03/01/2013

Jovens congoleses fogem da guerra


Os nomes são fictícios por questões de segurança mas a história de vida dos três jovens congoleses revela consequências bem reais de uma guerra que tem vindo a alastrar no leste da República Democrática do Congo (RDC). Marc, Philippe e Georges fugiram para o Ruanda, para escaparem ao recrutamento das forças rebeldes. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) recolheu os seus testemunhos para dar a conhecer um drama que afeta milhares de jovens na província do Kivu: o medo de serem obrigados a lutar num conflito interminável. 

Assolada por combates violentos entre as tropas do governo e os rebeldes do Movimento 23 de março (M23), a região do Kivu Norte transformou-se num campo de batalha e numa zona propícia ao surgimento de outros grupos armados, como é o caso da milícia Mai Mai. Para reforçarem as suas fileiras, os insurgentes deslocam-se às povoações e obrigam os jovens a pegar em armas e a participar nos confrontos. A solução, para muitos deles, passa por deixarem as famílias e procurarem proteção do outro lado da fronteira, em locais como o centro de trânsito de Nyakabande, do ACNUR. 

Marc foi um dos que optou por fugir. O jovem foi informado pelo diretor da escola que um dos grupos rebeldes planeava sequestrar estudantes do sexo masculino e decidiu partir. «Estava com medo e fugi. Nem sequer fui a casa», contou aos elementos do ACNUR, acrescentando que fez uma parte do caminho de motorizada e outra a pé (mais de 20 quilómetros), até chegar ao centro de refugiados. 

Philippe enfrentou a mesma situação. «Eles registam todos os jovens. Depois, convocam uma reunião na cidade e forçam os jovens presentes a entrarem no grupo», relatou o adolescente, que partiu para o Uganda logo que soube que um desses encontros foi marcado na sua zona. Georges fugiu ao mesmo tempo. «O chefe era meu amigo e disse-me que a reunião era destinada ao recrutamento, que eu tinha sido registado e que era melhor fugir», explicou. 

O jovem levou uma semana a chegar à fronteira, porque se perdia e escondia constantemente. «O meu medo era o recrutamento forçado. Eu andava, dormia no mato e tentava esconder-me. Mendigava e comia cana-de-açúcar», recordou Georges, lamentando que alguns de seus amigos tenham sido levados pelos rebeldes. Nos últimos meses, o centro de Nyakabande tem recebido mais de uma centenas de pessoas por dia. Segundo os responsáveis do ACNUR, quase 10 por cento diz ter fugido com medo do recrutamento forçado.


Fátima Missionária

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