Psicólogo alerta para as consequências individuais e coletivas do atual modelo de sociedade, baseado na busca da felicidade por meio do consumo.
Consumismo: riscos ambientais, sociais e individuais.
Por Alexandre Vaz
Repórter Dom Total
Uma das principais características da sociedade contemporânea, o consumismo é motivo de preocupação de diversos setores da sociedade. Desde o Poder Público e entidades civis ligadas à proteção do meio ambiente, que temem pelos reflexos do consumo desenfreado de bens e serviços sobre o equilíbrio ambiental, até psicólogos, educadores e cientistas sociais que se dedicam a estudar os efeitos do excesso de apego aos bens materiais sobre o desenvolvimento individual e social das pessoas.
Para muitos estudiosos, estaríamos diante de uma geração que está deixando de prezar por valores básicos da convivência social, como solidariedade, fraternidade e ética, em detrimento de outros mais próximos da lógica de produção capitalista, como a competitividade, o individualismo, o sucesso e a valorização dos bens de consumo. Como muitos costumam dizer, o “ter” parece estar se tornando mais importante que o “ser”.
O psicólogo, pesquisador e professor da PUC Minas, Bruno Vasconcelos de Almeida, mestre e doutor em Psicologia Clínica pela PUC de São Paulo, alerta para os efeitos que o estímulo excessivo pelo consumo de bens e serviços pode gerar no indivíduo.
"Em primeiro lugar é preciso distinguir consumo e consumismo. O consumo é prática humana ao longo da história, tanto pode ser bom como ruim, os homens sempre consumiram água, alimentos e objetos. Já o consumismo, há um certo consenso sobre isso, diz respeito ao excesso de consumo na sociedade atual. De certa forma, ele é a regra, em especial nos últimos 30 anos", explica.
Desde que foi eleito como novo pontífice, o papa Francisco vem reiteradamente chamando a atenção do mundo para os perigos que a falta de valores que o modelo social atual vem provocando nas pessoas, principalmente os mais jovens. Recentemente no Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, o Santo Padre conclamou os jovens a combater "o veneno do vazio". Na ocasião, Francisco ressaltou "o absurdo de basear a própria felicidade nas possessões materiais”.
O psicólogo Bruno Vasconcelos de Almeida também aponta alguns problemas que o excesso de consumismo pode trazer tanto na esfera individual quanto coletiva das pessoas. “A centralidade de valores nos bens materiais acaba retirando importância de outras esferas da vida e os efeitos disso são preocupantes. Toda a vida atual, individual e social, está afetada pelo consumo, tal como está, acarretando desde a supressão do tempo individual, a hipervalorização do objeto, a perda de sentido, entre outros aspectos”, ressalta.
Efeitos negativos
Entre os efeitos negativos, o psicólogo lembra a questão do sentimento de insatisfação que o excesso de consumo pode gerar nas pessoas, gerando um ciclo vicioso entre a sensação de vazio e a necessidade de consumir algo imediatamente. “O consumismo vale-se da dinâmica satisfação-insatisfação, alimentando a relação infinita com o objeto, o serviço, ou a experiência de consumo”.
Para alterar a atual lógica de produção e consumo, o psicólogo aponta diversos caminhos, como a discussão de políticas públicas que estimulem o indivíduo a explorar outros aspectos da vida. Ele alerta para insustentabilidade do atual modelo social. “As consequências do aumento do consumismo dizem respeito à própria questão da sustentabilidade planetária. Consumir, etimologicamente falando, significa gastar até o fim, exaurir, extinguir. O consumo parece sinalizar a extinção daquilo que é consumido, pelo menos quanto aos recursos básicos”, lembra.
Revista Dom Total
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