O músico Bruno Goyanna afirma que, em Fortaleza, são muitas as festas de rua que solicitam trabalho de última hora FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Se o Carnaval é sinônimo de festa para muita gente, para outros, porém, o feriado significa muito trabalho e renda extra garantida. Seja alugando a própria casa, preparando e vendendo comida para quem está festejando ou entretendo os foliões. Há quem abra mão da própria diversão ou de dias de folga para garantir a festa alheia.
A proprietária de restaurante Cláudia Leal, por exemplo, sai da sua casa - localizada na subida da Serra de Baturité, há seis quilômetros de Guaramiranga - para alugar nas altas temporadas. "Eu fecho meu quarto e alugo para grupos de amigos e famílias. A casa é toda mobiliada, tem piscina, churrasqueira. Ela fica toda organizada para receber as pessoas e eu ainda deixo jogos, garrafão de água, carvão, botijão de gás", comenta.
O pianista Rafael Maia vai aproveitar o feriado para trabalhar, com apresentações no Aterrinho da Praia de Iracema e no Ideal Clube. Em três dias, ele deve faturar mais de R$ 1.000 FOTO: FABIANE DE PAULA
Segundo ela, o aluguel para o Carnaval foi acertado em novembro do ano passado por conta da grande procura. Os quatro dias saíram por R$ 3 mil, mesmo valor para quem fica em feriados como Semana Santa, Natal e Réveillon. Já nos finais de semana comuns, ela diz que aluga por R$ 800. Apesar de não ter as tradicionais festas, a região atrai turistas, nesta época, sobretudo pelo Festival de Jazz e Blues que ocorre na Serra.
"Eu normalmente não conto com esse dinheiro, porque eu já cheguei a não alugar. É um dinheiro extra", ressalta. Próximo à casa, ela diz que mantém o trabalho tanto em um restaurante próprio, como na produção de doces e venda de plantas - atividades que acabam atraindo quem está de passagem.
Festa de rua
Já a dona de casa Maria das Dores Carneiro, mais conhecida como Dôra, participa, pela primeira vez, do Carnaval de rua da Praça da Gentilândia vendendo comida e bebida. Com a ajuda do filho e do sobrinho, Dôra comercializa sanduíche, cachorro quente, água mineral, refrigerante e cerveja em lata.
A ideia de vender em festas de rua começou no ano passado, no São João do bairro Monte Castelo. Desde então, os investimentos só aumentam. Neste ano, por exemplo, ela também comercializou alimentos no pré-carnaval do bairro. De acordo com Dôra, em cerca de quatro horas é possível arrecadar até R$ 400, sendo cerca de 50% de lucro desse total. Por isso, ela diz acreditar que este feriado será mais rentável.
Música
Por não ser muito "fã" de mela-mela e outras manifestações próprias da época, o pianista Rafael Maia vai trabalhar por todo o feriado. Ontem, ele acompanhou a cantora Nayra Costa no Aterrinho da Praia de Iracema. Hoje, a apresentação será no restaurante do Ideal Clube - onde também se apresentou na sexta-feira. Somando as três apresentações - que duram entre uma hora e duas horas e meia -, Rafael vai faturar mais de R$ 1.000. "Dinheiro muito bem vindo", afirma o músico.
Amanhã e terça-feira, ele diz que vai ficar em casa, elaborando composições para outro evento. "Como eu faço o que gosto, diferente daquela pessoa que trabalha por obrigação, acho que trabalhar fica bem mais fácil", comenta Rafael.
Também pensando em tirar um dinheiro extra, o músico Bruno Goyanna fica em Fortaleza para trabalhar tocando cavaquinho nas festas de rua da cidade. "De última hora sempre aparece. A cidade não para mais no Carnaval. Tem alguns blocos que vão sair e, quando um músico viaja, eles chamam pra substituir", comenta.
Disponibilidade
Uma apresentação de três horas dele custa em torno de R$ 150. A ideia, segundo Bruno, é ficar disponível para as possibilidades. De acordo com ele, tocar, mesmo sendo a trabalho, também proporciona diversão.
"Não sou muito de festas cheias e de badalação, mas me divirto tocando, com meus amigos e vendo as pessoas se divertindo com a música", diz. O repertório, já bem conhecido pelo músico, fica entre o samba e as marchinhas de Carnaval.
Eventos impulsionam a demanda
No município de Guaramiranga, os restaurantes localizados na praça de alimentação recebem eventos do Festival de Jazz e Blues. Para os empresários locais, apesar do trabalho em dobro, receber turistas é motivo de satisfação FOTO: CHICO GADELHA
Com um aumento de 40% no faturamento em relação aos finais de semana normais, o empreendedor Franzé Leal, proprietário de dois restaurantes na cidade de Guaramiranga, diz que foi preciso ampliar o quadro de funcionários para atender a demanda do Carnaval.
Foram contratados, ao todo, 20 empregados - dez em cada negócio - por conta do maior número de turistas atraídos pelo Festival de Jazz e Blues, que ocorre na região.
"O evento aumenta o fluxo e nós criamos uma estrutura para que se tenha atendimento de qualidade. Ampliamos na aquisição de produtos, matérias primas e no quadro de funcionários", afirma Franzé.
Devido à movimentação na cidade, ele diz que o funcionamento passa a ser das 10 horas às 3 horas. O trabalho, voltado para atender o turismo na região, vem desde os primeiros anos do festival.
Início
À época, relembra, eram poucos os restaurantes da cidade. Antes de conseguir comprar os dois negócios, as vendas eram realizadas em uma barraca, que era montada próxima ao local do evento. O mesmo ocorria no período do festival de teatro que ocorre por lá. "Desde o início, prestamos alguns serviços para a empresa realizadora do evento. Eles têm uma relação legal com a cidade e aproveitam bastante a mão de obra local", afirma. Porém, ele diz que ainda há dificuldade em encontrar pessoal capacitado. Como Franzé nunca tem folga no período, a opção é tirar férias na baixa estação. Contudo, para ele, isso é motivo de orgulho e satisfação.
Sem folgas
"Nós que trabalhamos com a área de serviço e de turismo não temos direito a folgar em feriados prolongados. É uma questão de doação. É trabalho para quem gosta de receber, ter contato com o cliente e abrir novas relações. Fico muito satisfeito com tudo isso", comenta. (GR)
GABRIELA RAMOSREPÓRTER
Diário do Nordeste
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