29/04/2013

Google e Samsung: um casamento em crise?


PRESTÍGIO Consumidores testam o Galaxy S4, novo smartphone da Samsung, no lançamento. Com marketing bilionário e bons aparelhos, a marca assumiu a liderança no mercado de celulares (Foto: Michael Nagle/Bloomberg/Getty Images)O ano passado foi o melhor na história da Samsung em celulares. Ela virou a maior fabricante, posto ocupado pela Nokia por 14 anos, e conquistou prestígio com o Galaxy S3, aparelho mais vendido no mundo, considerado por muitos o melhor. Para manter o sucesso, a Samsung lançou no mês passado o Galaxy S4, num show milionário em Nova York. Durante uma hora, atores exibiram em meio a cenários elaborados as inovações do S4. Ele pausa vídeos por conta própria, quando seu dono desvia o olhar da tela, e pode ser controlado sem os dedos. Ao fim do evento, poucos notaram, mas duas palavras não foram citadas: Google e Android.

A ausência é relevante, porque o Google desenvolveu o sistema Android, que dá vida aos Galaxy e à Samsung. O Google deu à Samsung um sistema à altura do iOS, usado no iPhone. A Sam­sung deu ao Google bons aparelhos para competir com a Apple. A união levou à ascensão da Samsung. E do Android, que representou 70% dos smartphones vendidos em 2012 e alçou o Google à liderança do mercado de telefonia. O casamento, porém, está em crise. Enquanto a Samsung prospera, os lucros do Google caem (leia o gráfico).


A desconfiança começou em 2011, quando o Google comprou a divisão de celulares da Motorola, que detém muitas patentes de telefonia. O negócio protegeu o Google contra acusações de plágio na área. Mas tem outros motivos, segundo uma reportagem do The Wall Street Journal (WSJ). Para analistas, o crescimento da Samsung tem gerado desconforto no comando do Google, e a aquisição é uma apólice de seguro contra isso.

O Google começou a encomendar aparelhos a fabricantes há três anos, com a linha Nexus. Desde então, já lançou quatro smartphones da série. Dois deles com a Samsung. O modelo mais recente, o Nexus 4, lançado em março no Brasil, foi feito pelo Google com a LG, principal concorrente da Samsung na Coreia do Sul. “É uma forma de o Google ajudar uma fabricante a desenvolver melhor o Android. Quando faz um Nexus, ela tem acesso a mais conhecimento sobre o programa para usar melhor seus recursos”, diz Hugo Barra, vice-presidente global do Android.


O Android foi criado para impedir que Apple ou Microsoft dominassem o setor. O objetivo foi atingido, mas até hoje o Google não ganha muito dinheiro com ele. A receita, entre 2008 e 2011, é estimada em US$ 550 milhões. Em 2011, o Google faturou US$ 37,9 bilhões com todos os seus negócios. O Android ainda resultou na dominância da Samsung, que hoje vende 40% dos aparelhos com o sistema. Desde o início de 2012, ela lucra mais com tablets e smartphones do que todo o Google. Ainda segundo o WSJ, o Google receia que a Samsung possa querer uma fatia maior das receitas do Android. O diretor financeiro da Samsung, Patrick Pichette, desmentiu a reportagem e afirmou que o relacionamento com os coreanos é “fenomenal”. Barra diz que “o sucesso da Samsung faz bem para o Android”. O Google ainda afirma que a Motorola não terá privilégios em novas versões do sistema. Mas, segundo blogueiros como o americano Taylor Wimberly, o Google desenvolve uma série de Nexus com a Motorola. Algumas fotos já circulam na rede.

O Google criou o sistema que dá vida aos celulares da Samsung.
E ela ficou com os lucros 
A Samsung não está disposta a esperar para ver se isso é verdade. No ano passado, aumentou seu investimento num novo sistema, o Tizen. Lançará um smart­phone com ele no próximo semestre. Enquanto isso, afasta rumores de crise. “Gostamos do Android e continuaremos nossa relação com o Google”, disse o diretor de aparelhos móveis da Samsung, J.K. Shin. É verdade que a aposta no Tizen não é anormal. A Samsung faz aparelhos com outros sistemas, como o Windows, da Microsoft. Nenhum teve o sucesso do Android. O Tizen seria sua chance, caso rompa com o Google.

A separação parece improvável, mas não impossível. Ela não abalaria as empresas, dizem analistas. A Samsung tem um ótimo relacionamento com operadoras e criou um portfólio variado de aparelhos. Ainda investiu em marketing (em 2012, foram US$ 12 bilhões) e virou, segundo a consultoria Brand Keys, a marca com mais clientes fiéis nos Estados Unidos. “A Samsung credita o sucesso não ao Android, mas a seus produtos”, diz Horace Dediu, da consultoria Asymco. “Provavelmente está certa. Senão, as pessoas comprariam o Android mais barato, sem ver a marca. Não é o que acontece.” O Google também viveria sem a Samsung. Ele não depende do Android para faturar com tablets e smartphones. Os programas de mapas e buscas do Google, que geram receita de anúncios, estão disponíveis em outros sistemas. Se a Samsung priorizar o Tizen, o Google faturará com ele.


“O Google sabe que criou um monstro que, em algum momento, terá vida própria”, diz o analista Jeff Orr, da consultoria ABI Research. “Mas seus outros parceiros adorariam assumir o posto da Samsung.” Grandes fabricantes como LG ou a trinca chinesa Huawei, ZTE e Lenovo (que já estão entre os cinco maiores vendedores de smartphones do mundo) se beneficiariam. Como se diz no amor: a fila anda. 

A Samsung assumiu a maior fatia do mercado (Foto: reprodução/Revista ÉPOCA)
Revista Época

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