo que fiz. E sim do que não fiz".
Ítalo Rossi (1931-2011)

A dramaturgia brasileira perdeu um de seus maiores talentos, o ator Ítalo Rossi, 80 anos, plena dedicação em mais de seis décadas ao teatro brasileiro. As primeiras notícias vieram por intermédio de seu sobrinho, Humberto Rossi. O ator estava internado há dois dias no Hospital Copa D'Or, no Rio de Janeiro, e morreu por volta das 16h desta terça-feira, dia 2 de agosto de 2011, de complicações respiratórias.

A escola foi o palco, e nele, o botucatuense Ítalo Balbo Di Fratti Coppola Rossi, nascido em 19 de janeiro de 1931, adquiriu a grande experiência da dramaturgia, sempre renovada num novo começar. Foram inúmeros prêmios acumulados, em incessantes anos de trabalho intenso e com a satisfação íntima de estar realizando o que sempre quis. Não se intitulava saudosista, mas sempre recordava boas histórias, atitude natural de quem as colecionou aos montes.

Suas primeiras atuações aconteceram no Teatro das Segundas-Feiras. Vieram depois o Teatro de Vanguarda e o Teatro Brasileiro de Comédia, TBC e a fundação do Teatro dos Sete, um de suas mais célebres experiências, onde também integrou o elenco ao lado de Fernanda Montenegro, Sergio Brito, entre outros. Trabalho ao qual fez a seguinte referência:"Relembrando hoje o que fiz durante oito anos no Teatro dos Sete, concluo que não havia apenas uma excelente comunicação com o público. Havia, antes de tudo, uma boa comunicação entre nós. Com o público a gente se comunicava por inteiro. Tenho saudades, mas não sou nostálgico".

Definitivamente um ator amadurecido, sua interpretação colheu a admiração dos críticos e do público. Soube como poucos usar na dose certa voz e corpo, traçando o perfil da personagem com precisa personalidade. Foi irônico, arrogante, intrigante, franco, inteligente, misterioso, comovente. Foi o que sua atuação precisava ser, impulsionado pela intensidade com que se entregava à dramaturgia e magnetizava o espectador.

É Mara!
Foi num papel cômico que Ítalo Rossi atuou pela última vez na TV. Interpretando Seu Ladir, no sitcom semanal Toma lá, dá cá, da Rede Globo. Caiu no gosto popular com sua interpretação. Mas principalmente por sua infinita capacidade de inovar. "Levo comigo a melhor das lembranças porque Ladir, além de engraçado, é um cara muito humano. E ainda lançou a gíria que todo mundo está usando: ‘mara’. Onde eu vou, alguém usa. Peço sanduíche, e o sanduíche é ‘mara’. Compro um sorvete e vendedor me diz que é ‘mara’


No final de 2010, Ítalo Rossi lançou Isso é tudo, da Coleção Aplauso, comemorando 60 anos de carreira.

Bravo, Italo! Foi Mara!

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