Sob olhares externos, eles têm a vida dos sonhos. Visitam os destinos mais cobiçados e exóticos ao redor do mundo, têm como rotina aquilo que a maioria só costuma fazer nas férias e (ainda por cima) recebem salários para estar na estrada. O UOL Viagem conversou com alguns desses viajantes que têm no currículo a prazerosa experiência de aliar, ao mesmo tempo, trabalho e viagens.
O que se vê diante da tela pode até encantar os que acompanham do lado de cá, mas a rotina dos profissionais da televisão que fizeram do mundo seu escritório exige certos esforços que nem sempre são vistos pelo público.
“É um trabalho dos sonhos, mas o que muita gente esquece de levar em conta é que a viagem envolve dificuldades como alimentação, hospedagens de baixa qualidade, cidades sem infraestrutura e risco de vida”, descreve André Fran, um dos quatro integrantes do "Não Conta Lá em Casa", programa do Canal Multishow conhecido por visitar destinos de riscos como Iraque, Irã, Coreia do Norte e o Egito pós-Primavera Árabe.
Fran, que lança em abril um livro com os bastidores do programa ("Não Conta Lá em Casa - Uma Viagem Pelos Destinos Mais Polêmicos do Mundo", editora Record), relembra os momentos tensos que tiveram quando desembarcaram para gravar alguns episódios do programa no Iraque, em 2009. Aquele conflituoso país do Oriente Médio ainda voltava à sua normalidade e pouco a pouco turistas estrangeiros davam as caras, novamente. “A situação era de total instabilidade e violência, atentados a toda hora e nenhum acesso a pontos turísticos”, relembra Fran.
Com sexta temporada prevista para o segundo semestre de 2013, o programa reúne quatro antigos amigos que transformaram em programa de televisão seu projeto de vida de “fazer uma diferença positiva no mundo” como os episódios em que desembarcaram no Japão vinte dias depois do tsunami que arrasou o país, em março de 2011.
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Luís Nachbin durante gravação do programa "Passagem Para", em Bogotá, na Colômbia
Ao contrário do que se imagina, o cotidiano desses profissionais em constante viagem nem sempre segue o mesmo ritmo dos viajantes comuns. Na maioria das vezes, é impossível desconectar-se do trabalho, mesmo diante de cenários como paraísos naturais em destinos exóticos.
“Posso desligar a câmera, mas não a mente. Estou sempre com um caderninho e uma caneta no bolso, anotando informações ou construindo as minhas reflexões”, descreve Luís Nachbin, jornalista que desde julho de 1997 já percorreu 68 países em busca de histórias que foram transformadas em episódios para programas como 'Passagem Para' e, mais recentemente, o 'Entre Fronteiras', ambos veiculados pelo canal educativo Futura.
E quem tem alma de viajante (e experiência de jornalista) é sempre bom deixar o equipamento em casa ou sair com câmeras amadoras ao viajar com a família. “Uma vez resolvi levar um tripé e um microfone e, em plenas férias, me vi estudando enquadramentos, pensando nos planos e vislumbrando entrevistas em potencial. Um desastre”, completa.
Assim como o quarteto do "Não Conta Lá em Casa", Nachbin também cruza fronteiras em busca de boas histórias em destinos imperfeitos. Foi em uma viagem ao Irã que o jornalista mudou sua visão sobre o destino. “Eu fazia uma imagem sombria do país, mas comecei a perceber que o mundo sob o véu pode ser mais ou menos feliz que o mundo de biquíni”, conta Nachbin relembrando o cotidiano a que teve acesso na companhia de sua guia local.
“No meu caso, conhecer outras culturas não é passear por museus e jantar em bons restaurantes. É conhecer o modo de vida, o cotidiano de uma pessoa e conviver também com as suas dificuldades”, conta esse jornalista radicado no Rio de Janeiro que costuma viajar sozinho.
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Para Didi Wagner, apresentadora do programa "Lugar Incomum", Nova York é uma cidade que presenteia seus moradores com histórias incomuns
Didi Wagner, ex-VJ da MTV e, atualmente, apresentadora do "Lugar Incomum" do Canal Multishow, transformou sua experiência pessoal em grandes centros urbanos em um programa cuja pauta são histórias, endereços e pessoas que mereçam destaque. E assim o público viaja com curiosidades que vão além das atrações mais óbvias como um (improvável) encontro com um grupo de carnaval turco que toca samba brasileiro em Istambul, na Turquia, ou a visita a uma comunidade alternativa com moradores que moram em trailers, em Berlim.
