Há cerca de dois meses, quando os cadeirantes da Associação Carioca de Deficientes Físicos, Acadef, decidiram participar da Via Sacra da Jornada Mundial da Juventude, nesta sexta-feira (26), não imaginavam que seriam pessoalmente abençoados pelo Papa Francisco.
A equipe do G1 acompanhou os bastidores dos preparativos para a exibição para o pontífice na nona estação, que representava o momento quando Jesus Cristo cai pela terceira vez durante o calvário.
Ao chegarem na Avenida Atlântica, às 15h30, os participantes estavam calmos e falavam tranquilamente sobre o momento no qual se exibiriam para o pontífice.
O presidente da Acadef, Fernando Amaro, que também participou do evento, contou que todos os participantes são jogadores de basquete e isso seria o diferencial para a exibição. “A equipe, quando nos procurou, explicou que precisava de cadeirantes ágeis e com habilidade na cadeira de rodas, porque iriam subir rampas e encenar.”
Apesar da chuva que caiu sobre o Rio de Janeiro nos últimos dias ter atrapalhado o único ensaio, todos estavam seguros.
Evento mostra a importância da inclusão
O aposentado Josué Conceição, que é evangélico, afirma que recebeu o convite com alegria e observa que a participação do grupo simboliza um avanço dos deficientes na sociedade. “Eu acho que um evento desta magnitude é importante para a gente estar dentro da sociedade, recebendo o Papa. É um privilégio estar aqui.”
Ele completa lembrando os avanços para a categoria. “Nós, cadeirantes, tivemos uma época em que era muito difícil ter acessibilidade. Ainda falta muita coisa, mas a gente vê um progresso. Acho importante este evento, onde podemos ser vistos representando a classe dos deficientes.”
Participaram da apresentação teatral sete cadeirantes. Originalmente seriam oito, mas um deles não conseguiu passar pelos bloqueios no trânsito e pelo grande fluxo de pessoas e, por isso, não chegou a tempo de subir ao palco.
A encenação também contou com outros atores amadores vestidos de motoqueiros e a atriz Luana Mitchell, que faz parte do elenco da novela Saramandaia, ficou emocionada ao passar pela multidão que se aglomerava para ver a Via Sacra. Ela afirma que a simplicidade do pontífice era responsável pela comoção. “Ele é um Papa muito querido.”
Ator reproduz obra de Aleijadinho
O ator Mário Cardona, passou por uma longa sessão de maquiagem para ficar com o rosto e o corpo completamente pintados de marrom, reproduzindo uma imagem de madeira de Aleijadinho. Apesar de ser experiente em atuar, acredita que encenar diante do líder da Igreja é especial. “Eu já fiz Jesus em Nova Jerusalém mas, com a presença do Papa é uma demonstração difícil de definir em palavras.”
A tranquilidade dos primeiros momentos começou a dar lugar a ansiedade quando, às 17h12, o Papa Francisco chegou ao Forte de Copacabana. Todos ficaram mais agitados, circulavam inquietos pela área dos bastidores e observavam a multidão eufórica do lado de fora das grades.
Às 18h28, todos se colocaram diante a estação para ver a passagem do pontífice, que seguia dentro do Papamóvel pela Avenida Atlântica, em direção ao palco principal do evento. Às 18h40, o Papa Francisco surpreendeu a todos ao descer do veículo e caminhar até o grupo. Ele apertou as mãos de todos e abençoou os terços que alguns levavam. As lágrimas tomaram conta da maior parte dos rostos.
Ainda se recuperando da emoção, a estudante Luana Valente tentou explicar o gesto do Papa Francisco. “Acredito que o Papa fez isso porque é um ato de carinho e ele é uma pessoa muito simples. Eu acredito que, se ele pudesse, abençoaria cada um pessoalmente.”
A apresentação, que aconteceu às 18h40, transcorreu sem problemas. Ao final, todos estavam convencidos de que tinham vivido um dia especial.
Amaro conta que se emocionou mais do que imaginava. “Principalmente quando eu peguei a mão do papa e dei um beijo. Ele tem uma energia muito positiva.”
O trocador Carlos Henrique resumiu o sentimento de todos que participaram: “Eu vou guardar isso pelo resto da minha vida.”
Affonso Andrade e Cristina BoeckelDo G1 Rio
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