Didi também não tem tempo para atividades de lazer durante as viagens. “O cronograma é tão apertado que eu uso o tempo livre para descansar e me recuperar para mais um dia de gravação”, explica Didi. Ainda assim, a apresentadora considera que seu trabalho garante experiências que compensam a pesada rotina diária nas ruas. “A gente roda tanto em cada cidade para captar as pautas, que eu sempre volto com a sensação de ter conhecido bem aquele lugar”.
O programa, cujo próximo destino ainda é mantido em segredo pela produção e deverá ser anunciado para a imprensa em maio, é um exemplo em que a vida pessoal vira trabalho. A ideia de transformar a busca por experiências inusitadas em grandes cidades começou quando Didi morava em Nova York e decidiu criar junto à direção do canal um programa em que pudesse dar dicas que fossem além dos atrativos turísticos mais comuns.
“A viagem pode ser também onde você mora, só depende da maneira como se encaram as coisas”, recomenda essa apresentadora que tem no passaporte passagens por cidades como Berlim, Londres, Roma e Barcelona.
Uns saem a trabalho com velhos amigos, outros preferem o discrição das viagens solitárias. Mas tem gente que ganha o mundo com a família inteira. A cinegrafista Fabiana Nigol e seu marido Pato, surfista profissional, viajam juntos há sete temporadas com a filha Isabelle para produzir episódios do programa "Nalu pelo Mundo", também do canal Multishow, e que teve estreia de nova temporada no início de abril.
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A cinegrafista Fabiana Nigol, o surfista profissional Pato e a pequena Isabelle fazem parte da equipe do programa "Nalu Pelo Mundo"
Na bagagem dessa 'família tralha', como eles mesmos se auto declararam, são seis câmeras, dois tripés, computadores e HDs externos, dez pranchas de surfe e roupas para mergulho. Eis a bagagem que acompanha a família em viagens a destinos distantes e exóticos como as Ilhas Fiji, Tahiti, China, Austrália e o Havaí. “Parece que estamos sempre de mudança. Já nos acostumamos a pagar excesso de bagagem nos aeroportos”, brinca Fabiana.
O programa e a família são movidos pelo balanço do mar e pelas ondas perfeitas. Por isso, antes de fechar as malas para o destino seguinte, a equipe tem como desafio a escolha dos locais de acordo com a temporada de ondas (um dos enfoques do programa) e a pesquisa de pré-produção com atrações que sejam interessantes também para a pequena Isabelle. “O destino sempre agrada à família inteira, quando um integrante não está feliz, pensamos em algo melhor”, explica Fabiana.
Porém nem sempre dias de sol e ondulações perfeitas dão as caras. No Caribe, Fabiana e Pato tiveram alguns dos momentos mais difíceis de toda a história do programa. “Com a falta de ondas, o Pato não estava feliz e não conhecíamos ninguém”, lembra Fabiana.
Com um passaporte de dar inveja a qualquer família brasileira, a equipe se prepara para outro desafio: a educação à distância da filha Isabelle Nalu. Aos seis anos, é hora de Belinha, como é conhecida, começar a frequentar uma escola de forma mais regular e a nova temporada tem como enfoque a tentativa de levar uma vida com rotina e horários fixos.
“Nesta temporada no Havaí, Belinha passou quatro meses estudando e agora daremos continuidade ao ensino dela com o método homeschooling, onde a criança aprende em casa”, explica Fabiana.
O cotidiano de todos esses profissionais do trabalho dos sonhos exige esforços, mas pelo visto o mundo deve seguir sendo o escritório de cada um deles nos próximos anos.
UOL Viagem
- Luís Nachbin durante gravação do programa "Passagem Para", em Bogotá, na Colômbia
- Para Didi Wagner, apresentadora do programa "Lugar Incomum", Nova York é uma cidade que presenteia seus moradores com histórias incomuns
- A cinegrafista Fabiana Nigol, o surfista profissional Pato e a pequena Isabelle fazem parte da equipe do programa "Nalu Pelo Mundo"
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